Escravos de Sua Própria Carne
Por John MacArthur
Nós ainda somos "de carne", e portanto nosso corpo físico se deteriora e morre. O micróbio da morte habita em nós. Por causa da maldição do pecado, começamos a morrer logo que nascemos.
Para os cristãos, entretanto, há mais para esta vida terrena do que a morte: "Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça" (Rm 8.10). Em outras palavras, o corpo do homem está sujeito à morte (já está morrendo) por causa do pecado, mas o espírito do crente está vivo em Cristo. A vida eterna é a nossa possessão presente. Embora o corpo esteja morrendo, o espírito já está dotado de incorruptibilidade.
Aqui a palavra "corpo" se refere claramente ao corpo físico (não o princípio da carne), e a expressão "morte" fala da morte física. Perceba que os versos 10 e 11 usam a palavra "corpo" (soma) em vez de "carne" (sarx) — palavra que Paulo usou nos nove primeiros versículos. Dessa maneira, ao contrastar "corpo" com "espírito", ele não deixa dúvidas quanto ao seu significado. No versículo 10, o "espírito" é vida, refere-se ao espírito humano, à parte espiritual do nosso ser. O corpo pode estar morrendo por causa do pecado, mas o espírito do crente está totalmente vivo e progredindo por "causa da justiça" — porque somos justificados e portanto já "passamos da morte para a vida" (Jo 5.24). Aqui Paulo está simplesmente dizendo o que também disse aos Coríntios: "Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia" (2Co 4.16).
De fato o Espírito que habita em nós também promete "vida para nosso corpo mortal" numa ressurreição futura com o corpo glorificado (Rm 8.11).
O que Paulo quer dizer é que o corpo, sem o Espírito de Deus, não tem futuro. Está sujeito à morte. Portanto, não temos obrigação em relação ao lado mortal do nosso ser: "Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis" (Rm 8.12, 13). Aqui Paulo usa a palavra sarx ("carne") no sentido de "princípio pecaminoso" — e a compara com "os feitos do corpo". Se você vive de acordo com a carne — se vive em resposta aos impulsos pecaminosos — você "deve morrer".
Paulo está mais uma vez traçando os pontos de distinção, tão clara-mente quanto possível, entre os cristãos e não-cristãos. De forma nenhuma ele está alertando os crentes quanto ao perigo de perda da salvação se viverem segundo a carne. Ele já mostrou que o verdadeiro cristão não vive e nem pode viver segundo o princípio do pecado (vs. 4-9). Além disso, Paulo iniciou o capítulo 8 com a afirmação "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (8.1). Ele terminará o capítulo com a promessa de que nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (vs. 38,39). Um alerta sobre a possibilidade de queda contradiria o propósito da sua carta.
Paulo simplesmente estava reiterando o que disse por diversas vezes em suas epístolas no Novo Testamento — que aqueles que têm vida e coração totalmente carnais não são verdadeiros cristãos. Eles já estão mortos espiritualmente (v. 6) e, a não ser que se arrependam, estão condenados à morte eterna. Enquanto isso, a vida deles na terra é um tipo de servidão horrorosa ao pecado. São escravos da sua própria carne, constrangidos a suprir seus desejos sensuais.
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