MARATONA
Fátima Irene Pinto
Sonhei que estávamos numa grande pista em linha reta, cujo fim parecia demasiado distante. Parecia haver algo lá na chegada, mas não era possível definir com nitidez.
Muitas pessoas caminhavam a meu lado, à minha frente, atrás de mim. Algumas, em passos acelerados, outras correndo, outras arrastando-se, outras sentadas à beira da pista e outras tombadas no meio dela.
As mais afoitas passavam pelas outras abruptamente, derrubando-as, e vi que algumas vezes parecia proposital.
Notei também que, muitas pessoas paravam o próprio trajeto para dar as mãos às que estavam paradas à beira da pista, forçando-as a continuar. E outras que, mesmo exaustas, paravam momentaneamente o próprio percurso e se punham a prestar socorro às que haviam desfalecido.
Para cada lado da pista havia imensas arquibancadas, apinhadas de numeroso público que aplaudia as que passavam correndo e se colocavam na dianteira, vaiava as que paravam e atirava pedras nas que tombavam.
Onde será que estou? - Pensei.
Seria isto uma maratona, uma corrida olímpica?
Mas não dava para perder tempo pensando muito. Era preciso prosseguir e esta era a única certeza que tínhamos.
Conforme íamos nos aproximando da linha de chegada, percebemos que alí havia uma comissão avaliadora destinada à entrega da premiação.
Só que esta comissão parecia funcionar ao contrário: os premiados com lauréis não eram os que chegavam primeiro.
Estes eram compelidos a repetir o trajeto com a condição de fazê-lo calmamente, vivendo e apreciando cada etapa do percurso, independente dos aplausos ou das vaias do grande público.
Os que chegavam primeiro, após terem derrubado seus colegas, deveriam também recomeçar dentro dos parâmetros da solidariedade, olhando para os lados, dando as mãos aos que haviam desistido e levantando os que haviam caído.
Realmente, muitos eram os participantes, mas bem pouco os laureados, e para estes, havia uma cerimônia de raro esplendor.
Acordei, sentindo ainda na pele, todas as sensações do estranho sonho: uma maratona ao contrário.
Lembrei-me então de Lucas 13:30:
há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos.
Descalvado - SP
07.09.2008
07.09.2008