Roubaram as rodas da minha bicicleta-58
E roubaram as rodas da minha bicicleta! Isso mesmo. Para o ladrão não interessava a bicicleta completa, mas só as rodas. Pois bem. Talvez, o ladrão não soubesse, mas papai era investigador. E não sossegou até descobrir onde estavam as peças surrupiadas.
Papai saiu pela manhã, assim que percebeu o furto. Fez umas perguntas a uns e a outros e foi chegando na casa do suspeito. E chegou! Era um ladrão menor de idade. Um pivete. Tanto que papai não fez nada, só pediu as rodas de volta. E aqui começa uma história triste.
O homem com quem papai falou era o padrasto do rapaz, que morava com a mãe e uma filhinha. Ele , motivado por ciúmes, pouco tempo depois, assassina a esposa e a filhinha, não vou me estender nos detalhes hediondos.
O assassino foi preso e morreu no presídio após sofrer o que o senso coletivo sabe o que sofrem os detentos presos por tais crimes. O rapaz se perdeu nas drogas e não sei o que aconteceu com ele.
Esse é só um recorte do que acontecia em nosso bairro. Muitos jovens se perderam ou estão irreconhecíveis. Alguns dos que estudaram comigo ou estão presos ou já atravessaram para o Além. Hoje, eu vejo que eles já vinham de uma família estruturalmente destruída. Pais e mães alcoólatras, desempregados e filhos criados feito bichos soltos no mato.
Papai e mamãe, sempre que eu chegava com algo que não era meu, logo me interpelavam: "Onde você achou isso? Quem te deu?" E se a resposta não fosse convincente, eu tinha que devolver.
Antes de papai ser evangélico ele era alcoólatra e fumante. Mas tinha um detalhe, ele nunca me pediu para ir ao bar comprar sua bebida ou seu cigarro. Nunca nem me pediu o copo para beber a sua cachaça ou o fósforo para acender o seu cigarro. Se mamãe pudesse pegar, ele pedia a ela, senão ,ele mesmo ia e pegava. Mas nunca pedia às crianças. Acho que ele pensava que nos pedindo estaria nos fazendo achar normal e aos poucos também entraríamos no mundo do vício.
Graças a Deus ele se tornou evangélico e aprendemos a ética e a moral cristã numa época em que ser evangélico era algo que fazíamos por convicção e não por conveniência.