Só a título de comparação
Quando eu era criança não fazia ideia do quão pobre a gente era. Havia muitos sinais. Mas eu não os ligava. Por exemplo, já contei que diariamente a gente recebia pão e sopa do governo, estávamos inscritos na lista da feirinha da igreja e tinha o irmão Pedro Davi que nos doava frutas e legumes toda semana.
Éramos pobres, mas não ficávamos pensando dia e noite em nossa pobreza. Diferentemente de hoje, onde pessoas que pouco tem ficam se exibindo para mostrar que possuem mais que os outros. Na minha infância e adolescência eu não tinha muito parâmetro de riqueza para me comparar. Meus amigos e colegas também eram pobres e quem a gente conhecia também era pobre. A régua nos media de forma igual.
Vim conhecer uma realidade um pouco diferente quando entrei na universidade. Pronto. Ali tinha uma galera rica. Frequentei a casa de um ou dois e vi que era outro mundo. Eu não sabia se sentava ou ficava em pé quando tinha que ir em suas casas fazer algum trabalho.
A gente era pobre, mas sempre fomos arrumadinhos. Já disse que mamãe tinha o lema "A limpeza Deus amou". E isso incluía os filhos. Sempre limpinhos. Nossas roupas podiam ser velhas, mas nunca sujas.
Lembro-me da vez em que meus pais compraram o nosso primeiro sofá. Era um sofá amarelo de dois e três lugares. Amarelo e bem fofinho. Era a sensação na vizinhança. Mas teve uma pessoa que não gostou tanto do nosso móvel novo.
Enquanto tínhamos uma tamboretes para se sentar, uma família amiga nossa nos visitava e uma vez por mês nos doava uma cesta básica. Mas quando viram o sofá novo da mamãe, nunca mais voltaram. O sofá nos fez entrar noutro patamar, o de pobres chiques. Mamãe gostava muito dele..Demorou muito para que ela tirasse o plástico protetor e o mesmo tanto até que nos ganhássemos o direito de se sentar nele. Para as crianças sempre tinha um tamborete.