Filosofia das folhas velhas

"...Ia às gavetas, entornava as cartas antigas, dos amigos, dos parentes, das namoradas, e abria-as todas, lia-as uma a uma, e recompunha o pretérito...Leitor ignaro, se não guardas as cartas da juventude, não conhecerás um dia a filosofia das folhas velhas, não gastará o prazer de ver-te, ao longe, na penumbra. Guarda as tuas cartas da juventude, direi que se tu guardares, acharás ocasião de cantar uma saudade..."

(Machado de Assis)

Às vezes vale a pena pagar o preço da nostalgia, passar horas e horas somente lembrando de tudo que se passou, das alegrias e tristezas, até deixar que uma lágrima faça um leve passeio pela nossa face. Fases da nossa vida que já se passaram, mas que ficaram gravadas, tanto na memória quanto nas cartas e fotografias. Sempre há um vestígio do passado que desperta, trazendo à tona tantas sensações... Começa bem simples: você pode está lendo aquele livro (que já leu milhares e milhares de vezes) de repente por entre as páginas encontra uma pétala de rosa, um bilhete de alguém especial, e tudo volta à sua mente. É um lapso comovente ver a vida pública da minha família estampada naquele velho álbum empoeirado, ver os primeiros passos dos meus irmãos, a juventude de minha avó, tudo que ficou pra trás e que só me dá a certeza de como fui feliz. Lembrar daquele velho e louco amor do passado, e só agora poder entender porque não pôde dar certo. Lembrar das velhas amizades e reler nas cartas todas aquelas palavrinhas: "amigas pra sempre". Eita paradoxo crucial é essa nostalgia, ao mesmo tempo que te traz a mente todas aquelas lembranças do que realmente foi bom, te faz sofrer e sentir-se triste por não poder de forma concreta voltar no tempo. Se queres um conselho, escreve uma carta para teu amigo, para tua mãe, teu irmão, teu amor...enfim! escreva. O prazer de o fazer a pulso ainda é mais gratificante do que fazer digitado, do que fazer um simples e-mail ou depoimento, escreve amigo, e um dia tu poderás dá a alegria de alguém tocar nas letras e sentir o papel.

Dinoélia di Cássia
Enviado por Dinoélia di Cássia em 14/10/2009
Reeditado em 07/07/2015
Código do texto: T1866420
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