Porque morrer faz parte da vida!

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A MORTE, o medo, a dor, a razão... (republicação)

Obviedade da vida, mesmo assim sempre não querida, ela sempre vem.

Pode ser cedo ou pode demorar o tempo de uma vida, qualquer que seja esse tempo.

Mas qual o tempo da vida que deve ser vivida?

Porque se pra tudo tem um tempo, porque muitos parecem não viver o que devem viver no tempo em que vivem?

Então ela vem! E nos tira o chão... Ela vem e nos leva um pai, um irmão...

Ah, ela vem, inesperada e indesejada, mas vem.

Alguns nem pensam nela. A ignoram como se não existisse...

Mas de repente ela vem e se mostra, nua e crua, pra esse alguém, ou pra qualquer outros alguéns.

Não adianta fingir que ela não existe. Não adianta se iludir vivendo plenamente as delícias ilusórias da vida, tentando sugar todo o sumo da laranja, antes que ela venha e estrague tudo.

Mas, inimiga mortal que é, as vezes vem como amiga, e leva alguém que sofrendo, gritando e gemendo, num leito de dor, chama por ela: -

- Venha, por favor, venha!

Sabia que eu tinha medo dela?

Eu me via ali, naquele estado imóvel, e tocava rapidamente o pensamento. Mudava de assunto, pensava em outra coisa, saia de onde estava, só pra não pensar naquilo...

Então um dia eu vivi... não adiantou nada fugir.

Porque um dia ela veio. Sim... E veio duas vezes!

Mas antes dela vir, havia eu sofrido uma dor terrível, uma dor maior do que ela me causou quando veio.

Na primeira vez que a senti, com a partida de meu pai, na verdade não sofri. Senti uma ausência estranha, parecia eu que flutuava, acho até que não chorei... Ficou a ausência. O vazio. Mas estranhamente a dor não veio... Não veio dor. Não veio tristeza. Quase nenhum sofrimento... Estranhei!

Porém anos depois ela veio de novo e levou uma irmã.

Então eu não estava lá, pra ver, pra olhar a partida, pra sentir de perto. A tristeza veio chegando aos poucos. Então eu descobri o que era realmente tristeza. Estar tão profundamente triste como se num buraco profundo cheio dela. Não consegui sair dali sozinha, pois cada vez me aprofundava mais naquele sentimento extremamente doloroso e hostil...

Mas tudo passa. Tudo se transforma dentro de nós. Tudo muda e passamos a ser quase que outro ser.

A consciência e o sentimento de diversas dores me transformaram nessa pessoa que sou. E as vezes digo que não é fácil ser eu...

Mas eu sou eu e ponto final. Sou quem sou. E não tem jeito. O jeito é fazer o melhor, viver o melhor, sentir da melhor e maior maneira possível.

Mas eu tenho um grande medo. Eu não arrisco meu corpo. Arrisco minha mente, meus sentimentos, meus pensamentos, minhas crenças, dúvidas e certezas. E mesmo sem poder viver esportes radicais, pela capacidade louca de sentir, sinto a grande adrenalina dos desafios mentais.

E é por isso que falo dela. Porque hoje sei dela muito mais. Hoje ela não é um medo desconhecido, uma presença desconhecida. Hoje sei quem ela é: apenas uma porta que se abre para a outra vida, que segue além.

Porque alguém que já foi para o lado de lá pôde contar. E contou. E alguém escreveu. E eu li e cri.

Mas nem todos leram. Nem todos os que deveriam ler leram.

E negam. E se recusam. E xingam quem ousou violar a memória.

E brigam.

Têm medo.

Não sabem, não querem saber e têm raiva de quem sabe.

Por quê? ...

Havia vivido eu tantas dores, tantos medos, que não ler o livro, o que estava escrito ali, era algo fora de questão.

Então eu li. Li numa tarde de domingo. Aproveitando a solidão de estar só em casa. E li. E chorei. E acreditei. E esse conhecimento mexeu comigo, me transformou.

Depois de ter lido o livro onde quem foi meu pai , aquele que contribuiu para minha geração nesta minha vida, minha maneira de entender a vida foi ampliada. Mesmo assim essa mudança ainda esta sendo gerada dentro de mim.

Então já não tenho mais medo do desconhecido da morte. Porque ela já não é mais sentida por mim como uma intrusa, uma desconhecida, uma inimiga. Ela é apenas mais uma fase da vida, algo que todos precisamos viver. Algo que todos precisamos passar.

Maria Tereza Bodemer

Enviado por Maria Tereza Bodemer em 18/01/2018

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