FELIZ DE MIM (E DE VOCÊ)
 
Fátima Irene Pinto
 
Estacionei o carro, tranquei-o e saí correndo.
Era a minha hora no dentista e eu estava atrasada.
Enquanto estacionava, vi que uma flor nascida na sarjeta rebrilhava ao sol, num tom de laranja alegre e vivaz, contrastanto com alguns poucos raminhos verdes, tendo por fundo apenas o asfalto escaldante.
Era na verdade um matinho sem valor, um único arbusto florido num lugar árido e triste, mas que pareceu-me mais valioso que a tela de um pintor renomado, tal a alegria que, sozinho, ele estava transmitindo naquela paisagem tão sem vida.
Ao entrar no consultório fui informada que haveria um pequeno atraso.
Então voltei para o meu pequeno e solitário arbusto perto do carro e, sem cerimônia, sentei-me na calçada e deixei-me atravessar pela beleza das pétalas rebrilhando ao sol.
Afagando-as carinhosamente entre as mãos, eu disse:
 
- Feliz de mim
que tenho olhos para ver o seu esplendor.
- Feliz de mim
que, por sua causa, estou sentindo tanta ternura.
- Feliz de mim
que me permito assistir ao espetáculo pelo qual você nada me cobra.
- Feliz de mim
que compreendo que Deus se manifesta nos lugares mais inesperados ...
até mesmo na sargeta.
- Feliz de mim
que hoje a nomeio a deusa desta rua tão árida.
- Feliz de mim e de Você,
que não precisamos de nada nem de ninguém, nem de pompa nem de circunstância, muito menos de aplausos, para fazermos a nossa festa 
e entoarmos o nosso Louvor.
 
 
 
 
Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 12/03/2009
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1483639
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