TÃO MAJESTOSO ... TÃO ESQUECIDO!
Fátima Irene Pinto
Sábado de manhã.
Meus filhos acordam, abrem a janela para ver se tem sol e, vendo o dia iluminado, sorriem e fazem suas programações para o fim de semana.
Percebo que eles - como quase todo mundo - nunca se lembram de dizer:
obrigado, Sol!
Já a Lua é mais lembrada. Ela reina soberana entre os namorados, entre os que lidam com o plantio, entre as mulheres que esperam o parto ou as que aguardam o quarto crescente. Mesmo na Literatura há menções líricas incontáveis desta rainha noturna que tanto fala de amores e sortilégios.
O nosso astro-rei parece vir em segundo plano e é lembrado apenas em função de sua utilidade: sol para secar a roupa; sol para ir à praia; sol para garantir uma viagem mais tranquila.
É que o Sol tem uma natureza nobre e pode perfeitamente prescindir da nossa admiração ou gratidão. Com ou sem ela, lá está ele pontualmente todos os dias.
Mal começa a anunciar-se no horizonte e já põe a cantar toda a passarada.
Aos poucos vai dourando as folhas das árvores como se as bordasse com fios de ouro.
As flores o reverenciam e abrem-se completamente.
Elas recebem o beijo solar e retribuem num espetáculo de cores e perfumes.
O mar e as nuvens também sabem reverenciar o Sol e juntam-se para criar espetáculos que todas as nossas palavras humanas seriam incapazes de descrever com precisão.
Os frutos amadurecem e quanto mais Sol recebem, mais saborosos ficam.
Até os animais demonstram franca alegria pela manhã.
É a vida acontecendo. É o recomeço. É o ressurgir de tantas esperanças. É o novo alento para mais um dia de luta.
Ele é o criador das nuvens e das chuvas, é o articulador dos arco-íris e das auroras boreais.
Ninguém percebe.
Majestoso e esquecido lá está ele todos os dias.
Há pessoas como o Sol.
Elas aquecem sem esperar recompensa.
Elas vivificam porque sua natureza é vivificar.
Elas injetam alegria porque sua natureza é solar.
Elas criam belezas e, na gratuidade as oferecem, porque sua natureza é doar.
Elas iluminam porque sua essência é iluminar.
Às vezes são escondidas por nuvens espessas,
mas por trás das nuvens elas continuam a brilhar.
Há outras pessoas como a Lua.
Mudam de humor a todo momento.
Não têm brilho próprio e a luz que emitem só existe como reflexo do Sol.
São mais convidativas porque são amigas dos amantes.
Mais simpáticas porque lembram a hora do repouso.
Têm um brilho relativo que não chega a ofuscar.
Ser pessoa Lua é mais fácil, mais simples e mais humano.
Acho que todos nós, na grande maioria, somos lunares e porque não dizer, lunáticos em maior ou menor grau.
Ser pessoa Sol é bem mais difícil.
Há que se dar tudo de si sem nada esperar.
Há que se fomentar a própria vida e ficar no anonimato sem se fazer notar.
Quantas pessoas-sóis já estiveram na Terra!
Quantas ainda haverão de estar?
Mas outro dia penso ter ouvido um triste lamento na madrugada.
Pareceu-me o choro do Sol.
Disse-me ele:
- Mais um dia cumprirei o meu papel, darei vida à terra e aos viventes.
Por milhares de anos tenho estado só como Apolo e sua lira mágica.
Encanto os homens com a minha canção de luz e no entanto sou rejeitado pelo excesso desta mesma luz. Sou intenso demais. Nenhum humano pode sequer olhar-me diretamente e por isto não lhes inspiro poemas, odes, homenagens.
Consolei-o:
- Não chore, meu amado Sol. É preciso cumprir o seu destino com a nobreza e o desprendimento que lhe é próprio. Se assim não fora, você não seria o Sol.
Se você perder a sua luz e a sua alegria toda a humanidade vai se desesperar.
Se você deixar de nascer por um único dia, um imenso caos logo vai se instaurar.
E desde então, todos os dias quando a passarada começa a cantar e quando toda a Terra começa a dourar, eu abro meus braços a Leste e digo em voz alta:
seja bem vindo meu Sol!
Você é Deus em mim!
Você é Deus em nós!
PS - segue o link de uma Canção dedicada ao Sol por Di Capua e Capurro