Por Que o Justo é Afligido?
Esta é uma indagação que permeia a mente e o coração de muitos, e não poucos chegam à conclusão temerária de que não vale a pena viver de modo justo, porque afinal, tanto o justo quanto o injusto são igualmente afligidos neste mundo.
Meu pai se tornou alcoólatra quando viu, há muitos anos atrás, um menino numa cadeira de rodas.
Lembro-me como se ainda fosse hoje, quando chegou embriagado em casa, e muito revoltado perguntava à minha mãe, que Deus era esse que permitia algo como aquilo.
Ele não sabia, e eu também não sabia à época, que a resposta para estas indagações da alma já haviam sido dadas por Deus há séculos, através das Escrituras, especialmente, no primeiro livro da Bíblia cuja escrita foi inspirada por Ele, a saber o livro de Jó. Temos todas as respostas neste único livro, mas gostaria de focar neste momento, apenas o que se pode aprender da narrativa dos seus capítulos 3º e 4º.
Enquanto Jó permaneceu calado remoendo-se apenas de dores, e provavelmente delirando em estado de semi-consciência, em razão da grande febre que deveria ter-lhe acometido como consequência da grave infecção que tomara conta de todo o seu corpo, não pôde expressar o seu lamento, como estava fazendo agora, depois de ter permanecido calado juntamente com seus três amigos, por sete dias e noites seguidos.
Todavia, tão logo expressou em termos veementes o seu grande lamento pela condição em que se encontrava, aquilo foi forte demais para os seus amigos tolerarem, porque Elifaz passou a acusá-lo de ser precipitado em suas palavras, e de hipócrita, porque Jó havia sido o conselheiro de muitos para que ficassem fortes e firmes em suas aflições, no entanto, não estava dando tal exemplo de fortaleza e ânimo, quando ele próprio foi atingido pelo sofrimento.
É deveras impressionante, como procuramos tirar daqueles que estão afligidos, um direito que o próprio Deus não lhes tira, a saber, o de se queixarem de suas dores. Jó não estava se queixando contra Deus, mas queixando-se da sua condição, e não há nada de pecaminoso nisto. O pecado de murmuração é mostrar insatisfação para com Deus, mas não por si mesmo, e pelas aflições que sofremos.
Deus as projetou para o grande propósito de nos preservar do mal, e do pior deles, que é o de dar as costas para Ele, o nosso amado e bondoso Criador.
Porque espera que recorramos a Ele em nossas provações para a busca de auxílio em ocasião oportuna, não meramente para sermos livrados da tribulação, mas sobretudo para recebermos a força da Sua graça para poder suportá-las.
Seria antinatural, ou seja, algo contrário à natureza normal, que não se lute pela manutenção da nossa vida, em face do instinto de sobrevivência que o próprio Deus colocou em nós para a nossa preservação; e de igual modo que não se fuja de toda forma de mal que possa nos causar algum tipo de sofrimento ou dano.
Na verdade, era isto o que as palavras do lamento de Jó expressavam. Ele considerava que seria melhor não existir do que estar passando por tudo aquilo que lhe sobreviera repentinamente, e sem que houvesse qualquer promessa ou sinal de esperança, de que aquele quadro fosse revertido.
Não é exatamente isto que sentimos, caso não sejamos assistidos e fortalecidos pela graça de Deus, a lhe dar glória em meio às aflições que nos atingem?
Se a graça estiver presente e atuando, somos fortalecidos e triunfamos sobre a dor. Nossa fé no Senor é aperfeiçoada pelo recebimento da Sua companhia e consolo, e também nosso caráter é igualmente aperfeiçoado, porque ao suportarmos dores e sofrimentos por amor a Cristo, não apenas nos identificamos com Ele em seus sofrimentos, como também, por este meio, somos livrados do nosso egoísmo latente, que não pode ser vencido por outro meio senão o da paciência em meio às tribulações.
Todavia, se para fins específicos, Deus nos deixa à mercê de nossas próprias forças e capacidades limitadas, sucumbimos, e o quadro normal de ser visto é o de que seremos achados desalentados e deprimidos, ainda que não abandonemos nossa confiança no Senhor, não Lhe voltemos as costas, e que continuemos nos sujeitando quietamente à Sua vontade, debaixo da Sua potente mão, tal como sucedera no caso de Jó.
Qual foi a reação do próprio Senhor Jesus Cristo, quando em Sua agonia no Getsêmani?
Ele chegou a pedir ao Pai que se fosse possível, que passasse dEle aquele cálice de sofrimentos. Todavia, Ele permaneceu perfeitamente sujeito à vontade do Pai em todo o tempo.
Agora, seria de se esperar que alguém lhe dissesse naquela hora de extrema aflição que rejubilasse, saltando de alegria, a pretexto de que seria possível fazê-lo pelo fortalecimento da graça que Lhe seria concedida pelo Pai?
Quando a alma está angustiada até a morte, como se achava a de nosso Senhor no Getsêmani, o que se manifestará é a tristeza e não a alegria.
Se houvesse um sorriso na face de Jesus naquela hora, poder-se-ia dizer que seria um sorriso falso. E como pode ter parte com a falsidade Aquele que é em tudo verdadeiro?
O mundo gosta da dissimulação. Não pode suportar expressões de abatimento e de tristeza, que fazem também parte desta vida.
Há uma falsa ideia de que a vida só tem sentido quando não há provações, tribulações e aflições, e crer desta forma, é portanto se agarrar a uma utopia.
Por isso o mundo procura disfarçar suas tristezas debaixo de máscaras de uma suposta alegria.
Para este propósito os homens se drogam, se embebedam, e fazem um sem número de coisas para se mostrarem alegres, quando na verdade estão angustiados ou entristecidos, bem lá no fundo de suas almas.
Então não havia nada reprovável na atitude de Jó, ao manifestar a sua tristeza. Ao contrário, ele estava sendo absolutamente sincero e verdadeiro, e por isso continuava justo e aprovado aos olhos do Senhor.
Jó pôs em contraste a alegria das novas do dia do seu nascimento, com a intensa dor e tristeza que estava sentindo naqueles dias de sofrimento, que lhe pareciam que não teriam fim até o dia da sua morte.
Como ele não conhecia ainda de maneira plena o propósito de Deus nas aflições, pareceu-lhe muito estranho tudo aquilo que estava sofrendo.
O argumento lógico em sua mente era o seguinte: “Por que Deus o trouxera à vida, e o inspirara a viver em completa retidão perante Ele, se no final, seria colocado como um opróbrio à vista de todos, não como um testemunho de alguém que foi abençoado por Deus, mas ao contrário, que foi amaldiçoado por Ele?”
E mais: “Quem se sentiria inspirado a permanecer na prática da justiça, se o prêmio que Deus tinha reservado para os justos era aquele pelo qual ele estava passando?”.
Como qualquer outro, Jó era um refém de sua própria época, em que se costumava avaliar o favor e o amor de Deus pelos homens, na medida proporcional dos bens e saúde que eles possuíam e desfrutavam.
À medida que a revelação de Deus, do Seu caráter e vontade foi progredindo, à medida que o tempo passava, até culminar com a revelação final que nos foi feita por Seu Filho Jesus Cristo, sabemos que há um bom propósito nas aflições que sofremos, e que sair deste mundo pelo martírio, é um privilégio, e não uma desonra.
Mas, devemos considerar que este conhecimento não estava disponível nos dias de Jó, e este foi um dos motivos de Deus tê-lo provado de tal forma, para que começasse a revelar ao mundo qual é o Seu propósito nas tribulações.
Todavia, apesar de toda a revelação que temos da parte de Deus na Sua Palavra, há ainda muitos Elifazes por aí fazendo um diagnóstico incorreto relativo ao problema do mal que sofremos.
Eles colocam tudo na avaliação comum de que se há sofrimentos e aflições, é porque pecamos, ou porque não temos exercido a nossa fé. Nem uma e nem outra coisa se aplicavam ao caso de Jó.
Contudo, Elifaz diagnosticou a aflição de Jó como sendo causa da iniquidade que ele havia semeado. É verdade que há uma lei da colheita segundo a semeadura, mas não era este o caso do sofrimento de Jó, porque não estava colhendo algum fruto mau de uma semente má que houvesse semeado.
O “doutor” de almas Elifaz havia portanto, errado em seu diagnóstico.
E, não satisfeito, com isto, colocou em dúvida a sinceridade da confiança de Jó no temor do Seu Deus, e a sua esperança na integridade dos seus caminhos.
Segundo ele, se Jó fosse realmente sincero nisto, não teria recebido todo aquele mal que lhe sobreviera repentinamente.
Em sua teologia estreita não havia lugar para sofrimento de justos.
É fato que a ira de Deus haverá de consumir o ímpio, mas Elifaz não sabia que Deus também é longânimo, isto é, tardio em se irar, e que por isso não executa logo o juízo, porque dá tempo ao homem para que se arrependa de seus pecados e viva, lançando todas as transgressões passadas no mar do esquecimento, além de apagar toda e qualquer culpa.
Todavia, Elifaz considerava que Jó estava sendo atingido por uma rajada da ira de Deus para ser consumido na sua iniquidade.
Quão errado e equivocado ele estava, apesar de ter dito certas verdades que se aplicam a muitos, mas não eram aplicáveis ao caso de Jó, e de tantos servos fiéis de Deus que sofreram, ou que ainda sofrem por amor a Ele, neste mundo.
Elifaz firmou a sua teologia sobre o sofrimento do homem e o castigo divino, de uma visão que lhe fora dada, e de uma voz que lhe dissera o seguinte:
“Pode o homem mortal ser justo diante de Deus? Pode o varão ser puro diante do seu Criador?”
Isto é uma verdade, porque não há nenhum justo, nenhum sequer, diante de Deus, pela sua própria justiça, e todos os que são justos perante Ele, o são, porque têm sido justificados pela fé em Cristo, e por terem sido redimidos no Seu sangue.
Só que em vez de Elifaz, reconhecer que o homem não pode de si mesmo ser justo diante de Deus, no entanto há graça, misericórdia e poder no próprio Deus para torná-lo justo perante Ele.
Então Elifaz se precipitou elaborando uma teologia conclusiva, em cima desta visão que recebera, na qual atribuiu consequentemente desconfiança da parte de Deus em todos os seus servos no céu, e até mesmo o fato de atribuir loucura a todos os seus anjos, inclusive aos eleitos, e segundo ele, de quão maior desconfiança da parte de Deus não gozam todos os homens que habitam na terra.
Que teologia desastrada foi esta a que Elifaz elaborou em cima de uma visão relativa à verdade que havia recebido! É assim que são formadas grandes heresias. Elas partem geralmente de um entendimento ou interpretação incorretos de uma verdade bíblica.
É importante, pois, se não desejamos ser achados como Elifaz, que confiramos verdades bíblicas com verdades bíblicas, coisas espirituais com espirituais, e que não sejamos precipitados em nossas conclusões sobre o modo de agir de Deus, generalizando todas as suas ações a partir de uma única declaração relativa ao Seu caráter ou atributos.
Satanás procura por todos os modos atacar o caráter de Deus. Se não ataca o Senhor diretamente perante os homens acusando-O de injustiça por permitir que sofram males, ele procura sutilmente, distorcer as verdades divinas, dando-lhes uma interpretação diferente do seu verdadeiro significado, para que em vez de os homens serem justos em suas avaliações relativas aos atos de Deus, lhe atribuam juízos e castigos por ações, que não são de Deus, mas que o próprio diabo usa para afligir os homens, tal como estava ocorrendo no caso de Jó, e Elifaz estava atribuindo tudo aquilo a um castigo de Deus porque, segundo Elifaz, Ele não podia confiar em Jó, como em qualquer ser na terra ou no céu.
Certamente Deus não se pode confiar à natureza terrena do homem que é decaída no pecado, mas daí, dizer que não pode confiar em nenhum dos Seus servos, vai uma distância muito grande, porque estes não possuem neste mundo apenas a natureza terrena, mas a própria natureza divina da qual foram feitos coparticipantes por meio da fé em Jesus.
E cabe dizer que no céu, nenhum cristão que para lá tenha ido, se encontra sob a influência da natureza terrena, assim como os anjos eleitos, de modo, que o Senhor pode confiar perfeita e plenamente neles, porque já não podem ser vencidos por qualquer tipo de mal.
Devemos nos acautelar, portanto, para não sermos achados como um tipo de Elizaz, que procurando consolar alguém que está sofrendo, acabe lançando sal e vinagre sobre as feridas que estiverem abertas, em nosso zelo pela defesa da justiça e santidade de Deus, condenando como malfeitor, quem está sofrendo por causa do Seu amor e fidelidade a Deus.
É muito fácil dizer para alguém que está sofrendo de modo terrível: “Você não terá cometido algum pecado oculto ou não confessado?”
No entanto, isto somente pode servir para agravar ainda mais o sofrimento de uma consciência fraca de alguém que esteja sofrendo por amor a Cristo e ao evangelho, e não necessariamente por algum pecado que tenha cometido.
É necessário ter cuidado na aplicação de aconselhamentos em tais casos, e insinuações relativas a pecados devem ser feitas somente por revelação do Espírito ao nosso espírito, e não por uma ruim suspeita, ou por um princípio de aconselhamento generalizante a que estejamos acostumados a usar.
Devemos ter cuidado para não vazar os olhos de nossos irmãos quando nos dispomos a tirar o pequeno cisco que há neles, quando temos a nossa visão prejudicada por alguma trave em nossos próprios olhos, que nos impeça de enxergar a verdade, tal como sucedera no caso de Elifaz em relação a Jó.
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A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
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A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
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