O DEUS DA LITERATURA

João de Paula esteve com o Deus da Literatura.

Não soube aproveitar a vez e ficou sem fama.

- João Batista de Paula- Escritor e Jornalista.

A verdade foi a seguinte:

Eu tinha a idade do poeta e professor Aleilton Fonseca, meus 22 anos de idade, quando também o mesmo recebeu carta de Carlos Drumonnd Andrade. Eu, cearense do interior e que só conhecia, na prática, a literatura de José de Alencar, com sua Iracema de lábios cor de mel; e o Monteiro Lobato, do Jequitibá Imponente e Gabola da Floresta, e Machado de Assis; e o Jorge Amado, conhecia por causa da Novela Tieta do Agreste.

Quando cheguei na Bahia em meados de 1984, meu sonho era conhecer Porto Seguro e Arraial da Ajuda, pois, aprendemos na Escola que foram as cidades por onde o Brasil foi Descoberto em 1.500, e celebrada a primeira missa do Brasil. Em Ilhéus, queria conhecer o Vesúvio e a sede onde funcionou o Bataclan.

O Jorge Amado, confesso, foi uma novidade para mim. Estava divulgando o meu primeiro livro intitulado “Você é Importante” e, também, já exercia a função de repórter em Itabuna em 85 e 86.

Então, o Jorge Amado estava agendado para conceder entrevista coletiva à imprensa, em Ilhéus. Eu estava lá no hotel, esperando o Jorge Amado e os demais colegas de imprensa.

Na época , ele falou da novela, tocais, musicas de pescadores, e de sua vida em Ilhéus. Histórias do Bataclan e do Vesúvio, boêmia, e outras assuntos.

Terminada a coletiva à imprensa, entreguei um livro meu com um bilhete, com as seguintes palavras de um jovem sem ambição: " Tudo de bom para o Senhor: o Amado de Itabuna e Ilhéus. Você é importante para todos nós. Este é meu primeiro livro. Se o senhor gostar de, pelo menos, uma frase, escreva-me, pois, conto com seu apoio cultural".

Em Itabuna, eu não tinha endereço certo, mas, na época havia contratado uma Caixa Postal de número 35, na Agência Central dos Correios, onde tive posse dela por mais de dez anos, exatamente, para poder receber minhas correspondências e assinaturas de revistas.

Então, comecei a amar Itabuna, sua gente, a fazer reportagens e sempre matérias do campo, ou seja, da zona rural. Era assunto daquela época: morte de fazendeiro, tocaia quando o fazendeiro programava pagar seus funcionários, bem como, invasão de terras, invasão dos sem terras e história de poder, cacau e desemprego.

Eu atuava como repórter e tinha o apoio de Dom. Paulo Lopes de Faria através do CIMI- Comissão Indígina Missionária de Itabuna, onde acompanhava de perto o trabalho da Igreja na Zona Rural de Vários Municípios da Região Cacaueira.

Foi assim que conheci a realidade tal como ela é.

Foi quando percebi que Jorge Amado, escrevia a estória da região, apenas, trocando os nomes de pessoas. Era diferente da história de José de Alencar, que narrava uma beleza sem igual, igualmente estava eu embriagado, ainda, com as narrativas de Monteiro Lobato e de Machado de Assis. Sinceramente, eu não imaginava que estava Diante de um Deus da Literatura.

Fiquei sabendo, também, que o Jorge Amado não gostava de dizer, que era filho de Itabuna, que havia nascido em Ferradas, em Itabuna. Sempre dizia que saiu de Ilhéus para a capital. Não lembro dele afirmando, em nenhum momento, nas entrevistas, que amava Itabuna; mas, sim Ilhéus.

Quando recebi a carta de Jorge Amado, dentre outras, não foi essa emoção tamanha, pois, não tinha tanta admiração pelas suas obras e, nem sabia, que ele teria fama internacional.

E a cartinha, com meia dúzia de palavras dizia: " Jovem poeta e jornalista, João Batista, acuso o recebimento do seu livro. Siga em frente, Salvador -Ba".

Por causa do Livro de Autoajuda, recebia várias cartas toda semana de gente de Itabuna, Ilhéus e por onde andava divulgando o livro, bem inocente, de época que vivia na igreja e na escola, que acreditava muito na beleza e na inocência das pessoas.

Fiquei feliz com a cartinha do escritor Jorge Amado. Mostrei a carta ao Assessor de Imprensa da Prefeitura de Itabuna, Pedro Ivo Bacelar, na época assessor do prefeito Ubaldo Dantas, que esteve comigo na entrevista coletiva, quem me incentivou a entregar o livro para ele.

Pedro Ivo também disse poucas palavras: " Que bom, João". Almoçamos juntos. Ele, sequer, registrou em coluna. Então, mandei a mesma para a cesta do lixo.

Hoje, após 27 anos, conhecedor e sabedor das coisas, com uma nova visão, refletindo, pensei :

“Besta fui Eu que rasguei a Carta que o Jorge Amado escreveu para mim, em meados de 1985, quando eu começava a colocar os pingos nos ís. Nunca imaginei que a cartinha de incentivo seria um Cheque em Branco ou um Passaporte para mim no Mundo das Letras”.

Isto sim, é arrependimento. Porque vale o preto no branco. Se eu tivesse ouvido algumas palavras dos "entendidos" da época, com certeza a carta teria página de ouro em meus livros futuros; mas, infelizmente, na época eu era desprovido de ambição e interesse.

Hoje, refletindo em tempos que não voltam mais e que só faz boas recordações quem as tem, quase corto minhas mãos santas, mãos da vitória, por causa dessa minha falta de visibilidade em jogar no lixo, uma missiva tão importante. Embora, prevaleça a boa fama e Deus.

Hoje, se estivesse com a carta em mãos, mudaria até minha assinatura para João Amado, tamanha boa fama. Mesmo assim, sou grato, pois somos amados de Deus.Somos todos colaboradores do Planeta Letras.

João de Paula
Enviado por João de Paula em 18/02/2014
Código do texto: T4696003
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