Cristo a Pedra Angular

 
Sendo o próprio Cristo a principal pedra angular (Ef 2.20-22). Aqueles que transferem esta honra para Pedro, e defendem a tese de que a Igreja se encontra fundada sobre ele, são tanto impudicos quanto irresponsáveis em perverter este texto com o fim de apoiar seu erro. Objetam que Cristo é chamado a principal pedra angular em comparação com outras, e que há muitas outras pedras sobre as quais a Igreja está apoiada. A solução, porém, é simples. Os apóstolos usam várias metáforas segundo as circunstâncias, não obstante com o mesmo significado. O fator constante é que não se pode lançar nenhum outro fundamento. Portanto, ele aqui não quer dizer que Cristo é meramente uma pedra ou uma parte do fundamento; do contrário ele estaria se contradizendo. O que ele pretende, então? Ora, o que ele quer é reunir judeus e gentios num só edifício de caráter espiritual. Eram antes como que separados por dois muros; mas ele põe Cristo bem no ângulo para fazer a junção dos dois; e isso é o que a metáfora significa.
 
Imediatamente após, ele declara satisfatoriamente que longe está de pretender limitar a Cristo a qualquer uma das partes do edifício, quando diz: em quem todo o edifício, bem ajustado, cresce. Se isso for procedente, o que, pois, se fará de Pedro? Quando Paulo, para os coríntios, o chama de Fundamento, ele não pretende dizer que a Igreja foi iniciada por ele e completada por outros; senão que simplesmente faz tal distinção visando a comparar seus próprios labores com os de outros homens. Sua parte fora fundar a Igreja em Corinto e deixar aos seus sucessores o término da construção.
 
No que concerne à presente passagem, o apóstolo ensina que todos quantos se encontram juntamente construídos em Cristo são santuários de Deus. Requer-se primeiramente uma adequação mútua, para que os crentes possam compreender e acomodar-se uns aos outros por mútua comunicação; de outra forma não seriam eles um edifício, e, sim, uma massa disforme. A principal simetria consiste na unidade da fé. Em seguida vem o progresso ou desenvolvimento. Aqueles que não são suficientemente unidos na fé e no amor, progredindo em Cristo, formam um edifício profano, o qual nada tem em comum com o santuário de Deus.
Cresce para templo santo. Em outra parte, os crentes, individualmente, são chamados templos, mas aqui diz-se que o templo de Deus consiste de todos eles. Ambas as afirmações são corretas e apropriadas. Pois Deus de tal forma habita em cada um de nós, que deseja que todos sejamos envolvidos numa unidade santa, e que assim ele, de muitos, forma um só. Portanto, aquele que por si mesmo é um templo, quando unido a outros, é uma pedra de um templo. E isso é assim expresso com o propósito de enaltecer a unidade.

Em quem também vós sois juntamente edificados.
 
A terminação grega, bem como a do latim [=coedificamini], é ambígua. Pois ambos, o modo imperativo e o indicativo, se adequam, e o contexto permitirá um e outro. Quanto a mim, porém, prefiro o imperativo. Temos aqui, creio eu, uma exortação dirigida aos efésios a que cresçam mais e mais na fé em Cristo, depois de terem sido uma vez fundados nela, e assim poderem ser uma parte daquele novo santuário que, através do evangelho, estava então sendo edificado por Deus por toda parte do mundo.
 
O apóstolo reitera a palavra Espírito, por duas razões. Primeiramente, para lembrá-los de que todas as faculdades humanas são de nenhuma valia sem a operação do Espírito; e, em segundo lugar, para contrastar o modo espiritual com todos os meios externos dos judeus.
 
Por João Calvino

 
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João Calvino
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/07/2014
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