A revelação dos sinos
Em muitos segredos guardados existe um medo bailando no ar de que o grande amor queira fugir ao saber da verdade. As canções que um dia animaram são parte de uma nova linha de transtornos. A paciência, apesar de ser a corrente que protege todo grande prazer, está quase acabando com os sonhos. Faltam loucuras, sobram bons costumes que de nada acrescentam ao que apenas o jovem consegue sentir.
Os sinos tocam e o toque que era pra ser no mesmo horário sofre atrasos, os sinos tocam e a morte ou alegria de quem está fora da capela em nada mudam. Uma legião de homens que se diziam sagrados deixaram outra legião de mulheres que se diziam humanas na mais completa carência afetiva. O mundo muda com o tempo e quanto mais gritos em defesa das minorias muito mais preconceito brilha no alto da montanha.
A mãe que cria o filho peca ao deixar de cuidar de si mesma ao ficar até tarde acreditando que seus erros irão salvar o filho que já é adulto. O aluno que pergunta demais coloca em dúvida o seu potencial e suga toda a paz exterior exalada por seu mestre. Quando pouco se sabe é melhor ouvir tudo calado, quando muito se sabe é melhor ser um bom modelo na passarela do que um chato diretor atormentando os artistas que estão no palco.
Na grandeza do amor não existem segredos que não possam ser revelados, o que existe é a entrega do corpo até que as emoções possam recolocar o corpo em uma nova morada. Os ídolos que cantavam deixaram de compor e o som exalado não entrou mais em sintonia com os pensamentos dos ouvintes que naturalmente se elevam diante da embriaguez mental, do prazer sem compromisso e da entrega de si mesmo para todas as entidades espirituais. Diante da tolerância que pregam existe um erro que poucos enxergam, pregar uma verdade é querer dizer que o indivíduo é o segundo plano de Deus e o primeiro plano de Deus está nos valores estabelecidos em épocas que já passaram diante aquilo que é tocado pelo jovem. O ganho está em perder, é que para ganhar torna-se fundamental atingir a totalidade do ser.
Quando os sinos pararem de tocar é que o povoado deixou de ir até a capela, quando os loucos quererem ajudar na capela é decretado oficialmente o fim de uma era. Muitos homens cantam e dançam embriagados após deixarem o interior do templo, as vezes ficam nos braços de outras mulheres, o que não percebem é que existe uma mulher especial lhe traindo ou sofrendo nas paredes de um quarto. A causa primária de um indivíduo é essencial que seja algo de dentro para ir ao encontro das coisas belas que estão por fora.
É naturalmente difícil ser sincero nas declarações morais que colocam em conflito o velho com o novo. O que não podemos deixar é de amar a mãe que protege o filho e descuida de si mesma por carecer de forças após uma vida de intensas batalhas. O que não podemos é deixar de ouvir mesmo que muitos tenham retornado assustados ao vilarejo diante dos absurdos demoníacos que viram dentro da caverna. O que não podemos é deixar de tentar atingir um estado interior satisfatório, mesmo que os sonhos e a realidade ainda não sejam a luz de um novo mundo.
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Escritor Joacir Dal Sotto