O sábio no abismo

O teu templo interior talvez não esteja bem ajustado e dentro de tal concepção você acredita que precisa entrar em contato com outros templos exteriores que tragam sentido ao teu mundo. Talvez você não consiga dar sentido ao teu próprio mundo e julga que os outros são os culpados pelo teu completo fracasso. Não existe um templo perfeito além de si mesmo e em tua busca pela aplicação da perfeição com toda certeza não terá sucesso.

Um mundo novo sempre começa e o que mantém-se intacto é o tempo. Diante o tempo somos apenas alguém que passa e se despedaça, seja em luz ou seja em escuridão. Quando não passamos pensamos que encontramos o sentido e na primeira dificuldade choramos ou simplesmente partidos deixando saudades.

Não é que a vida seja trágica, é que naturalmente uma natureza humana é repleta de tragédias. O sentido da filosofia é o mesmo da religião, o sentido da solidão é o mesmo da massa. O que refaz ou desfaz todos os sentidos é ganhar poder, é perder poder, é ser potente, é ser impotente.

Poderemos dormir tranquilos e embriagados desde que no dia seguinte tenhamos bom ânimo para seguirmos em frente. Não podemos é negar o agora acreditando que se cairmos no abismo seremos salvos pela mão divina ao pedirmos socorro. Tudo nos será dado desde que nada que está sendo feito seja negado durante uma longa jornada que teremos que eternamente repetir.

Vamos olhar e deixar de olhar repentinamente, vamos chorar em um ritual selvagem que nos traz o riso quando encontrarmos a presa. Veja que os outros choram e se contigo não possuem forças para partirem tenha coragem é para abandonar quem nunca desejou ajudar a si mesmo. Das imperfeições junte tudo aquilo em que o teu melhor foi dado e o restante não passa do passado que com certeza não poderá ser repetido no futuro.

Que o tempo seja um nada ou tudo, que o tempo seja o teu tempo em sintonia consigo mesmo sem regras morais. Faça do tempo o teu tempo e o nosso tempo, da luz uma parte do dia e da escuridão uma parte da noite em que dormimos abraçados ou corremos pela floresta para não nos cansarmos de todos os dias encararmos o sol. Se partirmos que possamos deixar boas lembranças, se estamos que sejamos maravilhosos acompanhantes que não ficam desesperados pelo que ainda nem aconteceu.

Na tragédia está o silêncio e do silêncio nascem grandes reflexões, na guerra está a paz e na paz está o preparo para grandes guerras. Os pastores são símbolos religiosos e os cordeiros não passam de pedaços despedaçados dos grandes ideais. Com poder permanecemos, sem poder se vai a energia vital, a energia que é a razão do bem viver.

O que é feito no dia não passa do que é diferente na noite e retorna igualmente no dia seguinte até que seja eternizado. O abismo engole os tolos e sábios, sendo que apenas os tolos caem arrependidos e apenas os sábios descem dançando pelo eterno abismo. Quando negarem algo para o sábio que tanto luta não existirá dor por existir no sábio a necessidade de nunca pedir antes de agir e fazer por merecer o que está dentro de si mesmo.

Escritor Joacir Dal Sotto​

Joacir Dal Sotto
Enviado por Joacir Dal Sotto em 15/04/2015
Código do texto: T5207401
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