Os móveis das minhas lembranças
Já disse que minha família era bastante pobre e blá, blá, blá... Com isso não quero me fazer de vítima, até porque não é meu perfil. Mas relembro porque esse período foi responável por moldar grande parte do que sou hoje e negar o que vivi, seria negar eu mesmo. Esclarecido isso, estava pensando no que eu ainda não tinha falado sobre a minha infância, então fechei os olhos e fiz um exercicio de me visualizar em nossas antigas casas e bingo! O que eu vejo? Os nossos antigos móveis.
Para encurtar uma parte da história e já eliminando um "móvel" que era comum a todos os membros da família, vou falar do guarda-roupas. Cada um tinha a sua própria caixa de papelão! Isso mesmo. Os nossos primeiros guarda- roupas eram caixas de papelão. Hoje isso não daria muito certo, mas na época, era um sucesso. Quando alguém comprava uma televisão, ela vinha numa caixa que hoje caberia um pequeno carro, tipo o UP da Volkswagen.
A nossa geladeira era tipo aquelas da URSS. Era azul. Hoje, só vemos daquele modelo nos livros de história. Vou te contar. Aquela belezura devia ter já uns trinta anos de uso, e era uma máquina de fazer gelo. Aguentou o tranco de forma inimaginável. Lembro-me do dia em que papai e mamãe compraram uma geladeira nova. Era bege. Alta. Não fazia barulho. A antiga parecia um fusca dando partida. Mamãe tinha um ciúme da geladeira! Acho que eu só fui ter o direito de abri-la com uns dois anos de uso. Mãe era sempre foi radical com as coisas dela. Hoje, meu filho menor (três anos) abre a geladeria, fica pensando na morte da bezerra e fecha com uma batida na porta. Se eu fizesse isso, era capaz de ir dormir na casa do cachorro por uma semana. Mas eu entendendo Mamae. Hoje, se a nossa geladeira quebrar temos a facilidade de consertar ou então comprar outra. Naquela época, se quebrasse, estávamos condenados a beber água de pote pelos próximos dez anos.
O fogão era do time da geladeira. Era vermelho. Era velho mais tinha uma beleza nele. Hoje, as linhas de produções fazem todos os fogões no mesmo molde. Sai umas coisas quadradas, sem vida. Um fogão que só serve para cozinhar. O antigo fogão de mamae era um fogão bonito. Ele se fazia perceber. Como ja disse, era da cor vermelha, dava um charme à nosa cozinha, sala e sala de estar, que era tudo a mesma coisa.
A mesa de jantar e o armário de guarda a feira eram amarelos e feitos do mesmo material. Começou a dar cupins, mas isso não era impecilho algum. Nunca deixamos de comer na mesa e nem de guarda a feira no móvel. Ficava um cheirinho de veneno no ar, mas a gente já estava acostumado, já que todo dia pela manhã, Mamãe agoava a casa, que tinha vhão de barro, com Creolina para matar os bichos de pés que infestavam a nossa casa.
Cama? Que nada. A gente dormia era em redes. Papai e Mamãe que tinha um colchão meia boca feito de palha. O resto da família dormia em rede. Muito tempo depois, foi que nossos pais compraram um beliche para minha irmã e eu. Como eu me mexia muito, fiquei em baixo.
Mas os itens que mais me recordo eram as cadeirinhas que minha irmã e eu tínhamos. A da minha irmã era de ferro e a minha era de madeira, tinha até uma almofadinha. Quem tirou uma foto nela foi o meu sobrinho Valcir.
Esses eram os móveis de nossa casa. E a televisão? Bem, a primeira que me lembro era de tudo e a sua caixa era feita de madeira compensada. A imagem era preto e branco e me lembro de assistir Black Kamen Rider. Depois dela, passamos um período sem televisão. Pelo que me lembro eram esses os móveis que tínhamos em casa.
Depois as coisas foram melhorando, ai trocamos as cadeiras descadeiradas por um sofá usado de segunda mão e depois pelo sofá novo e amarelo. A geladeira e o fogão também foram trocados e com o tempo as coisas foram se ajeitando.
Mas nunca vi mamãe pressionando papai para que trocasse isso ou aquilo ou que algo estava velho e que queria algo novo. Por certo, mamãe bem sabia das nossas condições e não apurrinhava papai atrás de algo que era impossível no momento.
Sou grato a Deus pelo que tenho hoje e a família que estou construindo com a minha esposa, mas tenho saudade da época em que a nossa preocupação era... Na verdade, nem sei se eu tinha preocupação antes dos meus 15 anos.