O espelho do que nos compõe
Quando estávamos sentados naquele velho banco em que o tempo parecia não passar e a alegria apesar de inconstante era apenas o reservar até que o sinal fosse dado nas margens do lago. Tínhamos desejos enquanto que se despedaçamos em prazer e quando vinham as estrelas já era tarde demais para que tivéssemos vontade de estar atrás delas. Antes mesmo da aurora chegar o nosso bom ânimo nos conduzia para um sono gostoso que nos deixava despreocupados com a marca do dia que tinha se passado.
Não tínhamos perfeição e em nossa imperfeição carregávamos diversos risos que até pareciam ser fonte de nossa ironia para quem nos via dançando na tempestade em meio ao inverno. As nossas palavras pareciam ser um discurso pronto que intercalávamos com o nosso profundo silêncio que nos levava para uma reflexão ainda mais voltada para o nosso mundo interior. Os loucos estavam no mundo e no meio desses víamos trabalhadores sendo levados para o leito por senhores que diziam possuir a chave da felicidade.
Misturávamos o certo com o errado antes mesmo de partirmos para novos horizontes com uma coragem que nos fazia enfrentar todos os leões que corriam pelos corredores do deserto. Os camelos libertamos em várias travessias e muitos outros tivemos que usar para nos alimentarmo-nos. Aos jovens que eram tão crianças servíamos de ponte e apenas quem não suportava a jornada se jogava ao rio sem o conhecimento para nadar de forma triunfal.
Dos textos prontos não trazíamos nada de muito empolgante e do que tinha que ser feito era toda a empolgação criada pelo que estávamos fazendo. A lei do mundo era a nossa lei e a nossa lei transformava-se na lei do mundo. Nos corações de inúmeros incompreensivos não colocávamos o fruto para que ninguém não suportasse tanto volume de conhecimento, tentávamos é colocar uma semente que servisse de um novo expirar mesmo que tanta força viesse para destruir o que proporcionamos aos nossos próprios corpos.
Em imensas possibilidades tivemos que escolher um único caminho e no caminho escolhido estava a proposta de novas escolhas. Nada mais era tão certo quanto o agora que constantemente queríamos repetir, que constantemente continuamos fazendo com um profundo gozo. Aquele momento em que sentávamos ao redor do lago se repetia por sempre estarmos nos trazendo o novo como experiência para intensificar o que envelhecia em nossos corpos.
Hoje sei que nos procuram e sabiamente já nos encontramos. Somos um eu sou elevado que dança no abismo e dança no paraíso. Temos o passado se refletindo no futuro e o poder da vontade sendo simbolizado em nosso olhar que está além do rebanho e dos pastores, e o poder da vontade sendo simbolizado em nosso olhar que é inigualável como o olhar de cada um que faz da sua maneira algo que ecoa sem parar de ecoar.
Escritor Joacir Dal Sotto​