O canto no paraíso do agora
Ainda que nenhum ser humano seja capaz de exalar o sentido perfeito de perfeição, é que a perfeição é uma condição moral, todos precisam buscar pela perfeição. O mundo é muito complexo para ser apenas um canto democrático da maneira que a nossa sociedade aprova, precisamos superar as barreiras de crenças não através de matanças, as barreiras da democracia e das crenças precisam ser rompidas é pela aberta discussão. Muitas mulheres e escravos sofrem não é pela liberdade concedida aos machistas ou senhores, mulheres e escravos sofrem é pela falta de vontade que vigora em ambas as castas.
Por mais que tentem igualar todos os seres dizendo que existe liberdade no preconceito moral, nunca teremos o fim ou o início da humanidade. O que temos são seres humanos potentes e impotentes, sábios ou tolos. A definição soberana da vida está em depositar todos os créditos no agora, todos os créditos em fazer sempre o melhor, todos os créditos em viver do alegre saber, mesmo que a vida seja trágica e exija de cada vivente muitas forças para superar a dor enquanto muitos obstáculos poderão ser superados.
Não tem como seguir um pastor que deseje aumentar o rebanho, o melhor pastor, seja divino ou terreno, é aquele que diz que “seja feita a tua vontade meu caro indivíduo”. Nascem dos templos sagrados um chamado para que os cânticos sejam no bosque enquanto que o santo ao retornar para o vilarejo seja capaz de dizer que todos são pecadores e um dia irão pagar por seus pecados. Os templos profanos talvez estejam infestados de desesperados que ainda não encontraram a luz que irá lhes fazer intensificar o presente.
Na imperfeição dos imperfeitos encontramos é costumes para serem desestabilizados e outros costumes para serem implantados, na perfeição do que é certo encontramos é o poder que todos possuem em questionarem todos os valores. No mundo temos vários cantos, vários horizontes, vários amores, várias possibilidades de dizer que o poder está em sacudir o mundo, seja o mundo exterior ou interior. Quando todos saberem que o que move o mundo são valores, mulheres e escravos encontrarão os seus valores enquanto que os valores de machistas ou senhores serão derrubados diante um conflito que naturalmente poderá gerar um nobre confronto.
A humanidade é uma única coisa chamada indivíduo que nasce, luta e morre, sendo que apenas o indivíduo que faz o seu melhor na crença de que é um gênio terá algo digno para fazer parte da historia que é presenciada por todos aqueles que dançam até o fim da existência. A potência vem dos sonhos que são realizados através das pequenas ações, a impotência vem da falta de coragem para enfrentar os valores estabelecidos pelo próprio ego do fracassado, o sábio vem da oscilação que chega em determinados pontos e é apenas um impulso de ida, os tolos defendem doutrinas sem serem capazes de criarem a própria doutrina nem que seja uma doutrina em meio ao deserto distante do vilarejo. O agora irá passar e o que não passará é o sentimento que guardamos diante daquilo que estamos fazendo, o alegre saber não nos tornará ressentidos por existir dentro de nós a escolha em servirmos de ponte para o novo passar, a vida é trágica e negar o agora para ser salvo pelo mestre divino do amanhã não é o caminho de quem deseja viver eternamente no sentido metafórico da palavra eternidade.
O maior ato de um novo mestre é dizer aos seus discípulos que se desfaçam do rebanho e construam a própria ponte para que outros possam cruzar. O pecado é ficar apenas na montanha acreditando que é o melhor para ser salvo, o pecado é ficar apenas no vilarejo apontando para os erros ou limitando os desejos tão soberanos que acompanham os valores de cada indivíduo, sendo que os verdadeiros valores de alguém são sempre a ponte para o novo. Não vamos ser tolos em gritarmos para que profanos entrem no templo sagrado e nem sábios que explodem contra si mesmos, vamos apenas dizer que existe o caminho escolhido pelo ego, vamos apenas dizer que existem sonhos para que causem sorrisos na jornada e não sonhos para quem quer o sacrifício em troca de um amanhã no paraíso.
Escritor Joacir Dal Sotto​