O pai de um amigo está internado

Salve. Bom dia. Mensagem sem foto para ler...

O pai de um amigo está internado. Um senhor a caminho dos oitenta anos. Ele não é celebridade nem notícia de primeira página. Apenas um cidadão comum como tantos outros. Alguém que ao longo da sua vida fez coisas boas e fez coisas ruins iguais a outros tantos. É apenas um pai negro, de um amigo negro, e com doença de negros. Mas poderia também ser um pai branco, de um amigo branco, e com doença de brancos. Alguém que poderia ser o meu, o seu, o nosso pai, o pai daquele nosso amigo, parente ou familiar. Um pai que fez coisas boas e fez coisas ruins semelhantes a outros tantos pais. Assim como eu, como você, como nós fazemos, deixamos de fazer ou um dia faremos.

Eu não conheci o meu. Foi cedo. Ou foi tarde. Não tenho parâmetros. Assim quem tem pai é referência invejável pra mim. Seja boa ou ruim. Gostaria que meu pai estivesse vivo nem que fosse para batermos de frente. Segundo um provérbio africano "Toda verdade tem três lados: a minha verdade, a sua verdade e a verdade".

Mesmo internado, o pai desse meu amigo pensa nos amigos e fala deles. A diferença é que ele não tem nem usa Email, Facebook, Twitter, Instagram, Zap Zap... Apenas rememora, conta causos, sentimentos, lembranças boas e ruins a quem está presente. Será que os amigos dele sabem que ele está internado e vão visitá-lo? Um verso do mestre Carlos de Assumpção puxa a minha orelha: "Piedade não é o que eu quero/Piedade não me interessa/Os fracos pedem piedade/Eu quero coisa melhor".

Fui na companhia do meu amigo porque sozinho não vou a casas de repouso, hospitais, presídios, velórios... Algo me trava. Deixa-me sem voz, sem ação. O tumulto que me vai por dentro estampa-se em meu rosto. Algo incompreensível para quem vai sozinho a vários lugares, independente de horário, tempo, distancia, situação. Algo inaceitável para quem encara palco, publico, policia, de microfone ou câmera nas mãos. Estou me esforçando para superar. Se Freud explica, Fanon também. A memória me remete a uma reflexão de Geni Mariano Guimarães: “Não há necessidade de passadas longas. É necessário sim, que não fiquemos parados”.

Estimo melhoras ao pai do meu amigo. Daqui da Cidade Tiradentes continuo pensando nele. Pelas paginas de um livro de Cícero Buark ele me diz: “Alguns nascem sem pais, mas os encontram no decorrer da vida”. Será que encontrei ou ainda encontrarei o meu? E você, encontrou o seu? Talvez eles estejam presentes. Estão do nosso lado. Mas nós não os vemos nem lhes damos o devido valor. Egoísmos, preconceitos, intrigas, alienação parental, dinheiro, religião... Quando não os afastam, os transformam em seres invisíveis.

Tenho mais de uma centena de amigos e amigas neste perfil. Incluindo familiares e parentes. Será que tenho mesmo? Ou é apenas um número pomposo, porém com pouco significado?

Sei que amigos, familiares, parentes não são apenas quem está presente. Ou que aparece em momentos de infortúnio ou de comemoração e depois some. Cada tem seu corre, sua lida, seu jeito de ser e relacionar-se com o mundo. Aqui é uma rede social de rostos. De rostos bem felizes. Será que estão bem e felizes? E cada dia aparece mais um. Alguns conheço, outros não. São amigos de amigos querendo ser meu amigo. Sendo assim, receba e mande-me um OI! Antes que eu me esqueça: Se cuide... Voe! Click, Click, Click...

Cidade Tiradentes, 07/09/2016.

Publicado originalmente no Facebook:

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