A MORTE DO MEU PAI E MEU TRAUMA...

Meu pai Gunther Siegfried Bodemer, de naturalidade Alemã, mas naturalizado como brasileiro, tendo casado com minha mãe Elza Bodemer, ruiva de olhos azuis, filha de alemães, tiveram cinco filhos.

Graças dou a Deus pela família abençoada que ELE me colocou. A convivência era bem esquentada, porque os dois, quando estavam bravos, com a gente mesmo ou um com o outro, gritavam. Alemães são gritões.

Porém meu pai partiu desta vida em maio de 2001, com 64 anos, que faria em julho. Foi num acidente de moto. Minha mãe estava na garupa dele. Ela sempre estava... (junto com ele em tudo que é lugar).

No fim da vida, meu pai sofria dos traumas de sua vida infantil e juvenil e geral, porque tiveram que fugir da Alemanha... Isso "estourou" por volta dos 40 anos, quando então, por recomendação médica, saímos do grande movimento que é São Paulo (já era naquela época início de 1984), quando então ele nos trouxe (família) para Rondônia.

Ele sofria muito. As vezes tinha uns acessos de fúria, que era controlado com um certo remédio haldol, que parece que era o único que ele aceitava tomar. As vezes não queria tomar e minha mãe batia junto com algum suco, pra poder ter ele mais sob controle, porque seus acessos às vezes eram violentos. E quando ele voltava em si, chorava muito.

Meu pai morreu preparado. Estava sofrendo. A vida tinha se tornado insuportável para ele. Tudo o fazia sofrer muito. Na época eu não tinha muita noção do que estava acontecendo, mas depois a minha mente foi se abrindo e eu, com os meus problemas emocionais, passei a entender e também a perdoar meu pai de algum excesso que eu achava injusto.

Eu quis velar meu pai na minha casa. Era o maior espaço. Eu sentia muita necessidade de fazer isso. Meu segundo marido não queria, mas como a casa era (é) minha, então ele não tinha muito que fazer pra impedir. E o velório foi muito honroso, para nós, e para a irmandade a qual pertencemos. Minha cozinha,que na verdade é um salão, ficou tão cheio que parecia "sardinhas em lata". Todos em pé na hora do culto final, de despedida, como é o costume da minha comunidade religiosa.

Eu não sentia meus pés andando. Parece que eu flutuava. Uma sensação de sessação, rompimento... Um vazio... Não chorei.

Então aconteceu. Estava cursando já há um ano o curso de inglês, pós faculdade, porque minha Letras não me habilitou ao inglês.

Eu sempre tive muita facilidade pra línguas, tanto a portuguesa quanto a inglesa. Nesse ano estudado, ano de 2000, que continuava no ano de 2001, eu já sentia alguma fluência. Conseguia ler com facilidade e falar também já estava desabrochando...

Apagou tudo! Como se nunca eu tivesse aprendido nada de inglês. Uma revolta de outras línguas. Detesto não entender o que as pessoas falam por isso detesto outras língua. Meu primeiro impulso quando vejo alguma coisa escrita em outras línguas é ir ao tradutor do Google. Mas as vezes os impedimentos não permitem!

Meu pai não nos ensinou a falar alemão. Não falava alemão conosco, nem minha mãe. Acho que era ordem dele, que ela obedecia. Mas os dois quando não queriam ser entendidos, falavam em alemão.

Ele odiava a Alemanha. Nunca falou nada de lá pra nós. O que eu sobre o que eles passaram foi através de uma irmã dele, tia Helga, que aqui no Brasil sofreu um acidente ficou paraplégica, numa cadeira de rodas...

Uma tia que eu amo muito, morou o tempo que pode no Brasil, sendo cuidada pelo governo Alemão, porque o pai deles morreu na guerra (segunda). Mas agora mora num asilo na Alemanha. Unica da família que se comunica comigo e minha irmã mais velha, através de longas cartas escritas a mão em português, que ela aprendeu buscando, porque não podiam ir à escola brasileira. Minha querida tia Helga, hoje com quase 90 anos. Lúcida e cheia de esperanças. Acredita muito em anjos. Mas também nunca falou em alemão comigo. Acho que escondiam a naturalidade alemã, com medo de perseguição... Porque não eram loiros. Eram (são) castanhos de pele clara, com alguma exceção mais clara, mas não, loiros.

Pois é. Abandonei o aprendizado da língua inglesa, porque meu pai levou com ele esse meu desejo. Como se dissesse: contente-se com a Língua Portuguesa, porque foi no Brasil que encontramos alegria e paz, em família.

Boa noite. Até amanhã. Deus nos abençoe e proteja, sempre. Amém!!!