Comprando pipoca no plano real
Alguém pode perguntar: "George, por que ti estás escrevendo tantas memórias?" É que meu HD já está ficando cheio e não quero correr o risco de me esquece de nada que no futuro possa explicar aos meus descendentes quem eu fui. Só por isso. Por exemplo, me lembro como se fosse hoje o dia em que o Real começou a valer.
Não me lembro porque eu, no auge dos meus sete anos tivesse algum interesse nesse fato histórico, não. Eu me lembro porque, sempre que papai vinha do banco, eu lhe pedia uma dinheiro para comprar pipoca. Ele sempre me dava. Era uma nota enorme, parecia uma folha de jornal. Mas não naquele dia.
Eu pedi um dinheiro para comprar um Pipos. Papai abriu a carteira e me deu a primeira nota de um real que eu vi na minha vida. Ele disse: "Compre uma pipoca e traga o troco." Foi meio confuso, numa tinha trazido troco na minha vida.
No mercadinho, coloquei o dinheiro em cima do balcão e pedi de pipoca. A atendente perguntou se eu ia abrir uma barraquinha. Não entendi. Ela foi lá dentro e trouxe-me um pacote fechado de pipoca. Desses que os atacadistas compram, e me entregou. Com um real eu comprei pipoca que dava para comer o ano todo. Quem não gostou muito foi papai que ficou sem o seu troco.
Fiz a festa das crianças da vizinhança, comemos todos os pacotes naquela mesma tarde. Mas também nem sei quando papai me deu dinheiro novamente, pelo menos em nota. Como escaldado te medo de água, ele só me dava dez centavos.