O Principal dos Pecadores

 
Por João Calvino
 
Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.
Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (I Tim 1.16,17)
 
“Para que, em mim, o principal dos pecadores..., evidenciasse Jesus Cristo toda a sua longanimidade”. Ao dizer, “o principal” [primo], aqui, Paulo está uma vez mais dizendo que ele é o principal dos pecadores, de modo que o termo tem o mesmo sentido de principalmente, ou acima de todos. Ele quer dizer que desde o início Deus exibiu este exemplo de sua graça para que a mesma fosse contemplada clara e amplamente, de modo tal que ninguém alimentasse dúvida de que o único modo de se obter o perdão é indo a Cristo pela fé. Toda a nossa falta de confiança é removida quando vemos em Paulo um tipo visível daquela graça que buscamos.
 
“Ora, ao Rei eterno”. Seu entusiasmo prorrompe nesta exclamação, já que não lhe era possível encontrar palavras adequadas para expressar sua gratidão. Essas explosões súbitas brotam de Paulo principalmente quando a imensidão do tema o subjuga e o faz interromper o que estava dizendo. Pois o que haveria de mais grandioso do que a conversão de Paulo? Ao mesmo tempo, ele admoesta a todos nós, à luz de seu exemplo pessoal, para que jamais visualizemos a graça demonstrada no chamamento divino sem mergulharmos em extasiante admiração. Esse sublime louvor dirigido à graça de Deus absorve toda a memória de sua vida anterior.
 
“Incorruptível, invisível, o Deus único”. Que infinita amplidão é a glória de Deus! Os atributos aqui atribuídos a Deus, ainda que sempre lhe pertencessem, não obstante se adequam perfeitamente bem ao presente contexto. Ele denomina Deus de eterno, ou Rei das eras, o qual jamais muda (incorruptível). Denomina-o de invisível, visto que ele habita em luz inacessível, como o expressa por último, ou seja: o Deus único, o único sábio, visto que ele considera insensatez, e condena como vaidade, toda a sabedoria humana. Tudo isso se harmoniza com sua conclusão em Romanos 11.33: "Oh profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!" Seu intuito é levar-nos a contemplar a imensa e incompreensível sabedoria de Deus com uma reverência tal que, caso suas obras inundem nossas mentes, devemos ainda sentir-nos arrebatados pela perplexidade.
 
Há certa dúvida se com o termo “único” ele quis reivindicar toda a glória exclusivamente para Deus ou intitulá-lo único sábio ou único Deus. O segundo sentido parece-me o melhor, pois se adequa bem ao seu presente tema, pondo em realce como o entendimento humano deve curvar-se diante do conselho secreto de Deus. Não que eu negue que o apóstolo esteja dizendo que Deus é o único digno de toda glória; pois, enquanto ele espalha fagulhas de sua glória diante de suas criaturas, ela ainda permanece sua em toda a plenitude e inteireza. Ambas as interpretações, porém, evidenciam plenamente que não há glória real senão em Deus.

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 11/08/2014
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