Como Lidar com as Tentações
Por Mathew Henry
Não devemos orar pedindo que a aflição seja eliminada, tanto quanto pedindo sabedoria para usá-la corretamente. E quem não quer sabedoria para por ela ser guiado nas provas, regulando seu próprio espírito e administrando seus assuntos? Aqui há algo que serve como resposta a cada pensamento triste, quando vamos a Deus experimentando a nossa própria fraqueza e viver néscio. Depois de tudo, alguém pode dizer que essa promessa não é para si próprio, e que não há de triunfar; porém, a promessa é: a todo aquele que pedir, lhe será dado.
Uma mente que se ocupa em considerar o seu interesse espiritual eterno de maneira única e dominante, e que se mantém firme em seus propósitos para com Deus, crescerá sábia pelas aflições, continuará fervorosa em suas devoções e se levantará por sobre as provas e oposições. Quando a nossa fé e espírito se levantam e caem por causas secundárias, nossas palavras e ações serão instáveis. Isto nem sempre expõe os homens ao desprezo do mundo, e são caminhos que não agradam a Deus. Nenhuma situação da vida é tal a ponto de impedir que nos regozijemos em Deus. Os crentes mais fracos podem se regozijar se forem exaltados a serem ricos em fé e herdeiros do reino de Deus; e os ricos podem se regozijar com as providências humilhantes que os levam a uma disposição mental humilde e modesta. A riqueza do mundo é algo que se esgota. Então, que aquele que é rico se regozije na graça de Deus, que o faz e o mantém humilde; e nas provas e exercícios que lhes ensinam a buscar a felicidade em Deus e dEle, e não nos prazeres que perecem.
Nem todo homem que sofre é abençoado, e sim aquele que com paciência e constância vai pelo caminho do dever, através de todas as dificuldades. As aflições não podem nos tornar miseráveis se não forem ocasionadas por nossas próprias faltas. O cristão provado será um cristão coroado. A coroa da vida é prometida a todos os que têm o amor de Deus reinando em seus corações. Toda a alma que verdadeiramente ama a Deus terá suas provas neste mundo passageiro plenamente recompensadas no mundo eterno por vir, onde o amor é perfeito.
Os mandamentos de Deus e os tratos de sua providência provam os corações dos homens, e mostram a disposição que prevalece neles. Porém, nada pecaminoso do coração e da conduta pode ser atribuído a Deus. Ele não é o autor da escória, ainda que a sua prova de fogo a deixa descoberta. Aqueles que culpam o pecado por sua constituição ou a sua situação no mundo, ou fingem que não o podem evitar, procuram culpar a Deus como se Ele fosse o autor do pecado. As aflições, como enviados de Deus, foram concebidas para fazer com que as nossas virtudes reluzam, e não as nossas corrupções. A origem do mal e das tentações está em nossos próprios corações.
Detenha os princípios de pecado, ou todos os males que sobrevierem depois serão totalmente atribuídos a você. Deus não se agrada na morte dos homens, como aquele que não tem nada a ver com os pecados deles, mas os pecados e a miséria devem-se a eles mesmos. Assim como o sol é o mesmo na natureza e influência, mesmo que muitas vezes a terra e as nuvens se interponham, fazendo com que a nós pareça variável, assim Deus é imutável e nossas mudanças e sombras não são mudanças nem alterações nEle. O que o sol é na natureza, Deus é em graça, providência e glória, e infinitamente mais. Como toda a boa dádiva é de Deus, assim, em particular, é que tenhamos nascido de novo, e todas as nossas conseqüências santas e felizes vêm dEle. Um cristão verdadeiro passa a ser uma pessoa tão diferente da que era antes das influências renovadoras da graça divina, que é como se fosse formado de novo. Devemos dedicar todas as nossas habilidades ao serviço de Deus, para que possamos ser uma espécie de primícias das suas criaturas.
Ao invés de culpar a Deus quando estamos submetidos a provas, abramos os nossos ouvidos e corações para aprender o que Ele está nos ensinando por elas. Se os homens desejam governar as suas línguas, devem governar as suas paixões. A pior coisa que podemos acrescentar a uma disputa é a ira.
Aqui há uma exortação a se separar e a se lançar fora, como uma roupa suja, todas as práticas pecaminosas. Isto deve alcançar também os pecados do pensamento e do afeto, e os pecados do falar e do agir, a toda coisa pecaminosa e corrupta. Devemos nos render à Palavra de Deus com mentes humildes e dóceis ao ensino. Devemos estar dispostos a ouvir sobre os nossos defeitos e fazê-lo não só com paciência, mas também com gratidão. O objetivo da Palavra de Deus é nos tornar sábios para a salvação; e aqueles que se propõem a qualquer finalidade má ou baixa ao prestar-lhe atenção, desonram o Evangelho e tiram as esperanças de suas próprias almas.
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