Para o Bem Maior
© Dalva Agne Lynch
Durante toda minha vida adulta, eu me dediquei a estudar religiões, mitos, psicologia e filosofia com um só intento: entender por que razão qualquer coisa maligna é mais poderosa e abrangente que qualquer coisa benigna. Como câncer, a coisa maligna se espalha, destruindo tudo ao seu redor, e, se não for erradicada a tempo por meios violentos, ela simplesmente come tudo até não sobrar mais nada.
Em cada religião, mito, filosofia ou ramo de psicologia que estudei, ou melhor, vivenciei, encontrei pessoas que me juraram de pés juntos que isso não é assim. Que o bem vence no final. Que tudo é para “o bem maior”. A maioria acena com lindos céus – post-mortem, é claro. E aprendi que é justamente por isso que todas as maiores religiões, filosofias e sei lá mais o quê deste nosso mundo, possuem tantos adeptos, prosperam e enriquecem seus líderes. Elas oferecem uma esperança, por mais longínqua, de retribuição.
O problema é que, na verdade, essa tal de vitória final do bem contra o mal, seja no que for, não interessa a mínima para o indivíduo. Você não consola um sobrevivente de uma chacina dizendo que tudo o que ele sofreu e perdeu foi “para o bem maior”, e que sua causa um dia vai vencer.
A menina estuprada e desfigurada pelo pai psicopata não vai se beneficiar em nada quando ele for preso – ela vai carregar as cicatrizes físicas e psicológicas para sempre, enquanto ele se diverte na cadeia, ileso, jogando cartas e batendo papo com outros detentos.
Uma esposa abandonada com cinco filhos para criar, sem dinheiro e doente, não vai se beneficiar em nada quando, vinte anos mais tarde, o marido felizardo finalmente morrer.
Quer dizer, essa tal de retribuição sempre chega tarde demais para quem precisa, e beneficia apenas uma segunda geração que, seguramente, vai repetir as mesmas maldades dos pais porque não aprendeu coisa nenhuma com o sofrimento dos seus antepassados.
Vamos e venhamos – não existe esse negócio de “sofrer para o bem maior”. O mundo não é composto por uma unidade chamada “sociedade”, mas sim por inúmeros indivíduos. E cada um desses indivíduos, cada ser humano, é, por si só, um Universo. Você pode fazer uma pessoa de exemplo para que outra aprenda algo, mas não pode mudar a realidade dela a não ser superficialmente.
Por agora você está pensando que sou amargurada e desiludida, e por isto penso dessa maneira. Bom – talvez você tenha razão. Contudo, o fato de você ter ou não ter razão não vai mudar coisa nenhuma. Você ter razão de que um Bem lá em cima protege os seus, não vai fazer com que o estuprador não estupre, o assassino não mate, o ladrão não roube. O “Bem lá em cima” não é uma capa protetora contra o mal, é uma crença que impede que você se desespere a respeito do mal. E antes que você julgue um sofredor, dizendo que ele sofre porque não acredita no seu ramo especial de crença, e por isto está fora da capa protetora do seu deus, pense outra vez:
Que deus seria esse, que abandonaria uma criança faminta, e protegeria um milionário pregador, só porque o milionário acredita, e a criancinha não viveu o suficiente para escolher acreditar ou não?
É isso mesmo. Esse tipo de divindade não é real. É mito. É capa protetora de quem crê.
Agora – você quer ver uma força que realmente protege os que precisam? Você quer justiça em uma realidade ensandecida? Bom – comece por não esperar que algum “Poder Maior” venha salvar o mundo. Qualquer Poder Maior vigente já proveu o mundo com toda a salvação que ele precisa.
Agora pare de ler isto, levante-se e olhe-se no espelho. Aí está a salvação do mundo! Não do Universo inteiro, mas do Universo que é cada uma das pessoas que estão a seu redor.
Você quer justiça? Seja justo. Você quer verdade? Não seja mentiroso. Você quer mitigar a dor física do mundo? Ajude os feridos e doentes físicos e mentais que estiverem ao seu alcance ajudar. Você quer que a mulher abandonada tenha ajuda? Não abandone sua mulher e seus filhos.
Tudo começa com você. E só depois disto você tem o direito de proteger a si mesmo com a capa de sua crença.
© Dalva Agne Lynch
Durante toda minha vida adulta, eu me dediquei a estudar religiões, mitos, psicologia e filosofia com um só intento: entender por que razão qualquer coisa maligna é mais poderosa e abrangente que qualquer coisa benigna. Como câncer, a coisa maligna se espalha, destruindo tudo ao seu redor, e, se não for erradicada a tempo por meios violentos, ela simplesmente come tudo até não sobrar mais nada.
Em cada religião, mito, filosofia ou ramo de psicologia que estudei, ou melhor, vivenciei, encontrei pessoas que me juraram de pés juntos que isso não é assim. Que o bem vence no final. Que tudo é para “o bem maior”. A maioria acena com lindos céus – post-mortem, é claro. E aprendi que é justamente por isso que todas as maiores religiões, filosofias e sei lá mais o quê deste nosso mundo, possuem tantos adeptos, prosperam e enriquecem seus líderes. Elas oferecem uma esperança, por mais longínqua, de retribuição.
O problema é que, na verdade, essa tal de vitória final do bem contra o mal, seja no que for, não interessa a mínima para o indivíduo. Você não consola um sobrevivente de uma chacina dizendo que tudo o que ele sofreu e perdeu foi “para o bem maior”, e que sua causa um dia vai vencer.
A menina estuprada e desfigurada pelo pai psicopata não vai se beneficiar em nada quando ele for preso – ela vai carregar as cicatrizes físicas e psicológicas para sempre, enquanto ele se diverte na cadeia, ileso, jogando cartas e batendo papo com outros detentos.
Uma esposa abandonada com cinco filhos para criar, sem dinheiro e doente, não vai se beneficiar em nada quando, vinte anos mais tarde, o marido felizardo finalmente morrer.
Quer dizer, essa tal de retribuição sempre chega tarde demais para quem precisa, e beneficia apenas uma segunda geração que, seguramente, vai repetir as mesmas maldades dos pais porque não aprendeu coisa nenhuma com o sofrimento dos seus antepassados.
Vamos e venhamos – não existe esse negócio de “sofrer para o bem maior”. O mundo não é composto por uma unidade chamada “sociedade”, mas sim por inúmeros indivíduos. E cada um desses indivíduos, cada ser humano, é, por si só, um Universo. Você pode fazer uma pessoa de exemplo para que outra aprenda algo, mas não pode mudar a realidade dela a não ser superficialmente.
Por agora você está pensando que sou amargurada e desiludida, e por isto penso dessa maneira. Bom – talvez você tenha razão. Contudo, o fato de você ter ou não ter razão não vai mudar coisa nenhuma. Você ter razão de que um Bem lá em cima protege os seus, não vai fazer com que o estuprador não estupre, o assassino não mate, o ladrão não roube. O “Bem lá em cima” não é uma capa protetora contra o mal, é uma crença que impede que você se desespere a respeito do mal. E antes que você julgue um sofredor, dizendo que ele sofre porque não acredita no seu ramo especial de crença, e por isto está fora da capa protetora do seu deus, pense outra vez:
Que deus seria esse, que abandonaria uma criança faminta, e protegeria um milionário pregador, só porque o milionário acredita, e a criancinha não viveu o suficiente para escolher acreditar ou não?
É isso mesmo. Esse tipo de divindade não é real. É mito. É capa protetora de quem crê.
Agora – você quer ver uma força que realmente protege os que precisam? Você quer justiça em uma realidade ensandecida? Bom – comece por não esperar que algum “Poder Maior” venha salvar o mundo. Qualquer Poder Maior vigente já proveu o mundo com toda a salvação que ele precisa.
Agora pare de ler isto, levante-se e olhe-se no espelho. Aí está a salvação do mundo! Não do Universo inteiro, mas do Universo que é cada uma das pessoas que estão a seu redor.
Você quer justiça? Seja justo. Você quer verdade? Não seja mentiroso. Você quer mitigar a dor física do mundo? Ajude os feridos e doentes físicos e mentais que estiverem ao seu alcance ajudar. Você quer que a mulher abandonada tenha ajuda? Não abandone sua mulher e seus filhos.
Tudo começa com você. E só depois disto você tem o direito de proteger a si mesmo com a capa de sua crença.