A lógica caminhada da vida
O jovem não precisa ter cuidado em ser sufocado ao ter que enfrentar o preconceito moral que vem com uma força para impedi-lo de experimentar aquilo que é negado pelo velho. Naturalmente tudo o que existe no mundo são valores demasiadamente humanos e o questionamento desses valores é possível diante uma experiência pessoal que não vem para retirar as forças quase que esgotadas dos velhos. Um jovem não precisa envelhecer e dizer que adora a humanidade enquanto detesta os seus semelhantes.
Por algumas vezes vemos no jovem uma vontade de seguir valores rebeldes para mostrar que é do contra ou que possui uma corda para se segurar e não correr o risco de cair antes do tempo. Repousa no caminho seguro muitas das inseguranças emocionais do que quase velho enquanto jovem, repousa no caminho inseguro muitas pregações de que o vingador divino exige sujeitos comportados no meio humano que metaforicamente é chamado apenas de passagem. Com a velhice se vai a juventude e quem nunca fez diferente enquanto era jovem tenta pregar que o mundo nunca muda.
Poderíamos arrumar desculpas para o fracasso e poucas vezes dizemos que o erro está em nossas próprias fraquezas. Na instabilidade do ego que é sempre egoísta não existe um tempo moral de jovem ou velho, o que existe é um ego imutável que se repete eternamente. A humildade que os fracassados cobram nos outros não passa de uma briga entre iguais, quem realmente está realizado e reconhece o próprio poder não precisa falar com os cordeiros que é alguém realizado que busca realizar muito mais.
Vejam que os melhores velhos que arriscaram são os mais fortes que continuam tocando o proibido pelo mundo exterior, que continuam proporcionando razões para que o jovem possa existir na sua melhor forma que talvez não seja repetida na totalidade até o dia de sua morte carnal. A transmutação dos valores faz parte daqueles que se integram em vez de julgarem, que impõe amor próprio em vez de trabalharem o ódio pelo semelhante. A magia do mundo não é gritar contra os opositores quando achamos aliados, a magia do mundo é seguirmos sem mestres que nos desviem do universo interior em prol de um mundo que nunca será ajudado na totalidade pelos caridosos.
A queda faz parte da subida, o desprendimento moral faz parte da reflexão que retira verdades que estão longe de serem absolutas, o sucesso é muito mais que uma jogada apenas espiritual. Não adianta termos crenças enquanto não temos amor pela própria causa e nos preocupamos demais com o que é exalado pelo vizinho, não adianta olharmos para o amanhã e sofrermos pelo passado sendo que o agora é um eterno problema. A mudança é sempre uma andança em círculos infinitos ao redor da fogueira em que a dança nunca acaba e quem não consegue mais dançar por muitas vezes inveja os jovens que dançam alegremente, que dançam de maneira mais proveitosa.
Olhar para si mesmo e rir de si mesmo, eis a essência da superioridade, eis a essência da inferioridade. O velho não é capaz de correr com as pernas e a corrida mental precisa ser aguçada, e a corrida emocional precisa ter um laço profundo com a espiritualidade mais insana possível aos olhos daqueles que precisam envelhecer para conhecerem que o fim é apenas uma tristeza insuperável. Os iguais se desigualam pelo simples fato de um buscar mais do que o outro, os diferentes se igualam pelo simples fato de serem humildes no sentido de estenderem a mão e partirem quando acharem necessário libertarem o rebanho que está aflito com o que virá após a partida do mestre ou após a chegada da morte que não passa da sequência do agora.
Escritor Joacir Dal Sotto​