Não Combata com as Armas Erradas


Por D. M. Lloyd Jones
 
Há o grande perigo de se fazer a guerra com armas erradas. "As armas da nossa milícia", diz o apóstolo, "não são carnais". O apóstolo, vocês notam, acreditava em elementos negativos! Ele diz que elas "não são carnais". Muitos hoje gostariam de dizer ao apóstolo Paulo: por que você não é sempre positivo? Por que precisa dizer que elas "não são carnais"; por que não nos diz o que elas são? Não estamos interessados em saber o que elas não são; queremos saber o que são. Esse é o tipo de pensamento e de conversa que, como estou tentando dizer, tantas vezes nos traem. Meus amigos, estamos nesta guerra, e temos que saber o que vamos fazer. É vital, neste contexto, que nos demos conta de quais são as armas erradas. Este é, talvez, o maior perigo de todos. Como eu vejo as coisas, certamente este é o maior perigo na hora presente.
 
Não há nada de novo nisso tudo. No próprio Novo Testamento há muita coisa sobre a questão de como combater este combate. Temo-lo aqui em 2 Coríntios, capítulo 10. Está em muitos lugares destas Epístolas argumentativas e polêmicas do apóstolo Paulo. A Igreja teve que começar esta peleja quase imediatamente, e este apóstolo preocupa-se particularmente com isso. Na verdade, nestas duas Epístolas aos coríntios ele dedica amplo espaço e muita atenção a esta questão de como lutamos nesta batalha pela fé.
 
Não devo cansá-los com uma longa lista de armas erradas, e com as coisas que não devemos fazer; mas o apóstolo menciona algumas delas no contexto, pelo que eu as anoto. Diz ele que não devemos combater nesta batalha com as nossas personalidades. "Além disso, eu, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde." Ele está se referindo aí à maneira pela qual algumas pessoas o criticavam em Corinto. Visto que ele não era de aparência pessoal notável, diziam dele, "a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível". Na igreja de Corinto havia gente interessada nos que hoje são chamados "grandes personalidades". Essas pessoas faziam essas observações ofensivas acerca da aparência pessoal do grande apóstolo que aparentemente não era um homem elegante, porém, provavelmente, segundo todos os relatos, era de baixa estatura, calvo e padecia uma inflamação nos olhos.
 
O apóstolo não entrou nisso tudo, exceto para dizer que ele não combatia dessa maneira. A batalha não é para ser travada pelas aparências dos homens, mas pela classe de impacto (como o linguajar moderno o expressa) que eles fazem sobre a congregação. O homem não deve interessar-se por isso tudo, diz o apóstolo; isso é carnal. Demasiado interesse pelo pregador e sua personalidade é sempre uma das marcas distintivas da carnalidade. Esse era o grande problema da igreja coríntia - "Eu sou de Paulo; e, Eu de Apoio; e, Eu de Cefas" - seguir pessoas. Que lástima! O culto da personalidade continua conosco e, talvez, mais do que nunca.
 
Depois há a questão dos métodos. O apóstolo estivera tratando disso na Primeira Epístola- "A minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana" (1 Coríntios 2:3-5). Ele não usou a retórica dos gregos; não usou nenhum artifício; jamais empregaria métodos pertencentes ao mundo, e não aos domínios do Espírito. Jamais foi homem preocupado em agradar aos homens, continua ele dizendo. Era tão escrupuloso com os seus métodos como o era com a sua mensagem. Ele não dizia, o fim justifica os meios, ou, qualquer coisa que você possa fazer para interessar, atrair e trazer pessoas para ouvirem, é perfeitamente legítima; podemos não gostar disso, mas, se leva a bons resultados, devemos fazê-lo. O apóstolo abominava isso; ele descreveu tais métodos como "carnais".
 
Fico a perguntar-me como a Igreja Cristã encara essa particular negativa do apóstolo atualmente. Hoje em dia há uma tendência para dar grande ênfase aos métodos; até se faz propaganda da Igreja Cristã. Refiro-me aos departamentos de publicidade para propaganda da Igreja, custeio de periódicos, etc, na tentativa de vender a Igreja ao público como se apresenta uma peça ou se vende sabão ou qualquer artigo de consumo. O apóstolo, parece-me, condena tudo isso como sendo carnal. Isso é método dos homens, é sabedoria humana, conhecimento e entendimento humanos, estratagema humano. Os nossos métodos, diz o apóstolo, "não são carnais".
 
Contudo, muitas vezes a Igreja tem ido muito mais longe. Em sua tentativa de defender a verdade e a fé, às vezes a Igreja cometeu o erro de invocar o auxílio, o apoio e o poder do Estado e da lei. Isso começou, é claro, como resultado da conversão, assim chamada, do imperador Constantino e de haver-se o cristianismo tornando a religião oficial do Império Romano; e isso continuou, daí em diante. Os homens têm usado o Estado e as leis do Parlamento para a defesa da fé e, portanto, quem quer que mostrasse desacordo poderia ser lançado na prisão, os seus bens poderiam ser-lhe tomados, e ele poderia, talvez, até ser levado à morte.
 
Aí está um assunto que facilmente poderíamos ampliar, mas devemos evitar a tentação, e contentar-nos em confessar, com tristeza e vergonha, que até homens como Lutero e Calvino não conseguiram escapar completamente dessa armadilha. Não se pode defender a verdade cristã com o poder do Estado; e não faz parte do dever do Estado defender a verdade cristã. A Igreja e o Estado são esferas complementares, porém essencialmente distintas. Esconder-se atrás das leis do Parlamento e tentar defender a sua posição usando essas leis como escudo, parece-me fazê-lo culpado de tentar combater o grande combate com métodos inteiramente carnais.
 
Mas, talvez mais grave que todas estas questões seja a que o apóstolo com freqüência tem que tratar em suas Epístolas, e que eu julgo ser a questão suprema na presente hora. É o perigo de tentar combater este combate e de guerrear esta guerra por meio de algo que podemos chamar helenismo. O que quero dizer com helenismo é a perspectiva e mentalidade grega, ou, se vocês preferirem, "a sabedoria deste mundo", ou, ainda, a filosofia. Era o que os coríntios queriam que o apóstolo fizesse. Eles se queixavam de que ele era simples demais, e que simplesmente pregava a "Jesus Cristo, e este crucificado". Não havia filosofia em suas prédicas, diziam eles. Ele não elaborava arrazoados das coisas, e não apresentava as grandes teorias dos mestres que tinham vivido entre eles. Ele não fazia isso, e assim eles diziam que o seu discurso era "desprezível". Era com base nisso que eles o criticavam. Por isso o apóstolo teve que tomar a questão logo no início da sua primeira Epístola, já no capítulo primeiro, versículo 17. Diz ele: "Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, mas para que a cruz de Cristo se não faça vã". Eles tinham esperado "sabedoria de palavras", e depois que ele se fora, disseram que ele não tinha "sabedoria de palavras". Não havia filosofia em sua pregação; era tão simples! Qualquer pessoa podia ouvi-la, aceitá-la e crer nela. Não havia nada complicado e intelectual com relação a ela, nada que envolvesse o manejo das grandes teorias filosóficas. Eles o criticavam porque ele não se portava como um helenista, como um grego, porque não usava a "sabedoria do mundo" e a filosofia.
 
Que é que isso tem a ver conosco? Bem, a menos que eu esteja redondamente enganado, este é o maior perigo que ameaça a posição evangélica na Igreja Cristã na hora presente. Que será? Seu motivo é muito bom; sua idéia é tornar o cristianismo aceitável aos homens. Os que pensam dessa maneira saem para evangelizar, saem para socorrer. Eles querem tornar o evangelho aceitável; e eles dizem que você só poderá fazer isto se puder torná-lo intelectualmente respeitável. Estamos vivendo, dizem eles, numa era de bom nível educacional, numa era científica, e assim devemos mostrar que a nossa mensagem é razoável. É uma tentativa de tornar o evangelho razoável aos olhos dos homens.
 

 
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D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 22/07/2014
Reeditado em 22/07/2014
Código do texto: T4891835
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