ANTÔNIO DE OLIVEIRA

O Professor Antônio de Oliveira, de Belo Horizonte, a convite de Sônia Ortega, veio participar de minha festa de uma maneira especial.

Ele é um grande amigo. Obrigada, professor. Deu uma grande remexida no meu Baú de Lembranças! Um grande abraço para você e sua família. Fernanda

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Presto um tributo a Divinópolis em homenagem à poetisa Fernanda Araújo. Abraços.

Antônio de Oliveira

Consultoria Acadêmico-Educacional

CAEd Ltda. www.caed.inf.br

DIVINÓPOLIS NA MEMÓRIA DE AFETOS

Prof. Antônio de Oliveira

A impressão causada por uma visita a Divinópolis, anos depois, nunca é a mesma. Pois essa cidade, no oeste de Minas, também nunca é a mesma: progride, não para no tempo. Tempo cronológico, entenda-se, pois tempo psicológico é de outra natureza, e este pode parar, instalar-se num recanto da memória. Tudo parece um Agora distante, de uma ágora que ficou na lembrança. Uma névoa tênue nos separa no tempo, e com o tempo: névoa mista de saudade e de cidade invisível. Divinópolis aqui é símbolo real, da cidade, e símbolo estendido de tantas outras cidades do divino que ocupam nosso imaginário. Um misto de vontade de começar de novo e sensação de ter realizado uma corrida e combatido razoável combate. Sobretudo, guardado a fé.

Na sua releitura e à sua maneira, a memória, sorrateiramente seletiva, desenha e redesenha seus arquivos periodicamente regravados. Minha Divinópolis está feita de minhas lembranças. Para mim, hoje, um lugar imaginário. Revisitando-a anos depois, senti-me como passageiro que desce do trem “numa” das últimas estações. Pouco antes, havia, no meu imaginário, passageiros com os quais a conversa só engrenara na última hora. Viajava pensativo no trem de minha história. A cabeça reconstruía paisagens no horizonte: ruas, beco da zona boêmia, então malvisto (hoje revitalizado, o beco; a zona também está revitalizada em tantos motéis...), praças, gente, quarteirões e esquinas, numa arquitetura desenhada de nostalgia. Ao aterrissar desse bonde da história, a poeira ou a lama de antigas ruas de terra estava sepultada pelo asfalto. Casas, prédios, igrejas, colégios, tudo parecia menor, ou... talvez seja apenas a vida que encolhe com o tempo.

Até parece que algumas fases de nossa vida são verdadeiras reencarnações. E, com mais força, pois dessas fases temos consciência. Elas, essas fases, não mais existem, mas persistem na duração do nosso espírito. Por favor, não estou defendendo um princípio, uma tese, uma crença, um dogma de caráter filosófico-religioso. Portanto, sem polêmica. Apenas estou expondo e partilhando um sentimento, sem observância, no caso, do silêncio obsequioso para com a ortodoxia.

Se Minas são muitas, Divinópolis, para mim, são duas: a primeira, um retrato na parede; a segunda, conglomerada e movimentada, aí está. No retrato da parede, o Largo da Matriz (Praça da Catedral), ainda de terra. Empoeiraaaaaada... talvez como minha lembrança. Se chovia, a poeira virava barro; se o tempo era seco, a poeira se levantava em redemoinhos. Redemoinhos que se levantam agora na memória desbotada e se espiralando por descaminhos. “Se não podes sonhar, sacode os baús empoeirados” (Fayad Jamis). Andei por Divinópolis, não para reconhecê-la, mas para recuperá-la, resgatá-la. Resgate que repasso agora a amigos reais, de carne, osso e coração, em tertúlias virtuais, inimagináveis naquela Divinópolis de então. Agora...

Em Divinópolis, anos depois, o tempo para mim se desmoronou. A escola em que Isa, minha esposa, estudara, no internato do Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração: esmirrado entre prédios e enjaulado por edifícios, sem a imponência arquitetônica de outrora. Cidade diferente, mudada, agitada, sem tempo para reconstruções mentais fazendo ganchos com o passado. Não importa. Somos hábeis em criar problemas imaginários. Por que não criar também soluções imaginárias? Entrelaçando o passado, dando-lhe caráter de continuidade, revestindo-o sem angústia, tecelões do tempo, com uma túnica inconsútil.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 19/10/2009
Reeditado em 19/10/2009
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