Certames: quando o resultado não mais importa.
A vida passa e se passa como num jogo de damas, que trava-se nas praças, com íntimos adversários, que se igualam no tempo de pelejas.
Então, ávidos pelo início do passar das horas, de frente um para outro, sentados, coloca-se as pedras no formato inicial, que incontáveis vezes assim fora feito! Tantos instantes assim se foram!
Cada mexida traz o desejo de se arrumar a dama e quanto mais ofensivas as mexidas, menores as possibilidades de próximas investidas, um “auto cercar-se”.
Mas o tempo ensina… adquire-se a capacidade de visão expandida, já se pressente os movimentos no tabuleiro, de tal forma que se ceder uma pedra ao adversário, força-o ceder duas ou mais, e abrem-se os espaços necessários aos ilusórios avanços. Mas, o mais importante é o caminho que se abre para a breve, mas deliciosa vitória, que na verdade, já não faz mais diferença, tal qual na vida, o que importa é o durante, o ensejo.
Com as damas conquista-se mobilidade e amplitude e, sem olhar o rosto do adversário, já se sabe do seu próximo passo…
As mentes concentradas desocupam-se da fixação na aproximação do fim… e chega-se à experiência, à paciência e à serenidade, e aí descobre-se, não somente as vulnerabilidades dos oponentes, mas também a necessidade de tê-los ali, sempre por perto…
Eis que de tantos e tantos certames arrojados e lances incríveis, já passa-se a ver no outro, os seus outros eus…
Velhos amigos são vísceras que se adquire com o tempo… quando um já não vem mais, para o sadio confronto, essa ausência faz-se insuportável abstinência, morre parte da alegria, a praça silencia mais uma vez…
E como as pedras no tabuleiro, os que permanecem para as pelejas, na defensiva, desviarão suas mentes a cada instante, mas na certeza que elas, de uma hora para outra, serão também “comidas”.