O CARVÃO
Marcelino de Jesus
 
Qual o teu nome?
Carvão.
 
Para que tu serves?
Posso virar brasa e fornecer-te calor e luz.
Também posso assar o teu alimento.
 
O que tu eras antes de ser carvão?
Eu era tronco de frondosa árvore que dava flores,
frutos, sombra aos transeuntes e abrigo aos passarinhos.
 
E antes disto?
Uma pequenina semente plantada no seio da terra
para a qual agora eu devo retornar
na forma de cinzas, após ter cumprido
minha última tarefa e após ter aprendido
muito na minha longa jornada, humilde e
ignorado por todos.
Quando semente, tive que romper o solo duro
para poder nascer.
Quando arbusto tive que ser mais forte
que as pragas que me infestavam.
Quando árvore tive que enfrentar
as secas, os ventos uivantes,
os raios e as chuvas torrenciais,
os invernos rigorosos que levavam-me
todas as folhas.
Quando carregava-me de frutos
curvava-me ao peso deles e depois
via-os partir, um a um, e chorava pelos que caíam de mim
e apodreciam no chão, sem o devido aproveitamento.
 
Um dia um serrote inclemente derrubou-me
e os homens decidiram o meu destino.
Alguns dos meus irmãos caíram em mãos marceneiras
e viraram móveis de rara beleza.
Quanto a mim, fui lançado numa imensa fornalha
e passei pelo meu penúltimo batismo,
dentre tantos outros: o batismo de fogo!
Achei que, de mim, nada mais sobraria
e no entanto, eis-me aqui:
escuro, feio, sujo e maltrapilho.
 
Disseste penúltimo? E qual seria o último?
 
Renascer em forma de luz, brilho e calor
para servir-te ainda mais uma vez!
 
 
 
Descalvado - SP
13.08.2009
Grupo de Orações
Frei Antonio de Sant'ana Galvão
 
 
 
 
 
Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 14/08/2009
Reeditado em 29/08/2009
Código do texto: T1753059
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