Glorificação 

 
Por Jonathan Edwards
 
Os santos irão habitar com a natureza humana glorificada de Cristo no mesmo domicílio abençoado.
 
A natureza humana de Cristo ainda está em existência. Cristo ainda continua e continuará por toda a eternidade sendo Deus e Homem. Sua natureza humana subsiste; não só a alma, mas o corpo também. Seu corpo ressuscitou dos mortos e este mesmo corpo foi exaltado e glorificado à mão direita de Deus. Aquele que estava morto, hoje vive para sempre.
 
Há um lugar, uma determinada região da criação exterior, onde Cristo foi e permanece. Este lugar é o céu dos céus, um lugar além de todos os céus visíveis: "Ora, isto — ele subiu — que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas" (Ef 4.9,10). E o mesmo lugar que o apóstolo chama de terceiro céu (2 Co 12.2), computando o céu aéreo como o primeiro céu, o céu estrelado como o segundo e o céu mais alto como o terceiro. Este é o domicílio dos anjos santos. Eles são chamados "os anjos dos céus" (Mt 24.36), "os anjos nos céus" (Mc 12.25), "os anjos que estão no céu' (Mc 13.32). Está escrito que "os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus" (Mt 18.10). Em outros lugares, vemos os anjos diante do trono de Deus ou a rodear seu trono no céu, e de lá enviados, descendo com mensagens para este mundo. E para lá que as almas dos santos são conduzidas quando morrem. Ela não fica num domicílio separado do céu superior, mas fica guardada em um lugar de descanso até o dia do julgamento. Esse lugar que uns chamam o Hades dos felizes, mas que na realidade vai diretamente para o céu. Esta é a casa dos santos, sendo a casa de seu Pai. Eles são "peregrinos e estrangeiros" na terra, e esta é a "outra e melhor pátria" para a qual estão viajando (Hb 11.13-16). Esta é a cidade à qual eles pertencem; "A nossa cidade [cidadania, como significa corretamente a palavra] está nos céus" (Fp 3.20). Este é indubitavelmente o lugar ao qual o apóstolo se refere quando diz: "Nós estamos dispostos a abandonar nossa primeira casa, o corpo, e habitar na mesma casa, cidade ou país em que Cristo habita", que é a significação adequada das palavras no original. O que pode ser esta casa, cidade ou país, senão a casa que é mencionada em outros lugares como a casa deles, a casa do Pai deles, a cidade e país aos quais eles adequadamente pertencem, para a qual eles estão viajando durante o tempo em que continuam neste mundo e a casa, cidade e país onde sabemos que está a natureza humana de Cristo? Este é o descanso dos santos, ali está seu coração enquanto vivem na terra e ali está seu tesouro, a "herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós", que está designada para eles, reservada no céu (1 Pe 1.4). Eles nunca têm descanso adequado e pleno ate que cheguem ali. A alma, sem dúvida, quando ausente do corpo pela morte (as Escrituras a representam num estado de descanso perfeito), chega ali. Os dois santos, Enoque e Elias, que deixaram este mundo para, sem morrer, entrarem no descanso em outro mundo, foram para o céu. Elias foi visto subindo ao céu, como viram Cristo. Há toda razão para pensarmos que Enoque e Elias foram para o mesmo lugar de descanso ao qual os santos irão quando, pela morte, deixarem o mundo. Moisés, quando morreu no cume do monte, subiu para o mesmo domicílio glorioso com Elias, que subiu sem morrer. Eles são companheiros em outro mundo, pois apareceram juntos na transfiguração de Jesus. Eles estavam juntos naquele momento com Cristo no monte, quando houve uma representação da sua glória no céu. Não há o que duvidar que eles também estavam juntos com Ele mais tarde, quando de fato e plenamente Ele foi glorificado no céu. Lá, incontestavelmente, estava a alma de Estêvão que subiu quando expirou. As circunstâncias de sua morte demonstram este fato, segundo relato que temos: "Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem [ou seja, Jesus em sua natureza humana], que está em pé à mão direita de Deus. Mas eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos e arremeteram unânimes contra ele. E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. [...] E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (At 7.55-59). Antes de sua morte, ele teve uma visão extraordinária da glória que o Salvador tinha recebido no céu, não só para si próprio, mas para Jesus e todos os seguidores fiéis, de modo que Estêvão se encorajasse com a esperança desta glória para alegremente entregar a vida por Ele. Por conseguinte, ele morre nessa esperança, dizendo: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito". Com estas palavras ele irrefutavelmente queria dizer: "Recebe o meu espí­rito, Senhor Jesus, para estar contigo nessa glória em que te vejo agora no céu, à mão direita de Deus". Para lá foi a alma do ladrão penitente na cruz. Cristo lhe disse: "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc 23.43). O Paraíso é o terceiro céu mencionado em 2 Coríntios 12.2-4.0 que no versículo 2 é chamado de terceiro céu, no versículo 4 é chamado de Paraíso. As almas dos apóstolos e profetas estão no céu, como está claro pelas palavras: “Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas" (Ap 18.20). A Igreja de Deus é de vez em quando diferenciada nas Escrituras com estas duas partes: a parte que está no céu e a que está na terra: "Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome" (Ef 3.14,15); "E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus" (Cl 1.20). Que "coisas que estão nos céus" são essas pelas quais a paz foi feita mediante o sangue da cruz de Cristo, e que por Ele reconciliou a Deus, senão os santos nos céus? Do mesmo modo lemos sobre Deus "tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra" (Ef 1.10). Os "espíritos dos justos aperfeiçoados" estão na mesma "cidade do Deus vivo" com os "muitos milhares de anjos" e com "Jesus, o Mediador de uma nova aliança", como é evidente na epístola de Hebreus 12.22-24. A Igreja de Deus é chamada na Escritura pelo nome de Jerusalém, e o apóstolo fala da Jerusalém "que é de cima" ou "que está nos céus" como a mãe de todos nós. Portanto, se nenhuma parte da Igreja ou ninguém — exceto Enoque e Elias — está no céu, então não é provável que a Igreja fosse chamada a Jerusalém que está no céu.

 
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Jonathan Edwards
Enviado por Silvio Dutra Alves em 01/08/2014
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