Separado do rebanho
Andei pelo paraíso do mundo e para alguns também estive nas profundezas do mundo oculto que aos meus olhos nunca foi oculto. Fiz do amor uma porção de lindos poemas. Cantei na solidão até que o novo dia me levasse pela embriaguez.
Interpretei antigos pergaminhos e compreendi a totalidade quando percebi que a minha vontade era a verdade. Sempre tentei fazer tudo corretamente e por muitas vezes o que era certo ao meu coração não agradava uma maioria. Rezei achando que tudo passava e bem no fundo eu sabia que apenas o meu comportamento transformaria a realidade.
Contrariei várias pessoas por egoísmo e enfrentei velhos valores por prazer em experimentar tudo o que estavam negando. Fui em igrejas, olhei o mar do alto dos apartamentos e apenas quando voltei para dentro de mim mesmo consegui ver luz. Estudei tudo o que tinha de novo e velho sendo que apenas refletindo sem pressa encontrei sabedoria.
O paraíso do mundo é o paraíso do meu mundo e o meu mundo que parece estranho é a minha verdade, é o meu amor próprio, é a minha estadia eterna que habita diferentemente em cada ser. Quem ama é romântico, é complexo para ser guiado pela sensualidade de quem não ama. Nunca fui levado pela embriaguez e fiz da embriaguez mais uma de minhas metáforas para gerar ódio nos fracos que me invejam ou uma falsa indiferença por parte de quem não cuida dos próprios sonhos.
Grandes mestres desfazem o rebanho, refazem os pergaminhos em prol da liberdade individual e nada é tão devastador que não possa fortalecer, e nada é tão intenso que não possa ser exigido para compor o caminho. Entre muitos ou poucos nada mais do que a vontade individual, entre céticos e crentes nada mais que razão sem graça ou dívida para com Deus. Mover-se como se os sonhos exigissem planos, exigissem disciplina, exigissem persistência, exigissem risco, exigissem coragem, exigissem apego ao agora.
Serei eternamente o que apoia o novo, o que irá romper quando traído, o que irá explodir de tanta luz, o que irá dançar ao redor da fogueira até que no meio do inverno seja possível transformar todos os valores através do simples questionamento. Percebi no meio do vale que cordeiros ainda eram sacrificados e que um grande cordeiro não tirou os pecados do mundo, e que apenas o pecado de não sentir-se pecador é que salva quem luta insistentemente no agora para ecoar na eternidade. A academia é por muitas vezes menos valida nas questões de conhecimento do que uma vida simples em que reflexões são feitas para o bem viver.
Escritor Joacir Dal Sotto