Paradoxo, Mistério e Contradição

 
Por  R. C. Sproul
 
Mt 13.11; Mt 16.25; Rm 16.25-27; 1Co 2.7; 1Co 14.33
 
A influência de vários movimentos em nossa cultura, tais como a Nova Era, as religiões orientais e a filosofia irracional tem provocado uma crise no entendimento. Um nova forma de misticismos tem surgido, a qual exalta o absurdo como a marca registrada da verdade religiosa. Lembremo-nos da máxima do Zen Budismo, de que "Deus é uma mão batendo palmas" como uma ilustração desse padrão.
 
Dizer que Deus é uma mão batendo palmas tem uma ressonância profunda. Tal afirmação confunde a mente consciente, pois é um golpe nos padrões normais de pensamentos. Soa "profundo" e intrigante, até analisarmos cuidadosamente e descobrimos que a raiz é simplesmente destituída de sentido.
 
A irracionalidade é um tipo de caos mental. Fundamenta-se na confusão que se opõe ao Autor de toda a verdade, e que não é de forma alguma autor de confusão.
 
O cristianismo bíblico é vulnerável a tais correntes de irracionalidade exaltada, porque irracionalidade admite recondidamente que existem muitos paradoxos e mistérios na própria Bíblia. Existem linhas que separam o paradoxo, o mistério e a contradição; embora sejam tênues, essas linhas divisórias são cruciais e é importante que aprendamos a distingui-las.
 
Quando tentamos perscrutar as profundezas de Deus, somos facilmente confundidos. Nenhum mortal pode compreender a Deus exaustivamente. A Bíblia revela coisas sobre Deus que sabemos serem verdadeiras, a despeito da nossa capacidade de entendê-las completamente. Não temos um ponto de referência humano para entender, por exemplo, um ser que é três em termos de pessoa, mas um só em essência ( a Trindade ), ou um ser que é uma pessoa com duas naturezas distintas, humana e divina ( a pessoa de Cristo). Essas verdades, tão certas, como são, são "elevadas" demais para podermos compreendê-las.
 
Encontramos problemas similares no mundo natural. Sabemos que a força da gravidade existe, mas não a entendemos e nem tentamos defini-la como irracional ou contraditória. A maioria das pessoas concorda que o movimento é uma parte integrante da realidade, embora a essência do movimento em si tenha deixado filósofos e cientistas perplexos por milênios. Há muito mistério sobre a realidade e muitas coisas que não entendemos. Isso, porém, não justifica um salto absurdo. A irracionalidade é fatal tanto para a religião como para a ciência. De fato, ela é mortal para qualquer verdade.
 
O filósofo cristão Gordon H. Clark certa vez definiu um paradoxo como "uma caimbra entre as orelhas". Seu comentário espirituoso destina-se a destacar que aquilo que às vezes é chamado de paradoxo frequentemente nada mais é do que preguiça mental. Clark, entretanto, reconhecia claramente o papel legítimo e a função do paradoxo. A palavra paradoxo vem de uma raiz grega que significa "parecer ou aparentar". Paradoxos são difíceis de entender porque à primeira vista "parecem" contradições, mas quando são sujeitos a um exame minucioso, frequentemente pode-se encontrar as soluções. Por exemplo, Jesus disse: Quem perde a vida por minha causa acha-la-á (Mt 10.39). Aparentemente, isso soa semelhante à declaração de que "Deus é uma mão batendo palmas". Soa como uma contradição. O que Jesus queria dizer, contudo, é que se alguém perde sua vida em um sentido, irá encontrá-la em outro sentido. Já que a perda e a salvação têm sentidos diferentes, não há contradições. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não no mesmo relacionamento com a mesma pessoa.
 
O termo paradoxo é frequentemente mal-interpretado como sendo sinônimo de contradição; agora, inclusive, aparece em alguns dicionários como um significado secundário desse termo. Uma contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não-contradição. A Lei da não-contradição declara que A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não pode ser o que é e não ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais fundamental de todas as leis da lógica.
 
Ninguém pode entender uma contradição, porque uma contradição é inerentemente incompreensível. Nem mesmo Deus pode entender contradições; entretanto, certamente ele pode reconhecê-las pelo que são - falsidades.
 
A palavra contradição vem do Latim - "falar contra" - às vezes é chamada uma antinomia, que significa "contra a lei". Para Deus, falar em contradições seria ser intelectualmente anormal, falar com língua bipartida. Até mesmo insinuar que o autor da verdade poderia cair em contradição seria um grande insulto e uma blasfêmia irresponsável. A contradição é a arma do mentiroso - o pai da mentira, que despreza a verdade.
 
Existe uma relação entre mistério e contradição, que facilmente nos leva a confundir ambos. Não entendemos mistérios. Não podemos entender contradições. O ponto de contato entre ambos os conceitos é seu caráter ininteligível.
 
Os mistérios podem não ser claros para nós agora simplesmente porque nos falta a informação ou a perspectiva para entendê-los. A Bíblia promete que no céu teremos mais luz sobre os mistérios que agora não podemos entender. Mais luz pode resolver os atuais mistérios. Não existe, entretanto, luz suficiente nem no céu nem na Terra para resolver uma óbvia contradição.
 
Paradoxo é uma contradição aparente que, quando examinada com mais cuidado, pode apresentar uma solução.
 
Mistério é algo desconhecido para nós no presente, mas que pode ser solucionado.
Contradição é uma violação da Lei da não-contradição. É impossível ser resolvida, tanto pelos mortais como pelo próprio Deus, tanto neste mundo como no mundo vindouro.
R. C. Sproul
Enviado por Silvio Dutra Alves em 07/08/2014
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