A Espada do Espírito Santo


 
Por D. M. Lloyd Jones
 
É unicamente o Espírito que nos capacita a "interpretar" a Palavra de Deus. É inteiramente obra do Espírito. Tudo quanto está ligado a esta Palavra é sempre resultado da operação do Espírito, do princípio ao fim. Por mais capaz que um homem seja no sentido natural, essa capacidade não o ajuda a interpretar as Escrituras. Ele pode ser um gênio, ou um grande erudito, mas isso não o ajudará aqui. A verdade "se discerne espiritualmente". Deve ser interpretada de maneira espiritual. E nada pode habilitar-nos a fazê-lo independentemente do Espírito de Deus-e nem pessoa alguma. Assim, ao longo de toda a linha, vemos que a nossa arma é "a espada do Espírito".
 
Finalmente – e esta é, talvez, a consideração predominante na mente do apóstolo quando ele escreveu as palavras - é unicamente o Espírito Santo que nos capacita a usar apropriadamente esta Palavra. E, como o apóstolo está preocupado com a maneira prática de combater o inimigo, repeli-lo e fazê-lo fugir, evidentemente é isso que ocupa lugar predominante em sua mente. Uma coisa é conhecer o conteúdo deste livro; é coisa muito diferente saber usá-lo direito. Somente o Espírito Santo pode capacitar-nos a fazê-lo.
 
A relação entre o Espírito e a Palavra é da maior importância. O não reconhecimento disso explica a ocorrência de tantas dificuldades na longa história da Igreja Cristã. A tendência geral é sempre dar ênfase exclusivamente a um ou ao outro lado. No momento em que vocês separarem o Espírito e a Palavra, terão problema. Há alguns que dizem que, tendo a iluminação do Espírito, você não tem nenhuma necessidade da Palavra. Essa foi a tragédia dos quacres. George Fox começou com o equilíbrio certo, porém com o tempo foi se inclinando a dar cada vez menos atenção à Palavra, e cada vez mais à "luz interior", à iluminação do Espírito, à mensagem recebida direta, imediatamente. Por isso a tradução da Nova Bíblia Inglesa, assim chamada, é tão perigosa. Ela substitui "que é a palavra de Deus" por "palavras que vêm de Deus", exatamente aquilo que os fanáticos sempre afirmaram. Os "entusiastas", os fanáticos, sempre basearam toda a sua posição nisso.
 
Mas depois existe a outra tendência, no outro extremo, de desacreditar o Espírito e dizer que, desde que tenhamos a Bíblia aberta e a Palavra diante de nós, e desde que a conheçamos num sentido mecânico, não precisaremos de mais nada. Assim o Espírito é esquecido, e se pode ter uma ortodoxia morta, ou um conhecimento meramente intelectual e mecânico das Escrituras, que não capacita ninguém a pelejar no combate contra o diabo, os principados e as potestades. O Espírito e a Palavra têm que ser mantidos sempre juntos. O Espírito nos muniu da instrução que se acha na Palavra, porém não podemos usá-la sem Ele. Ela pode ser letra morta para nós: "a letra mata e o espírito vivifica" (2 Coríntios 3:6). O que é necessário é o Espírito abrir a Palavra, abrir a minha mente e abrir o meu coração. Desde que vocês mantenham os dois juntos, como o apóstolo faz aqui, vocês não terão como errar; entretanto, se os separarem, o diabo já terá "dividido para poder vencer", por assim dizer. E, como digo, ele fez isso muitas vezes na longa história da Igreja Cristã.
 
O erro entra de muitas maneiras, mas agora estamos particularmente interessados no ataque geral contra a "verdade". Já consideramos ataques específicos sob outros títulos. O inimigo faz este ataque geral de muitas maneiras. Ele o faz por meio da filosofia, que sempre foi inimiga da verdade, desde o princípio. Uma das primeiras batalhas que a Igreja Cristã teve que travar foi contra a filosofia grega. Quando o evangelho veio para a Europa, primeiro veio para a Grécia, onde havia uma grande tradição filosófica, a perspectiva segundo a qual o homem, buscando a Deus, poderá encontrá-lo, o homem pode chegar à verdade graças à meditação e ao efetivo desenvolvimento das suas teorias. Houve um grande combate nos primeiros séculos entre a Igreja Cristã e o sutil ataque oriundo da filosofia. Continuamos tendo esse combate, é claro, e talvez mais do que nunca.
 
Fazendo parelha com a filosofia, há o que geralmente chamam "conhecimento" - qualquer conhecimento que o homem tenha. O conhecimento "científico" em particular. E em termos do conhecimento moderno, dos últimos avanços do conhecimento, especialmente do conhecimento científico, que muitos rejeitam o cristianismo. O único modo pelo qual podemos repelir este ataque particular é empunhar e brandir "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus". Não há outro meio de defesa. Foi o que o nosso Senhor fez. Devemos seguir os Seus passos em todas as questões; e nas páginas dos quatro Evangelhos vocês verão que o nosso Senhor fez isso repetidamente. Aqueles homens inteligentes, fariseus, escribas, doutores da lei, vinham com as suas perguntas capciosas, dizendo a si mesmos: "Quem é este sujeito? Ele nunca foi instruído como fariseu, é um simples carpinteiro, nunca foi às escolas, que é que Ele sabe?" E assim traziam as suas perguntas espertas. Eles eram peritos nos pormenores e minúcias da lei. Eram grandes eruditos, e assim vinham com toda a sua erudição, e pensavam que podiam apanhá-lo e pôr um fim no Seu ministério. Ele sempre os enfrentou da maneira que já O vimos fazer na tentação no deserto.
 
Vejam um exemplo, tomado do Evangelho de Lucas: "E eis que se levantou um certo doutor da lei"- um homem inteligente, instruído, um perito na lei judaica- "tentando-o (ao Senhor), e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" Certamente ele esperava que o nosso Senhor desse uma opinião pessoal, Sua, que ele, advogado, provaria que não era coerente com o ensino da lei. Mas nosso Senhor replicou-lhe perguntando: "Que está escrito na lei? Como lês?" (Lucas 10:25-26). Noutras palavras, Ele tomou "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus". Foi assim que o nosso Senhor lidou com aquele homem. "Que está escrito na lei? O que você lê, o que você vê nas Escrituras?" Há um exemplo parecido no Evangelho de João: "Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar. Respondeu-lhes Jesus: tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais? Os judeus responderam-lhe, dizendo: não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo". Um ataque verdadeiramente astuto! Jesus respondeu-lhes: "Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada), àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?" (João 10:31-36). Notem a arma! Ele tomou "a espada do Espírito" e os feriu com ela. Não somente Se defendeu, derrotou-os. E Ele constantemente agia dessa maneira.

 
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D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 26/07/2014
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