Depoimento

Depoimento.

Aos vinte nove dias do mês de Outubro de 1965, conheci um jovem motorista de caminhão, Olhos grandes cabelos lisos, que fez disparar meu coração. Eu oito anos, ele vinte e seis. Estava sendo levada para frequentar uma escola pela primeira vez.

Ele nos conduzia em seu caminhão, o único meio de transporte existente na região. Eram gastas mais ou menos doze horas para percorrer cem quilômetros. Numa parada para o almoço, ele que era amigo e companheiro de futebol de meu pai, brincou de roubar o meu bife, foi a primeira vez que ficamos frente a frente .

Eu me apaixonei, é verdade!

Passaram mais seis anos, não esqueci mais aquele momento, sempre que alguém pronunciava seu nome, meu coração disparava, minhas pernas tremiam, era uma coisa muito gostosa de sentir. Passou mais algum tempo, já com catorze anos, deixei escapar a uma amiga que também era amiga dele esse sentimento. Essa amiga tinha a mesma idade da minha mãe. Nossa amizade era às escondidas pois minha mãe não tinha simpatia por ela, talvez por ciúmes do meu pai que era um tanto galanteador. Essa amiga contou a ele o que descobrira.

Parece que tudo conspirava a nosso favor, tivemos um encontro casual, eu era a vaqueira da fazenda e estava cavalgando, ou melhor, conduzindo o gado, em uma curva, nos cruzamos e trocamos cumprimentos. Ele brincou comigo; cuidado para não cair!

Quando falou de mim para nossa amiga ela o deixou a par dos meus sentimentos.

Ela faria um jantar de aniversário, onde também nos convidou. Nesta mesma noite começou nosso namoro, ou melhor, o dele, porque eu o namorava desde a primeira vista.

Porém teve dois imprevistos: Ao chegarmos no local, meu pretendente se encantou com minha irmã primogênita, moça da cidade e encantadora. Percebi que que estava sobrando. Pensei em fugir à francesa , mas, aguentei as pontas, era MUITO apaixonada. Logo a minha irmã o dispensou e eu assumi o "meu "lugar. Conversa vai conversa vem... sabe dançar moça? Não, ótimo, eu também não. São João da Barra com limão, muitos. De repente, ele falou, vamos dançar e me levou ao salão. Eu morrendo de vergonha, nunca havia dançado nem por brincadeira. Um ia para um lado o outro para outro. Eis que sugue Fulô Preto, um valentão metido a conquistador, andava armado com faca e garrucha. Aproximou-se e disse me dê a dama!. Segurando-me pelo braço. Meu pretendente me deixou e se afastou. Eu falei com firmeza, tira as mãos de mim. Ele continuou segurando, dei um grito, ME SOLTAA! E nada. Para alegria, vem meu Pai, um homem MUITO respeitado e indaga; o que É que está acontecendo aqui??? Fulô olhou em volta, não é nada não Helcino. E saiu em retirada. Como bom malandro ele sabia muito bem a hora de parar.

Namoramos por dois anos, casamos tivemos três lindos filhos, e durante vinte e cinco anos vivemos como um casal normal, eu fui muito feliz. Ele? BEM, ele se deixou amar.

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Helcina Natal
Enviado por Helcina Natal em 17/04/2010
Reeditado em 24/06/2021
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