Santa Ceia
Por João Calvino
Temos neste sacramento uma comprovação tão sólida de todas estas coisas, que devemos estar certos e seguros de que realmente nos são exibidas não diferentemente do que se o próprio Cristo presente se nos deparasse ante nossa visão e fosse tocado por nossas mãos. Ora, esta palavra não nos pode mentir nem enganar: “Tomai, comei, bebei: este é meu corpo, que é entregue por vós; este é meu sangue que é derramado para remissão dos pecados” [Mt 26.26-28].
Ao ordenar tomar, significa que é nosso; ao mandar comer, significa que se faz uma só substância conosco; ao declarar que em relação ao corpo foi entregue por nós, em relação ao sangue foi derramado por nós, nisso ensina que ambos eram não tanto seus quanto nossos, porque a um e outro não só tomou, mas também entregou, não para seu próprio proveito, mas para nossa salvação.
E de fato deve-se observar, diligentemente, que a principal e quase total energia do sacramento se situou nestas palavras: “que é entregue por vós”, e “que é derramado por vós”. Doutra sorte, não nos seria grandemente de proveito que o corpo e o sangue do Senhor sejam agora distribuídos, a menos que fossem uma vez oferecidos para nossa redenção e salvação. Assim sendo, são representados sob a forma de pão e vinho, para que aprendamos não só que são nossos, mas também que nos foram destinados para alimento da vida espiritual.
De antemão já chamamos a atenção para o seguinte: que somos conduzidos das coisas corpóreas que se apresentam no sacramento, por meio de certa analogia, às coisas espirituais. Assim, quando o pão nos é dado como símbolo do corpo de Cristo, imediatamente se deve imaginar esta similitude: como o pão nutre, sustenta, conserva a vida de nosso corpo, assim o corpo de Cristo é o alimento único para revigorar e vivificar a alma. Quando vemos o vinho proposto como símbolo do sangue, deve-se ter em mente quais benefícios o vinho traz ao corpo, para que reflitamos que os mesmos nos são espiritualmente conferidos pelo sangue de Cristo, a saber, alimentar, restaurar, fortalecer, alegrar. Ora, se ponderarmos bem qual o proveito que nos conferiu a entrega deste corpo sacrossanto, qual a efusão do sangue, certamente haveremos de perceber não obscuramente que, segundo analogia desse gênero, estes atributos do pão e do vinho se harmonizam perfeitamente com o que temos afirmado.
A SANTA CEIA É SELO DA PROMESSA DE QUE CRISTO NOS É O PÃO DA VIDA
Portanto, a função principal do sacramento não é simplesmente, e sem a mais elevada consideração, apresentar-nos o corpo de Cristo, mas, antes, selar e confirmar aquela promessa, promessa essa, repito, pela qual atesta ser sua carne verdadeiramente alimento; e seu sangue, verdadeiramente bebida [Jo 6.55, 56]; com os quais somos nutridos para a vida eterna [Jo 6.54]; pela qual se afirma o pão da vida; do qual quem houver comido viverá para sempre [Jo 6.48, 50]; e para que isso se faça, o sacramento nos retrocede à cruz de Cristo, onde essa promessa foi verdadeiramente realizada e em todos os aspectos, cumprida. Ora, não nos alimentamos correta e salvificamente de Cristo a não ser crucificado, quando apreendemos em vivo senso a eficácia de sua morte. Porque ele se proclamou o pão da vida, não em virtude do sacramento, como muitos viciosamente o interpretam, mas, ao contrário, porque ele nos foi dado como tal pelo Pai, e como tal se nos mostrou quando se fez participante de nossa mortalidade humana, e nos fez participantes de sua imortalidade divina; quando, oferecendo-se em sacrifício, em si levou nossa maldição, para que nos inundasse de sua bênção: quando, por sua morte, tragou e aniquilou a morte; quando, em sua ressurreição, alcançou glória e incorrupção para esta nossa carne corruptível da qual se revestira.
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