Nunca corri de uma briga

Hoje eu sou um pacifista. Tanto por princípios quanto por necessidade de me manter vivo. Os princípios, fundamento-os no cristianismo e a necessidade de me manter vivo, é que hoje, uma simples trancada no trânsito pode te mandar para a terra dos pés juntos na mesma velocidade de um infarto agudo do miocárdio. Então, sou pacifista. Mas quando criança, não era muito, não.

 

Arrumei pelo menos quatro brigas que me lembro. E tipo, foram brigas que até hoje alguém ainda comenta. Como da vez em que peguei o Andrade dente de coelho e quase o dividi ao meio como Rambo fazia com os seus inimigos. Quando a turma percebeu que a minha intenção era pegar o infeliz e meter o meu joelho contra a sua coluna, começou a gritar para que eu parasse, e assim, a turma que aplaudia foi a mesma que evitou a tragédia. Se bem que, penso eu, que não seria um golpe tão fatal. Mas gerou medo na galera.

 

Outra vez, eu briguei com outro colega, o Fabinho. Ele era bem magrinho, o rodei pelos braços e ele se espatifou no chão. Se arranhou todo e foi para casa chorando. Nós tinhamos uns 11 anos. E nem sei porquê a gente brigou. Dia desses tive notícias dele e soube que estava foragido, acusado de meter bala em uns rivais.

 

Outra briga memorável foi contra Baixinho. Nunca soube o nome dele. Pela minha memória, parece que até a professora na hora da chamada o chamava de Baixinho. Ele era pequeno. Mas nem por isso deixamos de nos enfrentar. Ele foi mais esperto. Sabia que no mano a mano não teria muita chance contra mim, então partiu para a pedra. Ficamos de longe, um jogando pedra no outro. Depois de um tempo nos cansamos e fomos para casa.

 

Ja contei que uma vez briguei um meliante porque ele furou a fila do bebedouro. Era um malandrão que pouco tempo depois morreu na cadeia. Mas eu o coloquei no seu lugar, no augue dos meus inocentes treze anos. Depois eu caguei de medo quando ele disse que ia em casa pegar uma arma. Também tive que apelar e chamei meu pai e meu irmão, que por força do ofício só andavam armados também. Tudo se apazigou.

 

Alguém pode dizer: "Tu se confiava no teu pai!" Na verdade, a única vez em que apelei foi quando me ameaçaram com uma arma. Não era coisa de criança e mesmo eu sendo uma criança, tive essa compreensão. Já nas outras brigas, praticamente a gente saia de mãos dadas, reafirmando a nossa amizade e pedindo desculpas por termos nos machucados mutuamente.

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 03/09/2024
Reeditado em 03/09/2024
Código do texto: T8143327
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