Sou professor, embora atue como administrador num campus do IF, nunca deixei de ser professor. Na verdade, essa deveria ser a minha formação primeira, mas indeciso e sem orientação alguma, embarquei na alegria da aprovação do primeiro vestibular e lá arrastei com a barriga um curso de 4 anos, por 9 anos; caso não tivesse passado num concurso para administrador, o diploma não teria servido de nada. Na verdade, só serviu para apresentar na posse do cargo, para mostrar que realmente eu era formado em administração, depois disso, se por acaso eu o tivesse colocado para reciclagem, até hoje não teria feito falta.
Junto com administração fiz por 2 ano a faculdade de psicologia. Sabiamente desisti sem a necessidade de ficar quase uma década achando que eu iria ser um psicólogo. Há pessoas que tem e que desenvolve o jeito, eu não tinha. No fundo, o que eu queria era ser professor. Até me empolguei com medicina. Talvez tivesse conseguido, mas, novamente, cadê um mentor? Não tinha. Papai morreu quando eu estava na oitava série, e para mamãe, se eu fosse um cobrador de ônibus ou carteiro, ela estaria realizada.
Por pouco eu não consegui minha vaga para o curso de história em 2005 na UFPB. Um amigo conseguiu, e o invejei muito. Eu também queria. Em 2006 passei em outro vestibular, o primeiro da UEPB no novo campus, em João Pessoa. O curso era arquivologia. Julguei que fosse algo chato e nem a matricula foi lá fazer. Hoje tenho uns conhecidos arquivistas e só os vejo trabalhando na maciota. Chega bate um arrependimento. "Poderia ter cursado...".
Em 2009, um projeto de extensão no IFPB, resolveu que nos daria orientação vocacional. Uma psicologa, servidora do Instituto era quem nos acompanharia. Minha esposa, na época minha namorada, também participou do projeto e lembra até hoje da "consultoria": "Você não vai chegar a lugar algum, toda a sua vida você servirá apenas de trampolim para outras pessoas". Acho que por isso que eu desisti de psicologia, se fosse para eu falar isso para pessoas, eu nem sairia de casa, mas cada um é que cada.
Nessa consultoria, a profissional perguntou o que eu pretendia fazer nos próximos seis meses. Eu disse que desistiria de administração e iria cursar matemática, compraria um opala e seria professor. Mas a profissional não colocou gelo no meu chop não, ela urinou no copo. "Ser professor não vai dar certo. Com o Opala eu vai gastar o meu salário todo em gasolina e para quê fazer matemática se você já era privilegiado em fazer um curso superior e ainda mais grátis..". Comi a corda daquele d'hiabo e me arrependo muito de tê-la ouvido. Tinha passado no vestibular para matemática e nem lá pus os pés, agido de acordo com os "conselhos".
Mais de uma década já se passou desde aquela destruição de sonhos. Minha esposa e eu somos técnicos em universidade, temos dois filhos, e hoje, estou na espera de um edital para professor aqui na cidade onde moramos, ou circunvizinha. Depois, quem sabe compro aquele Opalão! Quebrando de uma vez por todas aquelas maldições jogadas naquela sessão de consultoria vocacional dos infernos.