CURIOSIDADES DA KABBALAH
A Kabbalah (diz-se "cabalá") não tem nada a ver com o que se conhece hoje em dia como Cabala. A Kabbalah é o estudo místico das escrituras judaicas, bem como as práticas místicas que se utilizam de dados gemátricos (vide texto "Gematria: uma explicação bem resumida" aqui no site). Não tenho intenção alguma em dar "aula" de Kabbalah, visto que não tenho as condições mais básicas para isto. O texto que se segue é apenas o que diz o título: curiosidades.
I
HAMSA
A primeira figura na ilustração deste texto é a Hamsa (que significa cinco, em hebraico), ou a Mão, símbolo das Sefirot (as dez emanações na Kabbalah, através das quais o Eterno - o Infinito - criou e cria todas as coisas, e através das quais o homem se comunica com o Infinito).
Vou citar direto do Sefer Yetzirah - o mais antigo e misterioso dos livros da Kabbalah, e a parte prática dela. Os parênteses explicativos são meus:
"Dez Sefirot do Nada
no número dos dez dedos
cinco oposto a cinco (cinco Sefirot vão para a direita, cinco para a esquerda)
com um pacto único (o pacto do Eterno com os homens)
precisamente no meio (o tronco da árvore, o pilar do meio)
na circuncisão da língua (controle da palavra e da permutação)
e na circuncisão do membro." (circuncisão - brit milah - e controle do sexo)
Esta estrofe ensina a posição da pessoa ao fazer uma permutação. Toda a parte prática da Kabbalah consiste em permutações, ou seja, misturar, somar, dividir e multiplicar as letras, números, o valor numérico das palavras, os diversos sons das letras, e os diversos sons de suas combinações com vogais. Amigo ou amiga, imagine só quantas e quantas horas leva para fazer uma permutação, mesmo das mais simples! Sem falar que você não pode se interromper, nem mudar de posição, nem se distrair, nem errar.
Claro que há coisinhas tipo "feitiço", incantações já famosas que se faz automaticamente. Mas uma permutação "de encomenda" é bem complicada de se fazer. Não cabe aqui explicar o que é permutação, o que já foi feito no texto "Gematria: uma explicação bem resumida".
Os assim-chamados milagres da Bíblia são todos permutações; os profetas foram todos kabbalistas. O que você acha que Moshe (Moisés) fez lá em cima da pedra, quando abriu o Mar das Sarsas (Mar Vermelho)? Ora, ele se plantou na posição kabbalística de cinco-contra-cinco, levantou o bastão de poder, e permutou, enquanto o povo cruzava o Mar em terra seca.
Na batalha contra os amalekitas, ele precisou que dois homens segurassem seus braços, para aguentar ficar com as mãos levantadas durante toda a duração da batalha. Se ele as baixava, o povo perdia a luta. Mas não me perguntem o que ele permutou, porque o Talmude não conta. Ninguém sabe, por sinal.
A Kabbalah contém inclusive uma "receita" de como se fazer um homem. O homem kabbalístico chama-se Golem, e é feito de barro. Adão foi o primeiro golem, em cujas narinas o Eterno soprou o Sopro de Vida, e ele se transformou em um ser vivente (um ser com alma).
A Gemarah (livro de comentários do Talmude) conta-nos que, durante os tempos do Gheto de Praga, no século dezesseis, o rabino Judah Loew ben Bezalel fez um golem, e o lançou para lutar contra os inimigos do povo israelita.
Contudo, o golem do rabino não possuía uma alma, já que o homem pode criar um corpo, mas não uma alma (bem como nossos robôs de hoje). Assim, o golem do rabino saiu matando a torto e a direito, chegando a matar até os judeus que viviam como goyim (não judeus). O pobre rabino, tentando salvar a situação, tentou matar o golem, mas não conseguiu. Então ele e outros homens piedosos o prenderam nos emaranhados dos esgotos de Praga - e conta a história que, um dia, o Golem de Praga vai outra vez sair, em vingança desordenada, para acabar com os inimigos do seu povo.
Um homem sem alma, fabricado para matar, precursor das modernas criações robóticas de guerra.
Contudo, o golem do rabino não possuía uma alma, já que o homem pode criar um corpo, mas não uma alma (bem como nossos robôs de hoje). Assim, o golem do rabino saiu matando a torto e a direito, chegando a matar até os judeus que viviam como goyim (não judeus). O pobre rabino, tentando salvar a situação, tentou matar o golem, mas não conseguiu. Então ele e outros homens piedosos o prenderam nos emaranhados dos esgotos de Praga - e conta a história que, um dia, o Golem de Praga vai outra vez sair, em vingança desordenada, para acabar com os inimigos do seu povo.
Um homem sem alma, fabricado para matar, precursor das modernas criações robóticas de guerra.
II
A QUADRATURA DO CÍRCULO
Um estudioso que conheci certa vez colocou a seguinte afirmação em sua grupo de estudos místicos, e achei engraçado:
"Com cálculos, nomes pomposos (periélio, afélio, etc.) e estatísticas se prova qualquer coisa, até a quadratura do círculo (...)"
Explico: A Kabbalah ensina justamente a quadratura do círculo. Observe as duas outras figuras na ilustração deste texto, e vamos lá:
O que se segue é uma meditação kabbalística muito interessante, se bem que complicada. Sou fascinada por ela. Vamos ver se consigo fazer a Quadratura do Círculo inteligível - e esqueça de momento, amigo ou amiga, toda a geometria que aprendeu:
Utilizando-se as 22 letras fundamentais do alfabeto hebraico, coloque-as em forma de círculo. No meio do círculo, coloque um ponto. Este ponto é o coração (Lev), ou a pessoa que medita, representada aqui como um Rei em guerra consigo mesmo. O seu objetivo é seguir todos os caminhos possíveis entre esses 22 pontos, o que vem a fazer um total de 231 caminhos.
Cada uma das letras do alfabeto é representada aqui por um ponto. Agora comece a conectar esses pontos entre si de todas as maneiras possíveis e imagináveis: cada um dos 22 conectando-se com cada um dos demais. O número de linhas que vamos ter é calculada assim (L é linhas e N é o número dos pontos, ou letras).
L = N (N-1) / 2
Ou seja, pegue o número, multiplique pelo número abaixo, e divida por dois.
Assim, três pontos em um círculo faz três linhas (um triângulo), quatro pontos faz seis linhas (um quadrado), cinco faz dez linhas (um pentágono), e assim por diante. Veja a terceira figura da ilustração deste texto, e você entenderá.
Ora, amigo ou amiga, sendo assim, os quatro pontos com seis linhas (o quadrado) formam a... QUADRATURA DO CÍRCULO!
Ao continuar acrescentando mais e mais linhas unindo os pontos, todas as formas geométricas possíveis e imagináveis começam a aparecer, até chegarmos às 22 letras (os pontos), formando 231 Caminhos (as linhas) e... o perfeito círculo,composto por todas as formas geométricas do universo: o Galgal (veja a figura).
Assim sendo, amiga ou amigo, nada mais lógico do que a quadratura do círculo...
Mas você deve estar se perguntando: para que tudo isso?
Ora, essas 231 linhas são os 231 Caminhos para os Portais do Conhecimento, os quais o Rei precisa penetrar para vencer a guerra consigo mesmo... e chegar a Ein Sof (o Infinito, o Eterno, Hashem). No texto "Gematria: uma explicação bem resumida", contudo, apresentei uma outra possibilidade de se chegar a Ein Sof - um atalho, por assim dizer. Mas esse atalho requer um poder que poucos estão dispostos a abraçar, porque ele exige tudo de você. Ele se chama AMOR.
Voltando à Quadratura do Círculo: imagine só quando, ao invés do triângulo/quadrado/círculo, utiliza-se a pirâmide/cubo/esfera! Aí sim, a coisa se complica ainda mais.
E daí venham me falar em avanços da ciência! Tudo já estava lá, escrito nos textos sagrados.
III
O GALGAL E A TÁBUA DE MULTIPLICAÇÃO
Eu costumava ensinar a tábua de multiplicação para meus alunos do quarto ano utilizando o Método Lógico da Kabbalah. Era tiro e queda. E como é este método?
Você coloca os Portais (aqui não mais em letras, mas em números, já que, em hebraico, as letras são números) em forma de retângulo, ao invés de círculo - e a posição dos números segue direitinho a tábua de multiplicação. Veja a figura quatro na ilustração deste texto.
Note os números: todos os da primeira coluna vertical são zeros; os da linha horizontal superior vão de um a nove, os da coluna vertical à direita de nove a um, e os da linha horizontal de baixo vão de nove a um.
Agora coloque o número 2 sobre cada uma das colunas verticais da primeira linha e multiplique por dois - e você tem a segunda linha.
Coloque o número 3 sobre a linha de cima (coluna por coluna vertical), e terá a terceira linha (acrescida das dezenas). E assim por diante.
Outra maneira de fazer a mesma coisa é horizontalmente:
Multiplique o dois pela segunda linha, e terá a quarta. Multiplique a quarta pelo dois e terá a sexta... e assim vai.
Eu dava aos alunos só a primeira linha, além da coluna de zeros, e dizia: virem-se. Com o tempo, eles memorizavam a posição dos números dentro do quadrado, e era uma guerra para ver quem terminava primeiro. Cada dia eu fazia um jogo diferente, que, é claro, resultava sempre no mesmo quadrado. No fim do mês, todo mundo sabia a tábua de multiplicação de cor.
Você pode fazer o mesmo com o cubo - mas daí a coisa obviamente se complica imensamente, e é preciso ter uma boa cabeça para números a fim de se obter quaisquer resultados - o que de maneira nenhuma é o meu caso!
A natureza se compõe inteiramente de formas, cores, sons e... números. E esta é Linguagem Universal. Certo dia minha irmã mais velha, que estudava Engenharia Química, ouviu-me a discutir Filosofia com um amigo, e disse: "Isso que vocês estudam em religiões e mitos, eu descubro com meu microscópio!"
Ao contrário do que muitos pensam, a Ciência não nega a existência do Metafísico - ela prova sua realidade. E os verdadeiros cientistas sabem muito bem que suas descobertas provam cada um dos conceitos estabelecidos pelo Infinito.