Uma sorte afetuosa
Apenas de pensar em seguir sozinho é chegado o momento de enlouquecer para se despedir de forma trágica. Mesmo que o mundo pareça não mais te compreender, eu sei que foi em nosso amor que tudo realmente começou a ter sentido para nós que sempre estivemos juntos apesar de que sempre tivemos o desejo de vivermos separados. Não temos mais limites e no ilimitado ouvimos todas as canções que somos incapazes de cantar publicamente.
Chega o inverno e mesmo no verão não conseguimos nos aquecer, é que muitas coisas do tempo nos moveu para fora do comportamento tão medíocre e comum. Quando você queria entrar por primeiro pela porta de teu sujo apartamento fui eu que tive a coragem de entrar e antes te avisar da bagunça que havíamos deixado. Na chegada do sono nada mais foi visto e apenas pesadelos nos deixaram conectados com as trevas que sumiram na primeira hora do dia.
O cheiro ruim não tinha mais sentido para quem usou do perfume do amor para sofrer uma profunda transformação. Um volume extraordinário do som exalado pelos animais tornou tudo incontrolável. Estávamos em plena viagem quando de repente correu o sangue de nosso passado que obrigatoriamente teve que ser engolido por nossa vontade de sempre chegarmos além da maldita dualidade.
Eu queria tanto não ser mais tão egoísta para poder ficar em vez de partir, o problema é que você e eu despertamos a fúria dos deuses que habitam em nossos corações para que algo seja feito antes que tudo fique pior do que foi criado em uma época cruel. A profundidade sempre existiu e não temos culpa por aqueles que ficam superficialmente ignorantes. Teremos uma chance para retornarmos sem o nosso prazer ser levado pela arrogância de não tentarmos mergulhar no novo.
Uma dor no peito e toda dança ao redor dos caixões não significaram nada para quem fez parte da morte enquanto lutava para que a vida fosse protegida. Perdemos muito tempo naqueles bares em que brigas eram a única saída para acabar com as nossas infinitas aflições. Se pudéssemos voltar no tempo seria tudo novamente feito de forma indecifrável por nosso senso de justiça.
Entenda que o amor não vale a pena da forma que dizem, o amor vale a pena é da forma que vivemos diante aquilo que nos agrada sem representar um exemplo para tolos ou sábios seguirem. Suficientemente estaremos soltos como leões e deixaremos com que os escravos encontrem a chave que lhes liberta que naturalmente é a inconsciência. Em nossa fé deixamos uma separação de condutas, em nosso afetos reunimos desafetos até que novas escolhas nos separem momentaneamente.
Escritor Joacir Dal Sotto