É ruim acreditar em Papai Noel?

No trabalho, ficamos sabendo de uma campanha iniciada pela empresa: "Venha ser o meu Papai Noel", a intenção era incentivar os funcionários a participarem de um ato solidário, apadrinhando algum órfão que tivesse escrito uma carta ao Papai Noel pedindo presentes. Meu chefe surpreendeu com essa declaração:

- Eu não participo dessa campanha!

- Por que não?

- Não concordo em manter essa farsa. Se eu pudesse dizer à criança que era eu quem estava dando presente, tudo bem, mas assim? Isso é uma mentira.

- ...

- O Natal, pra mim, nunca foi uma data festiva. Venho de uma família com sete irmãos, meu pai era pedreiro. O dia seguinte era muito triste. Ver aquelas crianças todas com brinquedos novos. A gente nunca tinha nada.

- Pois, pra mim sempre foi uma época muito feliz. Sempre gostei muito do Natal. - Respondi.

- Ah, você teve sorte. Depois fui crescendo e pensava nas crianças que não recebiam os brinquedos. Pô, que Papai Noel é esse que só da brinquedo pra uns e outros não? Isso machuca muito as crianças.

Bom, como escrevi acima, o Natal pra mim é uma época feliz. Confesso que não tinha do que reclamar, sempre ganhava presentes. Eram tempos mágicos, as festas de fim-de-ano, as férias, o verão, as reuniões familiares, as guloseimas, enfim, uma farra.

Na idade da pureza, tudo era muito colorido, a vida estava perfeita, as pessoas maravilhosas, não existia fome, miséria, doenças, guerras, mortes, violências, falsidades e malícias. A maldade era algo distante. E tudo ciceroneado pela figura do 'Bom Velhinho'.

A infância é marcada pela inocência. Os contos-de-fadas, têm importante missão na formação de caráter dos jovens, pois usam uma linguagem acessível ao seu intelecto. As mensagens de valores morais são recebidas de forma saudável, ensinando sem escandalizar, levando a maturidade de forma bastante leve, sem ferir a dignidade dos receptores. A magia que domina as mentes das crianças é um atributo necessário para que ela descubra e compreenda a vida de forma inteligível e suave. Os contos, as fábulas e histórias fantásticas, existem para que possamos desenvolver a criatividade, alargar os horizontes, despertar a curiosidade, solidariedade e sociabilidade.

No caso do Papai Noel, trata-se de uma lenda cristã, com fundo real, já que o mesmo existiu, era bispo em Mira, hoje Turquia, fabricava brinquedos e distribuía-os às famílias, para incentiva-los a festejar a data natalina. Concordo que há um exagero na exploração comercial do símbolo do Bom Velhinho, forçando as pessoas a focarem somente o lado material e sufocando a parte espiritual. Porém, acredito que as crianças tenham o sonho de vê-lo cruzando os céus, dando aquela risada característica e fazendo mágicas. Pra atestar isso, basta enxergar o brilho em seus olhos ao verem aquele senhor bonachão, de roupa vermelha, sentado nos shoppings tirando fotos.

Voltando ao meu diálogo com o chefe. Infelizmente, talvez influenciado por uma ideologia protestante, ele não tenha entendido o real sentido da campanha da empresa, e nem do Natal. Seu foco estava, exatamente, no que as outras pessoas possuíam e esqueceu-se do que tinha. A família, sua saúde, seus amigos, sua vida. Acho difícil que ele, enquanto criança, tenha a noção das faltas que descrevera, mas se for o caso, creio que seus pais perderam a oportunidade de lhes ensinar os verdadeiros princípios cristãos. Lembro que, certa vez, um primo queria brincar com meu carrinho, recém descoberto, eu, cheio de ciúmes, teimava em negar-lhe o brinquedo. Meu avô punha a mão em meu ombro e disse:

- Empreste, você terá o ano todo pra brincar com seu carrinho.

Palavras simples, as quais não esqueço até hoje.

Insisto que não há nada de errado em acreditar em fábulas, contos-de fadas ou Papai Noel, ao contrário, os princípios morais que as crianças aprendem com essas histórias são eternos. Além do mais, quem não se sente tocado com o olhar emocionado desses adultos do futuro?

M P Cândido
Enviado por M P Cândido em 17/12/2016
Reeditado em 17/12/2016
Código do texto: T5855987
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