fig: Haman pedindo misericórdia à rainha Esther, Ilustração de Nancy Patz para o livro "The Famiy Treasure of Jewish Holidays", de Malka Drucker - 1994, Little, Brown and Company

PURIM - CELEBRANDO A CORAGEM FEMININA
 
₢Sarah D.A. Lynch
 
 
 
Faz tempo que não escrevo, porque ando super enrolado com a escola e tudo mais. Para quem não me conhece ainda, meu nome é Benny, ou melhor, Benjamin, e tenho 12 anos - ainda! Puxa, como demora para chegar nos 13!!!
 
Bom - hoje vou falar sobre o festival de Purim, que acontece no dia 14 do mês de Adar, ou seja, mais ou menos em março no calendário ocidental.  O calendário judaico é diferente do ocidental porque é lunar, quer dizer, segue a lua, enquanto que o calendário ocidental é solar, quer dizer, segue o sol.
 
Minha mãe disse que Purim é uma celebração do poder que as mulheres têm para mudar o mundo, e meu pai concorda com ela. E já que a data é pertinho do Dia Internacional da Mulher, resolvi escrever isto aqui para homenagear minha mãe e todas as amigas dela, especialmente as escritoras da Rebra, que quer dizer Rede de Escritoras Brasileiras, porque a minha mãe gosta muito delas.
 
A minha irmã Hanny, por exemplo, adora Purim, porque este festival comemora uma heroína e não um herói, e uma rainha, ainda por cima. Quando a gente faz a representação da história, ela sempre quer ser a rainha, que se chamava Esther. A Meguilah Esther, o Livro de Esther, está na Tanach, a Bíblia judaica, na parte chamada Kethuvim. Kethuvim são as histórias, como as de Esther, de Job, de Ruth.
 
Voltando ao assunto, Esther não foi sempre uma rainha. Na época, quer dizer, há mais de três mil anos atrás, a Pérsia dominava Israel, e o rei persa, Ashashverosh, não era um sujeito muito legal. Imagina que, durante um banquete, ele chamou a sua rainha, que se chamava Vashti e era muito linda, e pediu que ela tirasse toda a roupa na frente dos convidados! Vashti se recusou, então o rei mandou matá-la!!!! Daí, já que ficou sem rainha, ele promoveu um concurso de beleza para escolher uma nova, e muitas garotas se candidataram. Uma delas foi a judia Esther, que tinha um primo chamado Mordechai, lider dos judeus. 
 
Mordechai era muito corajoso. Certa vez, ele até salvou a vida do rei, mas o rei nem ficou sabendo, porque o primeiro-ministro do reino, que se chamava Haman, era um antissemita horroroso. Ele queria eliminar todos os judeus do reino, e não gostava nem um pouco de Mordechai.
 
Pois bem - Mordechai disse para Esther se candidatar ao concurso de beleza do rei e fazer tudo para ganhar. E ela ganhou, é claro, porque era muito linda e muito esperta. Mas ela não contou a ninguém que era judia.
 
Enquanto isso se passava, Haman convenceu o rei de que os judeus queriam tomar o trono, e o rei assinou um decreto para que todos os judeus fossem assassinados ao mesmo tempo, no dia 13 do mês de Adar.
 
Por toda a Pérsia, os judeus começaram a rezar e a chorar. Mordechai chamou a sua prima, a rainha Esther, e pediu que ela implorasse ao rei para revogar (palavra bonita, né?) o tal decreto, mas isto era uma coisa muito perigosa de se fazer! Ninguém se dirigia ao rei sem ser chamado, e, se ele se recusasse a receber Esther, quer dizer, não estendesse seu cetro em sua direção, ela seria morta.
 
Esther ficou com medo, mas daí Mordechai lhe disse algo que serve até hoje para todos nós. Ele disse: "Não pense que você vai escapar só porque mora no palácio! Olha, se você não fizer nada, você e sua família vão morrer, e nosso auxílio vai vir de outro jeito. Esther, quem sabe se não foi justamente para esta hora que você se tornou rainha?"
 
E a resposta de Esther foi mesmo de heroína. Ela disse: "Então eu vou falar com o rei, mesmo se é contra a lei. E SE EU MORRER, ENTÃO MORRO E PRONTO!" Daí ela mandou Mordechai dizer a todo o povo, homens e mulheres, para rezar e jejuar por ela durante três dias e três noites.
 
No fim dos três dias e três noites, Esther colocou sua roupa mais bonita e foi até o rei. Ela estava tão linda, que o rei estendeu o cetro para ela. Daí ele lhe perguntou o que houve, e disse que daria até metade de seu reino para ela, se ela pedisse.
 
Esther não contou nada, só convidou o rei e Haman para um jantar. Bom, eles foram, né, e ainda assim ela não disse nada, e convidou os dois para outro jantar, melhor ainda que o primeiro, e disse que só então ia dizer o que queria.
 
Haman estava super feliz com o convite. Ele saiu para passear, e, quando passou por Mordechai, viu que ele não se curvava em sua honra, então voltou para casa furioso.
 
A mulher de Haman, Zeresh, e todos os seus amigos, disseram que ele devia erguer uma estaca e pedir ao rei para pendurar Mordechai nela. Haman gostou da idéia e construiu a tal de estaca.
 
Naquela noite o rei não conseguiu dormir, então pediu para ler as crônicas do reino, e descobriu que Mordechai havia salvado sua vida sem receber nenhuma recompensa. Ele mandou chamar Haman e perguntou o que se deve fazer para um homem que agrada ao rei. Haman, pensando que o rei falava sobre ele, disse que deviam colocar os trajes reais no tal de homem, dar o cavalo do rei para ele montar, colocar a coroa real na cabeça dele, e daí  um nobre deveria puxar o cavalo no meio do povo, com todo mundo se curvando em sua honra.
 
Coitado do Haman! Ele teve que vestir e coroar Mordechai, e ainda por cima puxar o seu cavalo, anunciando ao povo que é assim se deve tratar um homem honrado pelo rei! Imagina a raiva dele!
 
Pois então, depois de passar por esse vexame, lá se foi Haman com o rei para a segunda festa da rainha Esther. Quando terminaram de comer e beber, Esther contou que era judia e que, quando seu povo fosse massacrado no mês seguinte, ela também ia morrer. O rei não gostou nada, e perguntou quem estava por detrás daquilo tudo, e Esther contou. O rei ficou uma fera e saiu da sala. Haman então se atirou no chão na frente da rainha, implorando para que ela pedisse ao rei que não o matasse. O rei voltou bem naquela hora, e pensou que Haman estava dando uma cantada na rainha, e ficou mais furioso ainda. Daí um servo contou que Haman havia construído a tal de estaca na frente do palácio para matar Mordechai, então o rei ordenou que pendurassem Haman nela.
 
Naquele mesmo dia em que Haman morreu, o rei deu todas as posses e terras dele aos judeus, e daí Mordechai se vestiu bem elegante e veio falar com ele. O rei disse que não podia voltar atrás no decreto de morte aos judeus, mas tirou seu anel real e deu a Mordechai, e foi assinado outro decreto, no dia 23 do mês de Shivan, dando aos judeus o direito de se armar e se defender no dia do ataque.
 
Assim, no dia 13 do mês de Adar, quando todos os judeus iam ser assassinados, eles se levantaram e se defenderam, e venceram em todos os lugares do reino. Daí Mordechai escreveu tudo o que aconteceu, e disse aos judeus para celebrarem, a partir de então, os dias 14 e 15 de Adar, com jantares e presentes e muita alegria.
 
E foi assim que surgiu o festival de Purim. No dia 13, a gente faz um jejum, como fez o povo na época da rainha Esther, e rezamos por Israel. Depois disso, é só festa e comida gostosa. A que mais gosto é um tipo de pastelzinho triangular chamado hamantash, que é cheio de doce. Ele representa o chapéu de Haman. Minha mãe faz as hamantashem mais gostosas do mundo. Ela enche de geléia!!!!
 
Esse dia é o mais barulhento na sinagoga, e todo mundo se diverte! Usamos todo tipo de fantasias e disfarces. Meu pai me explicou que é porque Esther disfarçou suas intenções, e também porque o milagre da salvação de Israel também veio disfarçado. Por sinal, o Livro de Esther é o único na Tanach inteira que não fala em Hashem, o Senhor. Até isto está disfarçado.
 
Outra coisa que se faz em Purim é escrever o nome de Haman na sola dos sapatos. Daí, quando a história é lida para todo mundo, na sinagoga ou em casa, a gente bate os pés no chão cada vez que ouve o nome de Haman, gritando e sacudindo groggers, que são coisas como reco-reco, e todo tipo de chocalho. É estranho ver minha mãe sorrindo quando Hanny e eu estamos gritando e pulando na sinagoga... Por sinal, ela tem uma caixa cheia de groggers para Purim.
 
Bom - espero ter explicado direitinho, e que vocês tenham gostado de ler! E feliz Dia da Mulher para todas as amigas da minha mãe!
 
Abraços,
 
Benny

 
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 07/03/2011
Reeditado em 11/03/2019
Código do texto: T2833060
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