(English version after the one in Portuguese)
 
 

Estigma de Esmeralda
 ©Dalva Agne Lyhnch
 
Você deve conhecer a história de Esmeralda, a cigana, no conto infantil “O Corcunda de Notredame”. Nesse conto, Esmeralda é perseguida pela igreja vigente e por todos os veneráveis dirigentes políticos da cidade como sendo bruxa, e, apesar de receber auxílio do Corcunda de Notredame, termina sendo queimada na fogueira.
 
Qual foi o crime de Esmeralda? Ser bruxa? Ser cigana?
Não. O crime de Esmeralda foi acender os instintos dos dirigentes políticos e religiosos da cidade. Eles a desejavam, a despeito de suas convicções religiosas e/ou políticas, e não conseguiam explicar nem mesmo a si mesmos o que sentiam. Enquanto isso, as santas esposas, mães e namoradas se encheram de ciúmes de Esmeralda, então os homens, para se safarem, alegaram que haviam sido enfeitiçados por ela. Aquilo explicava tudo, não é mesmo? Estava claro que ela era uma bruxa, e que precisava ser eliminada a fim de libertar os pobres homens de seu feitiço.
 
A história de Esmeralda não é apenas uma história. Ela tem se repetido desde que o mundo é mundo, com homens destruindo a reputação de mulheres inocentes porque eles as desejam. Esposas e namoradas excluindo mulheres inocentes de seu convívio porque seus maridos, namorados e noivos não conseguem controlar sua lascívia.
 
Seria por que essas mulheres são mais belas que as demais? Mais bem vestidas? Mais espertas? Não. Tanto assim, que mulheres bonitas e bem vestidas fazem muitas amigas, e são bem vistas por toda parte.
 
O que acontece é que essas mulheres sofrem do Estigma de Esmeralda.
 
Certa vez, quando morava no Egito, fiz uma grande amizade com uma muçulmana. Ela era gordinha, cobria-se da cabeça aos pés, e estava em seu segundo filho. Jamais levantava os olhos na presença de um homem. Uma tarde ela me confidenciou que nunca fora mais feliz em toda sua vida. “Acho que eu era muito ocidentalizada. Os maridos e filhos de minhas conhecidas não escondiam seu interesse, e nunca consegui ter uma só amiga. Agora, entretanto, perdi minha figura e resolvi vestir a galabeya (a burka do Egito). Agora eu tenho amigas, e os homens não me incomodam mais.”
 
Minha amiga sofria do Estigma de Esmeralda.
 
E o que é esse Estigma? Ele é a capacidade que algumas mulheres possuem de inadvertidamente acender os instintos masculinos, sem relação alguma com beleza, idade, ou qualquer outra coisa. Sinceramente, não sei o que venha a ser. Apenas é.
 
Há muita diferença entre ser uma mulher “badalada”, que gosta de sair, de se divertir. Geralmente essas mulheres fazem muitos amigos e amigas. Não – a mulher com Estigma de Esmeralda primeiro levanta os instintos masculinos, e depois levanta a sua raiva, quando o homem é rechaçado, o que o leva ao desprezo e à vingança. Ele então procura destruir a reputação da mulher que se negou a ele.

Ao mesmo tempo, esse Estigma levanta também o ciúme e a desconfiança das mulheres, que percebem de longe o que está acontecendo com seus maridos, namorados e filhos, e, ao invés de entender que a culpa é deles, acusam a mulher de ser sedutora, ou fácil, ou seja lá o quê.
 
E por que estou escrevendo sobre isto? Porque tenho percebido que há muitas e muitas Esmeraldas por aí, sentindo-se excluídas, solitárias, pensando que há algo errado com elas, e sem entender o que se passa consigo mesmas. E porque há muitos homens por aí que deveriam aprender a respeitar aquelas por quem se sentem inexplicavelmente atraídos. Afinal, não é culpa de uma mulher se um homem a deseja, a menos que ela o tenha claramente provocado.
 
Agora, se o homem é solteiro, a coisa muda um pouco de figura, é claro, a menos que ele tenha algum tipo de compulsão sexual que o faça “dar em cima” de toda e qualquer mulher que lhe apareça à frente. Mas isto já vem a ser outra espécie de problema, classificado pela ciência como um vício que precisa ser tratado.
 
O que interessa aqui é o homem comprometido, “normal”, atraído por alguma mulher que não lhe deu incentivo algum. Um homem comprometido deveria respeitar sua companheira o suficiente para engolir seus instintos, porque as consequências sempre foram e serão devastadoras. Sem falar que, quando a enfatuação terminar, ele vai apontar o dedo para a pobre mulher por quem se sentiu atraído.
 
Se você é judeu ou judia, e tem qualquer respeito para com a Halachah (a Lei judaica), saiba que Deuteronômio 23:17 diz, segundo algumas traduções: “Não farás prostitutas as filhas de Israel”. E isto inclui desrespeitar, difamar ou fazer piadinhas e fofoca a respeito da reputação de uma judia por quem você se sente ou se sentiu atraído, ou por quem seu companheiro se sente ou se sentiu atraído. A menos que a outra mulher estivesse provocando, o que raramente é o caso.
 
Se você é cristão ou cristã, veja o que disse Jesus à multidão que ia apedrejar uma mulher acusada de adultério: “Quem dentre vós estiver sem pecado, que atire a primeira pedra”. E a história continua, afirmando que todos os acusadores da mulher se retiraram.
 
Agora, se você não é cristão/ã nem judeu/judia, simplesmente tome cuidado com as Leis de seu país, que são bem claras a respeito de difamação de caráter. Até mesmo o que você coloca no seu Facebook pode ser usado numa corte de Justiça contra você.
 
Não sei se o que escrevi aqui vai ajudar um pouco minhas companheiras que sofrem do Estigma de Esmeralda, e se sentem acuadas com o constante assédio masculino. Tampouco sei se vai desencorajar um pouco aqueles homens que pensam que dar em cima de toda mulher que lhes acendam os instintos é seu direito masculino “inalienável”. Duvido, mas espero que sim.
 
Amigo, a coisa é que você não tem esse direito. Você não é um cachorro, incapaz de se controlar. E uma mulher, sob hipótese nenhuma, é um objeto para seu uso. Nós somos todos divinos, e faz parte da vida aprender autocontrole.
 
Acima de tudo, aprenda a respeitar a mulher ou namorada que você mesmo escolheu como sua companheira. E, caso for solteiro, aprenda a deixar de lado o que você considera seus “instintos naturais”, seus chavões de conquista e sua empáfia – ou jamais encontrará um relacionamento que lhe acrescente.
 
E por sinal – saiba que a mulher que vive sob o Estigma de Esmeralda raramente é idiota. É bem capaz que ela se vingue de você, e transforme sua vida num inferno...
 
Pense a respeito.
 
 
English version:
 
 

The Esmeralda Stigma
 
©Sarah D.A. Lyhnch

 
I´d been thinking about writing the following message for the last few months but couldn´t find the right words. I started it, deleted it, wrote it as a poem, it didn´t work out…Now I´m sitting here in front of my screen defying medical orders because it seems like I finally got it. So here it goes:
 
Of course you know the story of Esmeralda the Gypsy, from the tale “The Hunchback of Notre Dame”. In this tale, Esmeralda is harassed by the town´s venerable Church and  political leaders who called her a witch, and even though she´s helped by the Hunchback of Notre Dame she ended up being burned on the stake.
 
What was Esmeralda´s crime? Being a witch? Being a Gypsy? No – Esmeralda´s crime was to turn on the political and religious leaders´ sexual instincts. Despite their religious and/or political convictions, they desired her and couldn´t explain what they were feeling even to themselves. In the meantime, their saintly wives, mothers and girlfriends got jealous of Esmeralda, and the men claimed to have been seduced by her so as to acquit themselves. That´d explain everything, wouldn´t it? It was clear she was a witch and had to be eliminated so as to free the poor men from her spells.
 
Esmeralda´s story isn´t just a story. It has been repeating itself time and time again since the beginning of time, with men destroying innocent women´s reputations because they lust after them. Wives and girlfriends shunning innocent women from their midst because their husbands, boyfriends and fiancés aren´t able to control their lusts.
 
Would that be because those women are more beautiful than the rest? More well-dressed? Smarter? No. So much so that beautiful and well-dressed women have many friends and are well thought everywhere.
 
What happens is that those women suffer from the Esmeralda Stigma.
 
When I lived in Egypt I had a good friend who was Muslim. She was chubby, covered herself from head to foot and had two small children. She´d never look up in the presence of a man. One day she confided me she had never been so happy in all her life. “I think I was too Westernized. The husbands and children of the women I knew didn´t hide the feelings they had for me and I never managed to have a single friend. However, now I lost my figure and decided to use the galabeyah (the Egyptian burka), and now I have friends, and men don´t bother me anymore”.
 
My friend suffered from the Esmeralda Stigma.
 
And what is this Stigma? This Stigma is the ability some women have of inadvertently turning on men´s sexual instincts, no matter their beauty, age or any other factor. I honestly don´t know what it is, it just is.
 
This is very different from being a woman who likes to go out and have fun. Usually that kind of woman have many friends. No – the woman under the Esmeralda Stigma first turns on men´s desires, and then they turn against her when are rejected, which makes them to despise her and then seek revenge. And so they try to destroy the reputation of the one who didn´t give them what they wanted.
 
At the same time, this Stigma also turns on other women´s jealousy and distrust, because they can perceive what´s going on with their men, and instead of understanding who´s to blame, they accuse the woman of being seductive or easy or whatever else they can come up with.
 
And why I´m writing about this? I´m writing about this because I´ve noticed how many Esmeraldas are out there, feeling excluded, alone, thinking there´s something wrong with themselves and not understanding what´s going on. And also because there are many men out there who should learn to respect the ones they felt inexplicably attracted to. After all, it´s not a woman´s fault if a man wants her – unless she had clearly provoked him.
 
Of course things change a bit if the man is single, unless he has some kind of sexual compulsion that makes him hit on every woman who happens to be on his way. However, this is another kind of problem, deemed by Science as an addiction to be treated.
 
What matters here is the “normal” man who´s not single and feels attracted by a woman who didn´t give him any incentive. A man who´s not single should respect his wife or girlfriend enough to swallow his instincts, because the consequences were and always be devastating. Not to mention that when his infatuation is over he´ll point the finger at the poor woman he had been attracted to.
 
If you are a Jewish man or woman and have any kind of respect for the Halachah (the Jewish Law), please notice that Deuteronomy 23:17 says, according to some translations, “You shall not make whores the daughters of Israel”. And this also includes libel, bully and gossip about the woman you are or were attracted to, or by whom your man was or are attracted to. Unless she was provoking him, but this is hardly ever the case.
 
If you are a Christian, take a look at what Jesus said to the multitudes who were about to stone a woman accused of adultery. “Whoever among you is free of sin, let him throw the first stone.” And the story goes on to tell that all the woman´s accusers were gone.
 
Now, if you´re neither a Jew nor a Christian, just be careful with your Country´s Laws, which are very clear about defamation of character. Even your posts on Facebook may be used against you in a Court of Law.
 
I have no idea if what I wrote here will be a help to my co-sufferers of the Esmeralda Stigma, who feel virtually cornered by constant male harassment. Neither do I know if this will discourage a little those men who think that hitting on every woman who turns them on is their divine right. I doubt, but at least I can hope.
 
My friend, the thing is that you don´t have this right. You are not a dog unable to control your urges. And under no circumstances a woman is an object to be used by you. We are divine, and learning self-control is part of life.
 
Above all, learn to respect the wife or girlfriend you yourself chose to be your companion. And if you are single, learn to put aside what you think are your “natural instincts”, your cliches and your self-conceit – or you´ll never find a meaningful relationship.
 
Anyway, you better know that the woman who lives under the Esmeralda Stigma is hardly ever stupid. It´s very possible she´ll turn against you and get her revenge, making your life a living hell.
 
Think about it.
 

 
 
 

Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 08/08/2016
Reeditado em 16/03/2023
Código do texto: T5722630
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