HERANÇA TRÁGICA

Crianças enlouquecidas, na sua própria

loucura, há muito perderam o sentido do

lógico e do básico, abandonadas à sua

sorte, por pais viciados, deixando-as ao

revés, de um mundo em degradação,

onde apenas, as mais fortes, hão-de vingar.

Afecto não vem, que, a atenção, está

arredia, de seus pequenos corpos.

Então o mais certo, é que venham a seguir,

os passos degradantes, de uma vida, que,

desde tenra idade, se habituaram a ver e

a ter de conviver.

No cimo de uma enorme pedra, reivindicam

seu poder, junto das outras crianças, com

seringas nos bolsos, roubadas aos pais, seu

ceptro, enquanto reis do sítio, a meio do

lixo e da sujidade, olhar maquiavélico e frio.

E em chegando a noite, quais lobos esfaimados,

chamam-se umas às outras, por sinais, só a

elas reconhecidas. E, como que, qualquer

animal, procuram na noite, entre lixeiras, o

que comer ou vender, uivando alienadas, ante

a ameaça da lua, que lhes faz perder a razão,

num autêntico sindroma traumático.

Dia e noite, sempre o mesmo quadro. Por

onde quer que passem, traços, que não se

olvidam, fá-las ver, pais e mães, numa

absoluta miséria, já sem qualquer ligação,

com a realidade, não mais as reconhecendo.

Saindo dali em passo apressado, acharam

chegado o dia, e, pela muita aprendizagem

recolhida, souberam exactamente, o que

fazer, iniciando-se, também elas, no vício.

Finalmente tinham descoberto, o porquê,

de sua existência, cerrando fileiras, a

influências, dos que ajudar quiseram, tomando-os

como meros estranhos, a seu mundo, quem

sabe sem volta, mas unidas, por uma só

e trágica amizade, de laços inquebrantáveis.

Jorge Humberto

11/02/09

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 12/02/2009
Código do texto: T1435817
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