LIDANDO COM ESTRESSE E DEPRESSÃO

 
₢ Dalva Agne Lynch

 
 
 
Tenho lido ultimamente muitos depoimentos de amigos e familiares que estão passando por momentos de grande estresse ou depressão, e fiquei pensando o que tenho que poderia ajudá-los. Afinal, eu também estou passando por um momento assim, e vejo nisto não algo que me foi entregue por alguma mão divina ou demoníaca, mas sim o modo como o Infinito me tira de mim mesma para descobrir minhas próprias forças e fraquezas, e o que fazer para lidar com elas.
 
Então pensei nos muitos artifícios que tenho para superar ou suportar esses momentos de estresse e depressão.
 
Um desses meus artifícios é fazer algo simples, que me traga bons pensamentos. Não estou falando em sair e caminhar - afinal, enquanto você caminha, você fica remoendo todos os problemas. Não estou tampouco falando em ler um livro ou assistir a um filme, ou mesmo jogar um game qualquer, porque isto apenas faz você esquecer os problemas por um pouco de tempo, e depois tudo volta a cair em sua cabeça, às vezes pior do que antes.
 
Tampouco estou falando em fazer compras ou tomar um drinque, porque, no primeiro, o que se gasta apenas acrescenta mais um problema aos já existentes, e, no segundo, fica-se atordoado e ainda mais incapaz de se lidar com a vida.
 
Estou falando em tarefas que lhe façam remontar a momentos de sua infância, momentos de beleza, de paz, de alegria, antes que os primeiros problemas de crescer se tornassem sua realidade.
 
Para mim, uma dessas tarefas que me trazem boas lembranças é lavar roupas. Sim, lavar roupas! Explico:
 
Quando eu era bem pequena, minha família era pobre, e minha mãe lavava roupas à mão, no tanque de cimento. Minhas irmãs estavam na escola, e estávamos sozinhas na casa. Ela me colocava no chão da lavanderia, e me entretinha com as bonecas e sapinhos que fazia, torcendo uma fronha ou um pano-de-prato. Depois ela levava a bacia cheia de roupas limpas até o varal, e me colocava sentadinha na terra batida, para brincar com minhas panelinhas. Eu levantava os olhos para as roupas flutuando ao vendo, contra o céu azul ou cinza, escutando o silêncio da tarde. Era pacífico, belo, tudo-envolvente.
 
Hoje em dia, quando os problemas caem sobre mim, faço uma linha reta para a lavanderia. Nunca deixei que uma empregada ou outra pessoa cuidasse das roupas da família - esse trabalho é meu. E é só começar a separar as roupas em pilhas de cores, preparar o sabão em pó e o tira-manchas, e esqueço completamente o que me aflige. Estou de volta ao meu lugar de paz e silêncio, antes que a confusão do mundo se me tornasse real. O ruído sutil da máquina de lavar me acalanta, e só então pego um bom livro e me deixo absorver noutra realidade que não a minha. Afinal, a minha, agora, é de paz e silêncio.
 
Mais tarde, ainda que não haja um céu azul sobre meu varal, as roupas estendidas cheirando a amaciante, e o ruído da secadora, continuam a me envolver. Agora estou pronta a retornar ao que me aflige, porque vou pensar nos problemas não mais desde um lugar de confusão e espanto, mas desde meu lugar de paz e silêncio.
 
Amigo ou amiga, seja lá o que esteja causando seu tormento, sua depressão, procure dentro de si algum momento simples de sua infância, algum momento no qual você se sentiu seguro, envolvido em paz e beleza. Talvez um jardim, ou as areias de uma praia - então você pode replantar e regar seus vasos, podar suas plantinhas, e reviver o contato com a natureza daqueles momentos. Talvez você se lembre de brincar de casinha com suas bonecas - então ande pela sua casa, tirando o pó, afofando almofadas, rearranjando os móveis.
 
Talvez o que você recorde sejam tardes jogando bola com amigos e colegas - então que tal organizar as gavetas e armários onde guarda seu material de futebol, ou golfe, ou tênis, ou basquete? E enquanto organiza camisetas do seu time, chuteiras e caneleiras, você está de volta no campinho batendo bola, naquela época em que nada mais importava a não ser o jogo...
 
E quando terminar essas tarefas simples, amigo ou amiga, você estará pronto para voltar à sua realidade de agora, seja ela qual for. O peso dos problemas, das dissenções, das faltas e falhas, continuará o mesmo - mas você poderá lidar com tudo com mais paz e mais confiança. Sua visão do mundo não será a visão sem esperanças de um adulto, mas a visão cheia de espectativas de uma criança, que vê beleza em um varal de roupas, ou no campinho de uma partida de futebol...
 
Por que não experimentar?

Nota:

Depois de publicado este texto, recebi de Norália de Mello Castro o seguinte comentário, que complementa lindamente o que escrevi: 


"Sob muita tensão, não escrevo nada. Não consigo. E nem leio. Recolho-me à cozinha: invento pratos apetitosos, curto os legumes e frutas, faço um belo arranjo com frutas(adoro frutas). Se tem gente para saborear comigo o que foi feito, ótimo. Senão, monto uma bela mesa e vou degustando deliciosamente tudo que preparei... encontro Paz. Aí, reencontro de certa forma a infância, quando ainda brincava de casinha com um mundão de amigas... e me sinto renovada. Lavar roupas é uma grande bênção também. Mexer com água é um ótimo remédio."

Obrigada, Norália!

 
 
 
 
 
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 13/11/2012
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T3983881
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