Amor de valores

À medida que o tempo passa... Descubro a beleza do momento que nunca mais poderá ser vivido do mesmo jeito, na mesma intensidade. Acredito não ser minha descoberta, muitos de nós, já observou isso. Provavelmente, esta sensação ocorre, porque às coisas estão se perdendo com o tempo. Ou melhor, as pessoas não dão mais importância para os fatos e não valorizamos os momentos que já foram tão especiais; parece deixá-los ir, simplesmente... E que se vá! Muitos dirão... Tipo: foi bom enquanto durou!

Uma das angústias que são próprias do ser humano é ter a sensação de que não está vivendo do jeito certo. Que não está agindo da forma correta. Aquela velha sensação que ocorre dentro da gente, de que o tempo está passando, e que com ele passamos também. Sem nada construir, sem nada continuar, sem nada deixar. Nem mesmo a imagem, do que um dia já foi desejado enxergar de perto. Esta percepção é típica do ser humano, porque não sabe demorar nas coisas, tudo passou a não ter o mesmo encanto e valor do antes. Como se algo tivesse corroído o que de mais belo existe dentro de nós. Muitas vezes permitimos que o nosso passado, por não ter sido do jeito que esperávamos, se tornar algo que demarca nosso território com muralhas de proteção, tornando fugaz o que é tão puro. O que está sendo verdadeiro torna-se prosaico. Certamente, porque, não se saiba distinguir “o amar por necessidade; e o amar por valor.” Pois, O amar por necessidade é quando desejamos que o outro pense e aja do nosso jeito, no tempo nosso. Já o amar por valor; é amar o outro do jeito que ele é. Em qualquer tempo, em qualquer estação, em qualquer hora do dia e da noite. Porque é amor de valores, de doação.

Não se gosta de alguém mais ou menos e não se ama mais ou menos. Não se quer mais ou menos. Ou você gosta, ama e quer; ou não. Nestes casos, não podemos usar metades. Nosso coração não divide. Se sente por inteiro ou não se sente. Também porque, o sentimento verdadeiro não precisa de tempo e de teste para saber se ele existe e que se vale à pena ser vivido. Pois, ele nasce às vezes, dos mais simples e pequenos gestos. No momento em que você menos espera; no momento em que estamos desarrumados. No momento de menos ansiedade e de tamanha descontração.

Não se pode desejar a presença do outro, apenas quando nos sentimos só. Ou porque algo que planejamos não saiu da forma que queríamos. Tipo, como se o outro fosse uma válvula de escape, um refúgio para aliviar a solidão. Como um paliativo, que vem preenche um espaço que não aceitamos que esteja vazio. Sim, o espaço que aceita quantidade e não necessariamente, qualidade e verdade.

Quantas vezes muitos de nós se sente depressivo, solitário, ai então, necessitamos de amor, apenas por carência. Comparo isso a uma fantasia, algo momentâneo... E com isso acabamos ferindo tantos corações. Porque na verdade, o que precisamos é de um amor de valores, sem regras, sem tempo e sem hora.

Definiria então: quando alguém já não pode nos dar nada, quando alguém já não se encontra em condições de te oferecer o mínimo, mas mesmo aquele nada, para você ainda é tudo. Mesmo diante do nada que te é oferecido, permanecemos amando. Este é o amor de valor, de estima, de respeito.

Falo de todos os amores: amor de amizade, amor de paixões e do amor de filha e de pais e vice-versa.

Um exemplo muito pessoal, que vive neste último domingo: ao passar à tarde com minha mãe, pus minha cabeça em seu colo. Pedindo-te um carinho. Porque antes de sua doença (Alzheimer), me recebia como filha, sabia meu nome e sempre me deu carinho. Mas neste domingo, apenas tocou meus cabelos quando pus sua mão direita sobre minha cabeça. Não foi algo espontâneo como em outros tempos. E mesmo assim, meu amor por ela não mudou em nada. Mesmo agora quando ela já não tem praticamente mais nada a me oferecer, eu continuo amando-a incondicionalmente.