A farda de quem é leve

Tentamos todos dias ligar os pontos fazendo com que os nossos trabalhos ou estudos sejam reconhecidos. Cantamos alegremente quando recebemos uma notícia boa e quando choramos de tristeza parece que as lágrimas geram feridas que jamais serão cicatrizadas. Buscamos por argumentos para que possamos provar aos outros que as nossas crenças são a verdade absoluta por nós revelada.

Por algumas vezes acreditamos que a morte está próxima e somos incapazes de dar um último abraço em quem é especial. Dançamos no abismo apenas quando estamos embriagados e na manhã seguinte ficamos aflitos após cometermos tantos exageros. Carregamos nos braços várias crianças sem ao menos confiarmos no próprio ego que serve de melhor apoio como exemplo do que o futuro adulto poderá proporcionar.

Repetimos palavras para que possamos esconder a fraqueza de vocabulário sem ao menos percebermos que o homem de conhecimento é o mais tolo entre os homens quando fala demais. Falamos tanto que a solidão é algo insuportável e permanecemos insistindo no erro de conviver com traidores que além de não nos compreenderem são fracos demais para contribuírem na realização de nossos sonhos. Deixamos de lado velhos sonhos colocando a culpa para as nossas fraquezas nas escolhas que um dia fizemos.

Naturalmente os pontos estão conectados quando fazemos o nosso melhor e não ligamos para o que os outros vão dizer, o estudo e o trabalho fazem parte da vida sem representarem a totalidade da existência em uma linha moral. O bem e o mal fazem parte apenas daqueles que não estão além do próprio ego, nas lágrimas e nos risos existem tantas opções que apenas quem não carrega consigo verdades absolutas consegue fazer algo digno para ecoar na eternidade. A crença defendida quando entramos em contato com a sociedade é apenas algo que vem para preencher a nossa ausência de potência.

A morte é tão próxima quanto é a vida, não podemos é deixarmos para depois o que poderá ser feito agora, não podemos é desvalorizar o agora em troca de uma salvação futura que certamente engole o presente que nunca mais irá retornar da mesma maneira. Os exageros dos verdadeiros pensadores nunca poderão ser levados ao nível das coisas sérias que nem são tão sérias quanto falam, é que o tombo na noite que não retira as possibilidades da continuação do ideal na manhã seguinte é apenas um impulso imoral para novamente moralizar de uma maneira altamente fértil, como que uma ponte para que os novos possam cruzar antes de construírem a própria morada. A criança enganada pelas constantes negações transforma-se no camelo que sempre tem uma farda para cruzar o deserto preconceituoso, a criança enganada pelo gato que finge ser leão talvez nunca tenha coragem de sofrer uma transmutação e tornar-se o mais feroz dos animais.

Nas reflexões profundas existe uma luz de que quanto mais profundos somos muito mais verdades absolutas somos capazes de afogar no rio das ilusões que em sua margem existem moradores que enxergam a vida passar sem nada fazerem para aproveitarem ao menos o agora. Não adianta nascer um querer de ficar em vez de partir por compaixão dos que ficam, é que os ficam deveriam ser levados apenas no coração após tanto se diminuírem aos nossos olhos tão soberanos de guerreiros vencedores que nunca desistem da guerra. As escolhas passadas são insignificantes quando somos capazes de fazermos escolhas ainda mais ousadas para que o sentido da vida seja apenas de uma batalha que irá entrar para a historia da humanidade.

Escritor Joacir Dal Sotto​

Joacir Dal Sotto
Enviado por Joacir Dal Sotto em 20/04/2015
Código do texto: T5213900
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.