OUÇA!
Fátima Irene Pinto
Benditos sejam os que ouvem, não com ouvidos moucos,
mas com ouvidos despertos.
Benditos sejam os que ouvem atentamente, cheios de misericórdia.
Benditos sejam os que compreendem a urgência de uma fala improrrogável.
Benditos sejam os que intuem a premência de uma lágrima impreterível.
Benditos sejam os que não interrompem o fluxo de uma confissão.
Benditos sejam os que esvaziam-se de tudo para mergulhar num relato profundo.
Benditos sejam os que mostram com os olhos ternos que estão compreendendo, sem emitir uma única palavra.
Benditos sejam os que, além de ouvirem em silêncio, não se colocam como juízes.
Benditos sejam os que sabem emudecer, sem que a mente esteja elaborando uma resposta.
Benditos sejam os que compreendem a ocasião em que o silêncio é mais necessário do que qualquer conselho.
Benditos sejam os que, após ouvirem, apenas abraçam e seguram as mãos.
Porque, neste exato momento, há pessoas morrendo de fome,
morrendo na guerra, morrendo na hora ou antes dela.
Há pessoas morrendo por doenças reais ou carências concretas.
Mas também há pessoas morrendo por falta de quem ouça
- em silêncio profundo e com zelo sacrossanto -
aquilo que lhes transborda no coração.