As pílulas que (não) educam
É notório, o despudorado objetivo da indústria farmacêutica em propagar a utilização em massa dos psicofármacos. Com propagandas atrativas e uma sociedade que cada vez mais, exige soluções rápidas, o teor exageradamente liberal do mercado contribui para que cresça cada vez mais, com suas soluções de eficácia bastante questionável.
Não há preocupações com os efeitos iatrogênicos que estas substâncias podem gerar e isto é algo que deve ser observado com mais responsabilidade por todos nós que inescapavelmente, adentramos o campo educativo.
A medicalização é um sintoma da contemporaneidade, dominado por um discurso cientificista que impera em grande parte das relações humanas. Nossos votos narcísicos de fazer da criança um clone, contribuem para este estrondo medicamentoso, onde muitas vezes a frustração cega os pais e dá vida às pílulas. Não nos esqueçamos de que as relações, seus desdobramentos e vicissitudes, se dão através da palavra, e com isso, podemos afirmar que a criança é um sintoma dos pais.
Ao adentrar o campo educativo, devemos estar preparados para os entorses dessa dinâmica e saber que os resultados atingidos estarão sempre aquém daqueles idealizados no ponto de partida. Ou seja, a criança nunca será um clone, pois esta, como todos nós, fará o mundo à sua própria imagem, e carregará consigo, assim como diz no poema de Drummond , as suas meias verdades.
O entorpecer da medicalização, insere a criança num vazio onde deveria estar a palavra, ferramenta educativa por excelência. Sem a palavra, não se formam as coordenadas necessárias para que a criança percorra seu sinuoso e singular processo de subjetivação.
A medicalização, nada mais é do que a renúncia dos adultos ao ato de educar, gerando assim, inescapavelmente, uma forma de infanticídio, onde os indivíduos, principalmente da área médica, com seu discurso fétido e cientificista, se escondem atrás de uma proliferação injustificável de patologias psicológicas para que possam mamar das tetas monetariamente resplandecentes de uma indústria porca e sádica.
Afinal, estamos mesmo, próximos do dia em que o pó e plástico substituirão a palavra?