De Cazuza à mentira dos ídolos
Dalva Agne Lynch
Estava assistindo ao filme "Cazuza", e me lembrei de todos os comentários que li a respeito - de como um drogado e devasso era homenageado de tal maneira, e que mau exemplo é isto para a nossa juventude, e...
E pensei num Fernando Pessoa, viciado em bebida; um John Lennon mergulhado em LSD; uma Janis Joplin morrendo do overdose. E Baudelaire, Yeats, Gauguin, Van Gogh, Rachmaninoff, e...
Parece que o preço da arte sempre foi, através dos milênios, a vida destroçada por drogas, álcool e loucura daqueles que lhe foram vasos.
Com o tempo, entretanto, as novas gerações esquecem a devassidão de um Mozart, a crueldade de um Gaugin, a amoralidade de um Wagner - e endeusam o frágil vaso de onde saiu a obra.
Mas o vaso foi, e sempre será, desprezível. Talvez a grandeza da obra tire do criador tudo o que ele tem, deixando apenas a casca.
Então a pintura, o texto, a partitura, a canção - se perpetua. E o autor, em todo o seu envilecimento, passa da sordidez da vida à falsidade da glória.
Afinal de contas, nossos ídolos são, todos eles, mentiras. Do roqueiro Cazuza ao maestro Mozart.
O que fica de tudo, é a certeza de que a Arte é AMORAL, bem como ATEMPORAL. Ela transcende o mero vaso de onde saiu.
Ou talvez o criador tenha que se perder, para que a obra surja. Para que a glória da genialidade não reste sobre o gênio, mas sobre o Criador do criador.
De uma certa forma, a obra é a redenção do artista.
Dalva Agne Lynch
Estava assistindo ao filme "Cazuza", e me lembrei de todos os comentários que li a respeito - de como um drogado e devasso era homenageado de tal maneira, e que mau exemplo é isto para a nossa juventude, e...
E pensei num Fernando Pessoa, viciado em bebida; um John Lennon mergulhado em LSD; uma Janis Joplin morrendo do overdose. E Baudelaire, Yeats, Gauguin, Van Gogh, Rachmaninoff, e...
Parece que o preço da arte sempre foi, através dos milênios, a vida destroçada por drogas, álcool e loucura daqueles que lhe foram vasos.
Com o tempo, entretanto, as novas gerações esquecem a devassidão de um Mozart, a crueldade de um Gaugin, a amoralidade de um Wagner - e endeusam o frágil vaso de onde saiu a obra.
Mas o vaso foi, e sempre será, desprezível. Talvez a grandeza da obra tire do criador tudo o que ele tem, deixando apenas a casca.
Então a pintura, o texto, a partitura, a canção - se perpetua. E o autor, em todo o seu envilecimento, passa da sordidez da vida à falsidade da glória.
Afinal de contas, nossos ídolos são, todos eles, mentiras. Do roqueiro Cazuza ao maestro Mozart.
O que fica de tudo, é a certeza de que a Arte é AMORAL, bem como ATEMPORAL. Ela transcende o mero vaso de onde saiu.
Ou talvez o criador tenha que se perder, para que a obra surja. Para que a glória da genialidade não reste sobre o gênio, mas sobre o Criador do criador.
De uma certa forma, a obra é a redenção do artista.