O momento que vale por si mesmo
Quanto ao tempo precisamos ter extrema cautela para que o tempo seja usado para nobres reflexões. A leitura precisa ser agradável e não simplesmente para que o tempo passe rapidamente. Os desejos fazem parte da natureza humana repleta de escolhas e logicamente não podemos fazer com que o corpo pereça de tantos prazeres.
Nenhum ser humano tem a obrigatoriedade de viver de arte para viver bem e todos aqueles que vivem alegremente dançando até no abismo que é a própria vida mortal conseguem compreender uma ideia sem necessariamente darem apoio ao que dentro de determinados valores individuais é um absurdo. No que existe no mundo nada de muito secreto, os símbolos não compreendidos na totalidade de alguns indivíduos são apenas detalhes ainda não criados pelo ego. O certo é que o ceticismo tão natural no ser humano fez com que infinitas informações fossem criadas e diante tanta falta de fé dos acadêmicos temos apenas uma meta proposta aos escravos para que estudem para serem alguém na vida, até que saibam ao final da vida medíocre que levaram que foram enganados e a meta do conhecimento nunca será alcançada pelo homem.
Pregadores da morte é o que temos aos montes espalhados pela terra, ao meu ver mais parecem vermes rastejantes do que aquilo que me foi negado e eu desconfiava das promessas que me faziam. Com o amanhã de salvação chegamos desgastados, com o ontem como tradição para ser mantida seguimos como pessoas que conquistaram a cegueira após o meio da vida adulta e que tentam ensinar aos jovens sobre todas as paisagens que um dia foram observadas de uma outra maneira. Resta-nos é o hoje para que sejamos salvos pelo momento que vale por si mesmo, pelo momento que não queremos trocar apesar de que vamos substituindo momentos através de nossa infinita vontade de potência.
Chegaremos ao tempo moral de grandes loucuras em que iremos ter mestres no deserto pregando que a idolatria retira o poder dos livres pensadores, ao tempo que os mais simples do vilarejo irão ouvir como escravos aguçadas discussões em praça pública para que então não tenhamos mais a individualidade dos gênios sendo sufocada por bárbaros preconceituosos que carecem de argumentos e pregam que precisamos acabar com o preconceito através de campanhas silenciosas do contra. Quem aprende ler é lentamente que aprende e logo que chega na juventude universitária acredita que se enchendo de livros será mais sábio, a leitura ou qualquer atividade mental do ser humano é mais do que um caminho espiritual, é a fonte primária que quando é parte da natureza do indivíduo proporciona sonhos realizáveis e faz com que os velhos obstáculos sejam superados. Nunca deixaremos de desejar e os prazeres precisam ser adequados ao nosso estado físico, nunca iremos ser totalmente livres da loucura e em nossos exageros precisamos encontrar a chave que nunca é padronizada exteriormente.
Os valares foram por séculos de senhores para dominarem escravos e começaram a pregar uma defesa da minoria, o problema é que hoje temos uma minoria querendo implantar novos valores e a minoria que sempre discutiu a necessidade de uma desmoralização em prol do fim do preconceito moral continua sufocada, continua sendo a marca de um novo tempo que ainda não começou em sua totalidade. O que não compreendemos são valores humanos que quando compreendermos iremos querer transformar, o que compreendemos de nossa maneira estamos implantando no mundo até que naturalmente sejamos a ponte para que outros possam também fazer diferente até que façam a diferença, o que existe são valores humanos e a divindade quando é defendida por humanos não passa de valores humanos. A meta não serve de ponte por pressionar o jovem para que corra contra o tempo, a descrença não é o caminho por existir a necessidade de confiar no agora enquanto que o amanhã é sombrio sendo que no abismo podemos dançar, o medo não é o caminho enquanto que existe uma voz nos encorajando para que possamos sonhar enquanto que agimos pelos simples prazer da jornada.
Em minha infância de rebeldia me negavam o doce para que eu roubasse, em minha adolescência me escondiam a verdade para que eu ganhasse impulso na mentira, em minha juventude diziam que existia um prêmio caso eu assumisse um compromisso e então decidi pisar por cima de todos seguindo em frente para que o meu ideal permanecesse intacto, descobri que existe apenas a verdade de cada indivíduo em conflito e até confrontos com a sociedade, descobri que a vida precisa valer por si mesma e os momentos que aproveitamos são a marca da eternidade. O novo substitui o velho e se o sangue que não corre agora for guardado não será fonte de vida para quem não existe totalmente no amanhã. Temos a vela que nos deixa renovados e não podemos é ter o desgosto de apreciarmos aquilo que nos engole momentaneamente, a própria vida será engolida pela morte e no mundo invisível que todos acreditam de certa maneira resta apenas a dança das virtudes praticadas.
Escritor Joacir Dal Sotto