PERDENDO A ARROGÂNCIA
 
Fátima Irene Pinto
 
Nasci num lar onde, pelo lado paterno, havia forte influência do catolicismo e, pelo lado materno, forte influência kardecista.
Criança, eu ía à missa e sentia alguma dificuldade em gostar das imagens ou das esculturas.
Elas me pareciam frias e tristes.
Preferia sempre o Sacrário porque lá ao menos se via uma chama permanentemente acesa, uma atmosfera de silêncio e de máximo respeito que, como criança eu não sabia o que era, mas fazia-me um imenso bem.
Aos 5 anos, levei um pito de minha mãe quando olhei para a escultura de Jesus e falei: está muito feio. Não se parece com Ele.
 
Sentia medo, em especial quando via logo na entrada da Matriz, um quadro gigantesco onde São Miguel Arcanjo calcava aos pés uma figura horrível, escura e diabolicamente assustadora para a visão de uma criança.
 
Por fim, no meio do catolicismo e do kardecismo, aos 16 anos eu já era completamente esotérica e, ao longo da vida, fui fundo nos livros que li e nas Confrarias que frequentei, mas nunca abracei nenhuma delas em definitivo e nunca fiz de nenhuma delas o ponto final. Ao contrário, cada uma delas foi apenas um degrau ou um porto, onde cheguei com meu barquinho, para reiniciar outra viagem em mares ainda não navegados.
 
Não preciso dizer a vocês que minha existência foi atropelada.
Sendo clara e objetiva, eu diria que o meu Kit-Sofrimento veio pesado demais, se comparado com os outros Kits que compuseram o todo de minha vida. Na verdade eu não gosto de falar Kit-Sofrimento. Hoje eu diria Kit-Aprimoramento.
Sim, aprimoramento, e bendigo todos os meus percalços ídos ou em haver, porque muito mais do que tudo que li e aprendi nos livros, nas confrarias, nas filosofias, foram eles (os percalços) que foram injetando luz, dando forma, fixação e sedimentação aos conhecimentos auferidos ao longo dos anos.
 
Até recentemente, quando me perguntavam que religião eu professava, eu me colocava como uma pessoa ecumênica, capaz de ver em todas as religiões, seitas ou filosofias, uma reverberação singular do "Grande Maestro" ou do "Supremo Arquiteto".
Soava até majestosa esta minha colocação, embora um tanto arrogante.
O verdadeiro ecumênico(a) é um ser que, não só já compreendeu tudo, como também foi capaz de elevar-se muitas "oitavas" rumo à pureza e à perfeição originais.
 
Hoje eu simplifiquei ou a vida me simplificou ... ou me despiu da arrogância.
E quando me perguntam que religião professo, respondo de um jeito sincero e até pueril:
- Estou tentando voltar pra "Casa" como a "Filha Pródiga" e fazer parte do "Redil do
Bom Pastor", mesmo sendo ovelha desgarrada.
 
Descalvado - SP
22.09.2008
Dedicada aos amigos
Osmar Ludovico e Isabelle
Ari Jardim e Mary Amélia
Linel Guimarães Maia

 
 
 
 
Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 23/09/2008
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1193106
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