A família do meu amigo Leandro
Dos meus amigos de infância, Leandro é o único que tenho o ZAP. Vez por outra a gente se fala. Depois que sai dos Ipês, em 2006, só fomos nos encontrar em 2021, num enterro de um outro amigo nosso que perdeu a luta para as drogas e acabou assassinado covardemente.
Leandro trabalha como porteiro de um prédio há quase 20 anos. Teve época em que trabalhava em dois prédios e aí a vida era correria, porque além dos prédios ele ainda é professor de judô. Ele sustenta na cintura uma bela e merecida faixa preta e isso lhe dá autoridade para ser treinador em algumas escolas.
Leandro tem mais três irmãos. "Todo", que é o apelido de Lenílson, é professor de educação física e policial militar; Leonardo, o mais novo, é marceneiro, se eu não estiver enganado e Letícia trabalha num supermercado, é mãe de gêmeos e o seu marido trabalha num prédio com Leandro.
Seus pais são Manoel Darço e dona Glória. A família é do interior e vieram para a capital para morar na casa do irmão de Darço que tinha ido morar no Amapá.
Darço nunca teve um trabalho formal. Tinha o negócio de vender tamboretes. E vez por outra tirava as férias de alguém em algum prédio.as só isso. A vida nunca foi fácil. Muito pelo contrário, se tinha uma família que tinha tudo para dar errado e todos os filhos se perderem no mundo, essa família era a de Darço. Mas nenhum sequer cogitou em seguir o caminho da facilidade.
Comentei isso com meu amigo Leandro, uma vez. Da minha admiração por sua família. Pelos princípios que os seus pais haviam passado para os filhos e da decisão de todos em não se curvarem ao mal. Tivemos amigos que tendo bem mais condições e privilégios, se perderam e hoje endossam as fileiras dos cemitérios. Outro que tem uma ficha na polícia maior que rolo de papel higiênico, e olha que estou na falando do pacotão com oito rolos. Mas não os filhos de Darço e dona Glória.
Esse meu resgate não é para vangloria de terceiros ou para mostrar o quão bons eles são em comparação com outros, coisa e tal. Mas, de certo modo, mostra que a vida é feita de escolhas e os filhos de Darço escolheram ser pessoas dignas, decidiram lutar as suas batalhas sem destruir a vida de ninguém e construíram suas histórias batizadas em fortes princípios. E pode acreditar, na realidade em que nós crescemos, onde o mais fácil era pegar drogas e um revólver e ficar nas esquinas, Darço e sua família são mais que vitoriosos. Se tivéssemos mais pais como ele e doma Glória, o Brasil seria um país diferente.